Ana səhifə

Enfrentando nossos limites: Educação popular e escola pública


Yüklə 482.5 Kb.
səhifə7/19
tarix24.06.2016
ölçüsü482.5 Kb.
1   2   3   4   5   6   7   8   9   10   ...   19

A Proposta de Educação do MST12


Roseli Salete Caldart

A breve, mas intensiva, trajetória histórica do MST no campo da educação vem se desenvolvendo através de dois eixos complementares, às vezes tensionados, entre si: a luta pelo direito à educação e a construção de uma nova pedagogia. É da combinação de ambos que resulta o que se tem chamado de Proposta de Educação do MST, em torno da qual já conseguimos formular alguns princípios e algumas reflexões, que partilhamos a seguir:13



1. A educação que nós queremos/precisamos não acontece só na escola. É um processo bem mais amplo, que tem a própria dinâmica do movimento social como ambiente de aprendizados por excelência. Mas a luta pela escolarização dos sem terra é fundamental: além de se tratar de um direito de cidadania, representa a possibilidade do acesso a certos tipos de saberes que fazem efetiva diferença na formação/ educação onilateral de sujeitos da transformação social e da reconquista da dignidade humana.

2. Nossa luta é por escolas públicas de qualidade nos acampamentos e assentamentos de Reforma Agrária de todo país, com recursos do Estado e participação das comunidades e do MST na sua gestão pedagógica. Neste sentido, nosso trabalho se integra num movimento social maior de resistência ao desmonte da escola pública brasileira, e que tem sido desencadeado por inúmeras entidades e organizações, com as quais buscamos apoios e ações conjuntas. Vale acrescentar que neste movimento qualidade inclui quantidade, ou seja, enquanto em algum assentamento existirem analfabetos, ou crianças e jovens fora da escola, ou professores e monitores sem a escolarização adequada, não poderemos nos considerar fazendo uma educação de qualidade, por melhor que possa ser a pedagogia que ali estivermos desenvolvendo.

3. Trabalhamos por uma escola que assuma a identidade do meio rural. Quando insistimos na luta por escolas de 1° e 2°  graus nos próprios assentamentos, não estamos pensando apenas em facilitar o acesso a elas (o que um transporte escolar também resolveria). Estamos defendendo a possibilidade de uma escola que se vincule organicamente com a realidade do meio rural, ajudando nas transformações que ela exige. Não se trata de limitar o processo educativo a objetivos imediatos e locais: o desafio é a combinação entre uma formação ampla, crítica e aberta, e uma formação que ajude concretamente na inserção de estudantes e educadores nos processos de um novo tipo de desenvolvimento rural, que é exatamente o que a existência destes assentamentos projeta. Junto com isso está também a identidade ainda mais específica de escola de assentamento (ou acampamento), que significa assumir se como parte responsável pela continuidade da luta pela Reforma Agrária, participando de seus momentos importantes, cultivando a sua mística, ajudando a fortalecer a própria organicidade do assentamento, do Setor de Educação, do conjunto do MST. Esta especificidade tem a ver com um novo currículo, com a relação efetiva entre escola e comunidade, entre educação, produção, cultura, valores, e com uma formação adequada aos trabalhadores e às trabalhadoras desta educação.

4. Valorizamos as educadoras e os educadores. Acreditamos que do seu trabalho depende, em grande parte, a potencialidade da dimensão educativa das escolas que vamos conquistando. O processo é coletivo, mas alguém tem que dinamizá lo, segurar o animo diante das dificuldades, estudar as questões que lhe são específicas, manter viva a prática e a reflexão permanente sobre ela. Este é o papel de quem é chamado de educador ou educadora em nosso Movimento. Desde o início de sua história de educação, o MST tem priorizado a frente da formação de educadores, por entender esta importância e também por considerar que este papel não está dado. Somente com um processo sistemático de formação/re­educação é possível assumir uma proposta de educação como esta.14

