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Literatura portugues


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Leitura do Eurico


[19] Ler, nos nossos dias, o Eurico não é tarefa fácil: trata-se de uma obra que perdeu muita da capacidade de cativar o leitor, em parte porque o gosto literário é hoje muito diferente do que era há cem anos, em parte também porque a obra não patenteia a frescura e a acutilân­cia crítica que ainda reconhecemos nas Viagens de Garrett ou nos romances de Eça.

Isso não quer dizer que não seja possível encontrar nela motivos de valorização crítica, sobretudo se soubermos distinguir (sem as isolar por completo) directrizes de leitura específicas. Referimo-nos, em primeiro lugar, às que o próprio Herculano explicitou; em segundo lugar, às que o perfil discursivo e temático da obra pode sugerir; finalmente, às que os leitores da época configuraram, lendo o romance como mais lhes convinha.

É no prólogo que Herculano enuncia algumas pistas de leitura que, se bem que importantes para a compreensão do Eurico, não devem, no entanto, ser adoptadas de forma linear; de facto, nem sempre os escritores encontram a melhor interpretação para o texto que conce­bem, sabendo-se que, saído das suas mãos, ele pertence sobretudo à criatividade das leituras que o apreendem. Ora o prólogo do Eurico procura estabelecer orientações em nosso entender demasiado restriti­vas, tendo em conta as potencialidades semânticas e genericamente culturais que a obra evidencia. Para o seu autor, tratar-se-ia de uma espécie de romance de tese, destinado a desmistificar a «irremediável solidão da alma a que a igreja condenou os seus ministros, espécie de amputação espiritual, em que para o sacerdote morre a esperança de completar a sua existência na terra»; perfilhando uma concepção da mulher como entidade angélica («E porque não seria ela na escala da criação um anel da cadeia dos entes, presa, de um lado, à humanidade pela fraqueza e pela morte e, do outro, aos espíritos puros pelo amor e [20] pelo mistério?»), Herculano parecei deste modo, reduzir o Eurico a uma postulação da problemática do sacerdócio enquanto solidão for­çada e mutiladora da plenitude afectiva do indivíduo. Tudo isto, note-se bem, sem que no romance se manifestem preocupações muito intensas de análise social, tal como as encontraremos, por exemplo, no Crime do Padre Amaro, de Eça, em que a situação do padre é observada por uma óptica completamente diversa.

Sem prejuízo das sugestões que o prólogo discretamente avança, o Eurico é susceptível de uma leitura de certa maneira mais profunda e englobante, nomeadamente tendo em conta as suas linhas de força temáticas, os seus fundamentos ideológicos e a sua construção narrativa. Dominada pela figura do presbítero Eurico, a história apre­senta-nos fundamentalmente o drama existencial de uma figura que em si concentra as marcas inegáveis do herói romântico; personagem complexa por natureza, normalmente dividida pelos conflitos que cor­poriza, o herói romântico é, pois, irredutível à vivência de uma problemática isolada, por hipótese, a condição do sacerdote. Para se ver que não é assim, basta lembrar que, quando a história se inicia, o sacerdócio é apresentado não como destino central e absorvente de um ser, mas como consequência de eventos que o antecedem. Deste modo, o trajecto do protagonista ao longo da acção pode ser equacionado em função do desejo de Absoluto que afecta, em princípio, o herói român­tico, desejo esse traduzido na busca de sucessivos ideais: o de amor, antes de mais, o de religião, logo depois, finalmente o de pátria.

Falar em ideal de amor, a propósito do Eurico, é remontar à origem dos conflitos que o herói interpreta no romance: fascinado por Hermengarda, o jovem gardingo vê as suas pretensões frustradas por força de impedimentos de ordem material, justamente os que mais violentamente ferem o idealismo romântico; vale a pena evocar os termos em que Eurico recorda a destruição do seu ideal de amor:
Porque não adormeço eu, como o rude barqueiro, ao murmúrio das vagas sonolentas, ao sussurro da brisa do norte?

