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Literatura portugues


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2. HETERÔNIMOS DE FERNANDO PESSOA [14]

Não sei quem sou, que alma tenho./ Sinto crenças que não tenho./

Sinto-me múltiplo./...uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.” [15]
Os fragmentos da mensagem de Fernando Pessoa (datados de 1915) citados acima, revelam-nos a alma conflitante desse poeta. Um poeta que para se adaptar com sua instabilidade mental e com a diversificação do indivíduo que há dentro dele mesmo, criou personalidades diferenciadas entre si classificadas como heterônimos.

Para alguns críticos, como Antonio Quadros [16], devemos considerar esses heterônimos de Fernando Pessoa, pelo menos em dois planos distintos: o plano interior e o plano exterior.

No primeiro plano, há a busca do poeta pela resposta daquela pergunta original de todo homem: quem sou eu?/ que é ser eu?. Entretanto no segundo plano, é através dos heterônimos, “isto é, daquelas personagens que, sendo Pessoa, contudo não criam verdadeiras responsabilidades à sua personalidade escondida e ao seu perfil discreto” [17] que ele participa da luta pela mutação da cultura portuguesa.

Analisando a obra de Fernando Pessoa, percebemos que seus heterônimos não são tão independentes dele, como o próprio poeta afirma. Assim como Quadros, também notamos que ele se “esconde” atrás de sua despersonalização.

  No capítulo seguinte, faremos essa análise da atuação de Pessoa na sociedade portuguesa através de seus heterônimos e veremos alguns exemplos de textos deles que marcam a influência do próprio poeta "Fernando Pessoa". Entretanto, no presente capítulo nos concentraremos em esclarecer as origens dos heterônimos e em apresentá-los segundo o próprio autor.

  Em carta datada de 13 de Janeiro de 1935 a Adolfo Casais Monteiro, Pessoa divide a explicação da gênese de seus heterônimos em três partes: a parte psiquiátrica, a história direta dos heterônimos e a gênese dos heterônimos literários (a última de maior importância para nosso ensaio).

  Na parte psiquiátrica, o poeta afirma que a origem mental de seus heterônimos está na sua “tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação.” [18] Ele se assume uma pessoa histérica e trata a despersonalização como uma manifestação de sua histeria num aspecto mental, silencioso e explica que se ele fosse mulher essa manifestação histérica se romperia em uma explosão de ataques e escândalos. “Felizmente”, diz ele, “estes fenômenos...fazem explosão para dentro e vivo-os eu a sós comigo.” [19]

  Na segunda parte, Pessoa afirma que desde criança teve tendência em criar um mundo fictício em torno dele. Seus primeiros “conhecidos inexistentes”, ao seis anos, foram Chevalier de Pas e seu rival, cujo nome o poeta não se recorda. Como ele teve uma infância traumática e se mudou logo cedo para um país com língua e pessoas desconhecidas, percebemos que esses “amigos imaginários” passaram de uma brincadeira comum de toda criança de seis anos para uma solução para sua solidão, pois esses “amigos” nunca lhe saíram da memória, foram ganhando maior importância em sua vida, até que na maturidade surgem os heterônimos literários (assunto da terceira parte).

  Finalmente na terceira parte, Fernando Pessoa apresenta caracteristicamente seus heterônimos literários e, para facilitar a apresentação de cada um, reunimos todas suas informações que estavam distribuídas ao longo da carta. Com isso, tencionamos mostrar o quanto Pessoa se preocupou com os detalhes na construção de cada personagem. Essa preocupação com os detalhes das personagens é intencional, pois denota o intuito do poeta de  tentar esconder-se e anular-se. Em outras palavras, quanto mais complexos fossem seus heterônimos menos espaço sobraria para ele, Fernando Pessoa, ser ele mesmo.

ALBERTO CAEIRO nasceu em 1889 em Lisboa, mas viveu quase toda sua vida no campo, onde morreu tuberculoso em 1915. Seus pais morreram cedo. Não teve profissão e quase não teve educação, só teve instrução primária. Vivia de pequenos rendimentos com uma tia velha, sua tia-avó. Não era tão frágil quanto parecia. Tinha uma estatura média, cara rapada, era um louro sem cor e tinha olhos azuis. Escrevia mal o português. Era um poeta bucólico, de espécie complicada, usava de blasfêmia e era antiespiritualista. Sua primeira manifestação a Fernando Pessoa foi em 13 de Janeiro de 1914, quando, de uma só vez, escreveu Guardador de Rebanhos. Os dois heterônimos seguintes foram discípulos dele. Pessoa colocou nele todo seu poder de despersonalização dramática. “Aparecera em mim o meu mestre”. [20]



RICARDO REIS nasceu em 1887, no Porto, foi educado num colégio de jesuítas, era médico e desde 1919 vivia no Brasil (até 1935 – data da carta – ele continuava por aqui). Era só um pouco mais baixo que Caeiro, mas era mais forte e mais seco. Era um vago moreno mate e tinha a cara rapada. Se expatriou por ser monárquico. Latinista por educação alheia e semi-helenista por educação própria. Escrevia muito bem, melhor que Fernando Pessoa. Intensificou e tornou artisticamente ortodoxo o paganismo descoberto por Caeiro (seu mestre). Sua primeira manifestação a Fernando Pessoa foi em 1912, sem que o poeta soubesse. Fernando Pessoa colocou nele toda sua disciplina mental, vestida da música que lhe era própria.

ÁLVARO DE CAMPOS nasceu em 15 de Outubro de 1890, as 13:30hs., em Tavia. Era engenheiro naval (por Glasgow), mas na data da carta ele estava em inatividade em Lisboa. Era alto – 1,75m de altura (2cm a mais que Fernando Pessoa), magro e com tendência a curvar-se. Era entre branco e moreno, tinha a cara rapada, tipo vagamente de judeu português, cabelo liso e normalmente apartado ao lado, monóculo. Teve educação vulgar de liceu, depois estudou engenharia na Escócia, primeiro mecânica depois naval. Numas férias fez uma viagem ao Oriente onde escreveu o Opiário. Aprendeu latim com um tio que era padre. Escrevia razoavelmente, mas com lapsos de dizer “eu próprio” em vez de “eu mesmo”. Surgiu em oposição a Ricardo Reis, pois eram muito diferentes – apesar de também ser discípulo de Caeiro. Baseou-se em outra parte da obra de Caeiro, baseou-se inteiramente nas sensações. Fernando Pessoa colocou nele toda a emoção que não deu nem à sua vida, colocou o mais histérico de si.

Pessoa diz que “afirmar que estes homens todos diferentes, todos bem definidos que lhe passaram pela alma incorporadamente, não existem” [21] é impossível, pois esses indivíduos de sua vida interior convivem melhor com ele do que ele consegue viver com a realidade externa. Vamos, pois, a partir do próximo capítulo, analisar mais detidamente a personalidade contraditória deste inquietante poeta, para tentarmos compreender porque ele convive melhor com seus "eus" do que com as pessoas de carne e osso.



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