5. Mais do que um princípio, um pressuposto fundamental: a nossa profunda crença na pessoa humana e na sua capacidade de formação e transformação. O MST é um espaço social de transformação das pessoas: através da luta coletiva, excluídos vão se tornando cidadãos. O processo através do qual um trabalhador sem terra, isolado, se transforma em "Sem Terra", ou seja, um trabalhador organizado num Movimento Social, e vinculado à classe trabalhadora, é um processo de formação por excelência. Simbolicamente, basta prestar atenção ao olhar deste trabalhador ou desta trabalhadora: o olhar, que antes não se desprendia do chão, aos poucos se eleva e é capaz de encontrar outro olhar, refletindo nele o brio de quem passou a acreditar que também pode ser sujeito da história; ou então a indignação de quem não admite mais ser "tirado da roda", e a autoconfiança de quem não se sente mais sozinho. A educação e a escola que pretendemos não precisam ser muito mais do que desdobramentos desta pedagogia viva.

6. Acreditamos numa educação que valorize o saber dos/as educandos/as. Crianças, jovens, adultos, pessoas mais velhas, todos têm um conjunto de saberes, uma cultura e uma história que precisam ser respeitadas e consideradas quando entram na escola. Da mesma forma que educadoras/es também as têm. Éesta a matéria prima do processo de produção de novos saberes, novos comportamentos, novos valores.

7. Queremos educar para a cooperação. Para o MST, a cooperação15 tem sido considerada um dos importantes instrumentos para se chegar a um novo tipo de desenvolvimento rural. Mas para desenvolvê la é preciso um processo prolongado e intencional de formação. Aqui a "pedagogia viva " do dia a dia acaba não sendo suficiente diante da cultura arraigada da propriedade privada e do individualismo que domina em nossa sociedade. E a história nos tem demonstrado de que não basta estudar ou conversar sobre cooperação. É preciso formar pela vivência de práticas cooperativas. Somente a participação concreta em formas (diversas) de trabalho cooperado poderá inserir nossas escolas neste grande desafio: ajudar a construir os valores, comportamentos, habilidades e saberes necessários à implementação de novas relações sociais em nossos assentamentos e no conjunto do meio rural.

8. Um currículo organizado com base na realidade e no seu permanente movimento. Isto implica em romper com pelo menos duas idéias tradicionais de currículo: a de que currículo é igual a lista de matérias ou de conteúdos e a de que currículo só diz respeito ao que acontece no espaço estrito de sala de aula, ou seja, nos momentos de repasse de conteúdos. Mesmo que se diga que é diferente, as práticas de avaliação costumam ser exemplo contundente de como é isso que de fato prevalece na maioria das escolas. Um currículo com base na realidade em movimento tem, entre outras, estas características:

• Envolve a constituição de um AMBIENTE EDUCATIVO na escola, promovendo múltiplos tempos e espaços de aprendizado e de ensino: aulas expositivas (nada contra elas!), estudo, pesquisa, trabalho produtivo, jogos, produções culturais e artísticas diversas, atividades comunitárias, momentos coletivos, momentos individuais, intercooperação entre turmas, entre escolas, assumindo a dinâmica das demandas do giro da história com a firmeza de um planejamento e de uma avaliação séria e cuidadosa de cada tempo ou situação pedagógica.

• Faz dos problemas e desafios dos assentamentos e acampamentos objetos de estudo e de ação na escola e através dela, produzindo conhecimentos com valor de uso social na realidade concreta. Nesta perspectiva, tanto os estudos e pesquisas como as ações a serem desencadeadas no assentamento ou noutro local devem integrar o currículo e, portanto, serem tratadas pedagogicamente.

• Socializa e produz informações e conhecimentos científicos. Para tratar em sala de aula das questões da realidade e não cair no espontaneísmo ou no lugar comum, é preciso garantir que sejam trabalhadas com ciência, isto é, mediando saberes de diversos tipos, origens e abrangência, sem sonegar informações e conhecimentos que estão em permanente criação e recriação pela humanidade. Não precisamos, neste sentido, ser contra as listas de conteúdo, desde que consideradas como apoio (lembretes sobre certos assuntos que não deveríamos deixar de socializar com alunos e alunas) e com a mobilidade necessária para permanente atualização e revisão.

