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Literatura portugues


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anol iir





  1. Dez horas da manhã; os transparentes

  2. Matizam uma casa apalaçada;

  3. Pelos jardins estancam-se os nascentes,

  4. E fere a vista, com brancuras quentes,

  5. A larga rua macadamizada.




  1. Rez-de-chausée repousam sossegados,

  2. Abriram-se, nalguns, as persianas,

  3. E dum ou doutro, em quartos estucados.

  4. Ou entre a rama dos papéis pintados,

  5. Reluzem, num almoço, as porcelanas.




  1. [65] Como é saudável ter o seu conchego,

  2. E a sua vida fácil! Eu descia,

  3. Sem muita pressa, para o meu emprego,

  4. Aonde agora quase sempre chego

  5. Com as tonturas duma apoplexia.




  1. E rota, pequenina, azafamada,

  2. Notei de costas uma rapariga,

  3. Que no xadrez marmóreo duma escada,

  4. Como um retalho de horta aglomerada,

  5. Pousara, ajoelhando, a sua giga.




  1. E eu, apesar do sol, examinei-a:

  2. Pôs-se de pé; ressoam-lhe os tamancos;

  3. E abre-se-lhe o algodão azul da meia,

  4. Se ela se curva, esguedelhada, feia,

  5. E pendurando os seus bracinhos brancos.




  1. Do patamar responde-lhe um criado:

  2. «Se te convém, despacha; não converses.

  3. Eu não dou mais.» E muito descansado,

  4. Atira um cobre lívido, oxidado,

  5. Que vem bater nas faces duns alperces130.




  1. Subitamente — que visão de artista! —

  2. Se eu transformasse os simples vegetais,

  3. À luz do sol, o intenso colorista,

  4. Num ser humano que se mova e exista

  5. Cheio de belas proporções carnais?!




  1. Bóiam aromas, fumos de cozinha;

  2. Com o cabaz às costas, e vergando,

  3. Sobem padeiros, claros de farinha;

  4. E às portas, uma ou outra campainha

  5. Toca, frenética, de vez em quando.




  1. E eu recompunha, por anatomia,

  2. Um novo corpo orgânico, aos bocados.

  3. Achava os tons e as formas. Descobria

  4. Uma cabeça numa melancia,

  5. E nuns repolhos seios injectados.




  1. As azeitonas, que nos dão o azeite,

  2. Negras e unidas, entre verdes folhos,

  3. São trança. dum cabelo que se ajeite;

  4. E os nabos — ossos nus, da cor do leite,

  5. E os cachos de uvas — os rosários de olhos.




  1. Há colos, ombros, bocas, um semblante

  2. Nas posições de certos frutos. E entre

  3. As hortaliças, túmulo, fragrante,

  4. Como dalguém que tudo aquilo jante,

  5. Surge um melão, que me lembrou um ventre.




  1. E, como um feto, enfim, que se dilate,

  2. Vi nos legumes carnes tentadoras,

  3. Sangue na ginja vivida, escarlate,

  4. Bons corações pulsando no tomate

  5. E dedos hirtos, rubros, nas cenouras.




  1. [67] O sol dourava o céu. E a regateira,

  2. Como vendera a sua fresca alface

  3. E dera o ramo de hortelã que cheira,

  4. Voltando-se, gritou-me, prazenteira:

  5. «Não passa mais ninguém! ... Se me ajudasse?! ...»




  1. Eu acerquei-me dela, sem desprezo;

  2. E, pelas duas asas a quebrar,

  3. Nós levantámos todo aquele peso

  4. Que ao chão de pedra resistia preso,

  5. Com um enorme esforço muscular.




  1. «Muito obrigada! Deus lhe dê saúde!»

  2. E recebi, naquela despedida,

  3. As forças, a alegria, a plenitude,

  4. Que brotam dum excesso de virtude

  5. Ou duma digestão desconhecida.




  1. E enquanto sigo para o lado oposto,

  2. E ao longe rodam umas carruagens,

  3. A pobre afasta-se, ao calor de Agosto,

  4. Descolorida nas maçãs do rosto,

  5. E sem quadris na saia de ramagens.




  1. Um pequerrucho rega a trepadeira

  2. Duma janela azul; e, com o ralo

  3. Do regador, parece que joeira

  4. Ou que borrifa estrelas; e a poeira

  5. Que eleva nuvens alvas a incensá-lo.




  1. [68] Chegam do gigo emanações sadias,

  2. Oiço um canário — que infantil chifrada! —

  3. Lidam ménages entre as gelosias,

  4. E o sol estende, pelas frontarias,

  5. Seus raios de laranja destilada.




  1. E pitoresca e audaz, na sua chita,

  2. O peito erguido, os pulsos nas ilhargas,

  3. Duma desgraça alegre que me incita,

  4. Ela apregoa, magra, enfezadita,

  5. As suas couves repolhudas, largas.




  1. E como as grossas pernas de um gigante,

  2. Sem tronco, mas atléticas, inteiras,

  3. Carregam sobre a pobre caminhante,

  4. Sobre a verdura rústica, abundante,

  5. Duas frugais abóboras carneiras.




Texto 122

FERREIRA, Maria Ema Tarracha. Introdução. In: O Livro de Cesário Verde. Lisboa: Ulisseia, s. d. p. 26-29.



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