Porque mulher bárbara não entendeu o que valia o amor de Eurico; porque velho orgulhoso e avaro sabia mais um nome de avós do que eu, e porque nos seus cofres havia mais alguns punhados de oiro do que nos meus.

As mãos imbeles de uma donzela e de um velho esmagaram e [21] despedaçaram o coração de um homem, como os caçadores covardes assassinam no fojo o ledo indomável e generoso.
Deste modo, o sacerdócio surge como tentativa de superação desta crise, desviando-se, pois, a energia vital do herói para a dedicação à causa do Cristianismo. No entanto, mesmo assim não se concretiza ainda o anseio de Absoluto desde sempre perseguido, em parte porque o perfil temperamental do presbítero o impede, em parte porque cir­cunstâncias que lhe são estranhas para isso concorrem também.

Tenha-se em conta, antes de mais, que o presbítero de Carteia funde a sua missão pastoral com a condição de poeta. E esta, configu­rada sob uma óptica romântica, talha a personagem para a solidão e o isolamento que o tornam uma figura estranha aos olhos dos que o rodeiam: por isso se diz que «o povo rude de Carteia não podia entender esta vida de excepção, porque não percebia que a inteligência do poeta precisa de viver num mundo mais amplo do que esse a que a sociedade traçou tão mesquinhos limites». Por isso, os refúgios predi­lectos de Eurico são os píncaros dos montes, o sossego da noite e a imensidão do mar, espaços sintonizados com a peculiaridade emocional do ser excepcional que o presbítero constitui.

Por outro lado, o ideal de religião é frustrado também pelas circunstâncias históricas que enquadram a história de Eurico. Na Espa­nha invadida pelos infiéis, Eurico vê no bispo Opas, seu superior hierárquico, não só a traição que ameaça a independência política, is sobretudo o renegar dos valores do Cristianismo a que votara o sacerdócio.

Daí que a luta pelo ideal de pátria tenha que ver directamente com esta situação. E aqui abrem-se duas vias de reflexão autónomas: por um lado, o envolvimento de Eurico no combate com os Árabes represent­a activação da consciência cívica e política do herói romântico, até certo ponto uma sublimação do empenhamento social de que a época romântica conheceu não poucos exemplos: Herculano batendo-se pelo Liberalismo português e Lord Byron morrendo pela independência da Grécia são disso exemplos indesmentíveis. Por outro lado, ao localizar a acção do Eurico na época da invasão muçulmana, Alexandre Herculano novamente privilegia um período histórico sus­ceptível de facultar ensinamentos ao presente: porque um tempo de crise de valores e de ameaças à liberdade podia levar a reflectir acerca [22] dos perigos que a conturbado sociedade portuguesa da primeira me­lada do século XIX ainda não conseguira eliminar do seu horizonte.

Ao que ficou dito há que acrescentar que a configuração com que Eurico se apresenta ao iniciar esta terceira etapa do seu percurso vital favorece a sua condição de herói romântico:
Neste momento, por uma das pontes já desertas lançadas na noite antecedente sobre o Chrysus soava um correr de cavalo à rédea solta. Alguns soldados que andavam mais perto da mar­gem volveram para lá os olhos. Um cavaleiro de estranho aspecto era o que assim corria. Vinha todo coberto de negro: negros o elmo, a couraça e o saio; o próprio ginete murzelo: lança não a trazia.
No momento mais aceso da batalha de Chrysus, Eurico faz a sua aparição sem revelar a identidade; e tanto o seu aspecto exterior, como o mistério que o envolve, como ainda o facto de trazer consigo a morte que espalha nas hastes inimigas, todos estes elementos contri­buem decisivamente para acentuar o recorta excepcional que caracte­riza, na economia da acção, o protagonista da história.