• Desenvolve metodologias que centrem o processo pedagógico na "atividade objetivada ,16 dos/as estudantes, ou seja, em situações objetivas (reais) que provocam necessidades de aprendizagem e capacitam os sujeitos a resolver seus próprios problemas, com a iniciativa de buscar as informações e a ajuda de que precisam para isso.

• Cria novos tempos e novos espaços de relação pedagógica entre educadores e estudantes, sendo o ensino, ou seja, o momento de socialização/recriação dos conteúdos já produzidos pela humanidade, apenas um deles. O grande papel de educadoras e educadores é dinamizar o ambiente educativo da escola, ajudando os alunos e as alunas a perceberem os objetos ou as situações de formação que têm ao seu redor. Neste processo, o próprio ensinar pode não ser privilégio só de professor, mas também de estudantes entre si e de outros integrantes da comunidade.

• Abre espaço para a gestão democrática da escola e para a auto organização dos alunos e das alunas, também como estratégia pedagógica de formação organizativa e aprendizado de cidadania.

• Desenvolve processos de avaliação condizentes com o conjunto das dimensões trabalhadas neste tipo de currículo, estabelecendo formas cooperativas e democráticas para isso.



9. Criação de Coletivos Pedagógicos. Uma das lições da nossa prática é a de que a transformação da escola não acontece sem a constituição de coletivos de educadores. Um educador ou educadora que trabalhe sozinho/a, jamais conseguirá realizar esta proposta de educação, até porque isso seria incoerente com o processo coletivo que a vem formulando. São precisos coletivos para pensar a continuidade da luta por escolas em condições adequadas, para organizar a Equipe de Educação do assentamento ou acampamento, para planejar as formas de implementação das mudanças no currículo, para refletir sobre o processo pedagógico, para estudar, para planejar e avaliar as aulas, para continuar sonhando e recriando esta proposta. Em cada local o desafio é o de encontrar a melhor forma de constituir e fazer funcionar estes coletivos.

10. Uma educação que (se) alimente (d) a UTOPIA. "Há que fazer alarde e despertar os sonhos de nossa mocidade antes que seja tarde. ,17 Nós concordamos. De nada adianta, para nossos objetivos maiores de transformação social, lutar por escolas e construir uma nova pedagogia, se isso não for inscrito num projeto de futuro e não ajudar a construir, nas novas gerações, a utopia e a convicção na possibilidade de mudanças. Isto tem a ver com a intencionalidade da formação política e ideológica, bem como com a inclusão de atividades curriculares que trabalhem a sensibilidade e os valores ligados a esta utopia. O próprio vínculo da escola com um movimento social é alimento para esta dimensão. Mas é preciso incluir permanentemente esta preocupação nos coletivos pedagógicos, no sentido de encontrarmos as melhores formas de fazer isso no cotidiano de cada uma de nossas frentes de trabalho educativo. Em muitos momentos da história do MST, o sonho tem sido um dos seus principais motores. E ampliar o número dos que sonham juntos é também tarefa de todos nós.

11. Um princípio de ação: enquanto seguimos a luta pelos nossos direitos já começamos a trabalhar com eles, e os valores que trazem embutidos. Sabemos que ainda estamos muito longe de ter em cada uma de nossas escolas a realização plena da pedagogia que defendemos. Mas também sabemos que o giro da roda depende às vezes de movimentos fragmentados, imperfeitos, de saltos e sobressaltos. O mais importante é multiplicar as iniciativas e os lugares onde elas aconteçam, sem a preocupação com modelos mas sim com a construção coletiva de alternativas.
1   2   3   4   5   6   7   8   9   10   ...   19


Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©atelim.com 2016
rəhbərliyinə müraciət