A morte de Eurico está em perfeita conjugação com a sua dinâmica de herói romântico. Colocado perante a irreversível frustração dos seus ideais e finalmente atormentado por um conflito insuperável («E tudo isto se contradizia, se repelia, se condenava, o amor pelo sacerdócio, o sacerdócio pelo amor, o futuro pelo passado; e aquela alma, dilacerada no combate destes pensamentos, quase cedia ao peso de tanta amargura»), a Eurico só resta aquilo que é praticamente o suicídio, ao receber das mãos de Muguite o golpe que o aniquila. Porque, para não abdicar dos seus ideais (que é aquilo que faz o Carlos-barão do final das Viagens), ao herói romântico só resta a destruição, espécie de redenção para uma existência sobrecarregada de energia e incompreendida pelos códigos de conveniências que o rodeiam.

De certo modo, também Hermengarda tem um fim idêntico. Tam­bém ela permanecera fiel a um amor que normas sociais inaceitáveis pela personagem romântica tinham interditado; por isso, a loucura acaba por corresponder a uma espécie de morte afectiva e espiritual, justamente depois de se verificar que o sacerdócio de Eurico, por força [23] do celibato a que obriga, afirma-se como obstáculo idêntico às mencionadas normas sociais.

Se do plano das dominantes temáticas e do devir da acção passar­mos ao da configuração técnico-discursiva verificaremos que, também neste domínio, o Eurico constitui uma obra de recorte inegavelmente romântico. Com efeito, a sua construção reflecte o posicionamento que tantas vezes o escritor romântico assumiu em relação a problemas concernentes à criação literária, como seja o dos géneros literários; preocupado em afirmar a cada momento as prerrogativas da sua liberdade artística, o escritor romântico dificilmente se conforma à imposição de normas literárias rígidas, distanciando-se assim das con­cepções dirigistas e dogmáticas que tinham presidido à literatura do período neoclássico.

Não se estranha, pois, que, a exemplo do que aconteceu com Garrett, também Herculano sinta alguma dificuldade (uma dificul­dade, diga-se de passagem, assumida sem constrangimento) em determinar o género em que se enquadra o seu texto; «crónica-poema, lenda ou o que quer que seja», diz-se no prólogo, acrescentando o escritor numa nota: «Sou eu o primeiro que não sei classificar este livro; nem isso me aflige demasiado. Sem ambicionar para ele a qualificação de poema em prosa — que não o é por certo — também vejo, como todos hão-de ver, que não é um romance histórico [...]». E se hoje perfilha­mos, para o Eurico como para O Monge de Cister ou para O Bobo, a classificação de romance histórico, tal deve-se não só a conveniências de ordem metodológica, mas também ao facto de, mesmo contra a vontade expressa de tantos escritores românticos, a rebeldia a normas ter acabado por gerar alternativas que, elas também, finalizaram por se cristalizar em géneros discursivos relativamente definidos.

Como quer que seja, o que agora importa observar é que a peculia­ridade técnico-literária do Eurico deve-se, antes de mais, ao facto de nele confluírem procedimentos de narração diferenciados. Assim, o Eurico constitui, na maior parte dos seus capítulos (I-III e IX -XIX) uma narração de tipo heterodiegético, ou seja, formulada por um narrador alheio à história e perfilhando em relação a ela (com mais força de razão se tivermos em conta a época em que se situa a acção) uma atitude de transcendência: trata-se de pintar o vasto cenário histórico em que se desenrolam movimentações de dimensões conside­ráveis (batalhas, intrigas políticas, cavalgadas, etc.), as quais ao [24] mesmo tempo servem de pano de fundo e de motivo de envolvimento na acção por parte do protagonista Eurico.

Já nos capítulos IV a VII é completamente diferente a configura­ção do discurso; é o próprio herói que enuncia uma série de considera­ções, de pendor acentuadamente intimista e confessional, através das quais se percebem os fundamentos da sua solidão afectiva, bem como as preocupações que o atormentam, perante o estado de decadência a que chegou o império de Espanha:
Hoje, nos paços de Toletum só retumba o ruído das festas, os Francos e os Vascónicos talam as províncias do norte, e a espada dos guerreiros só reluz nas lutas civis.

Hoje, os príncipes na embriaguez dos banquetes esqueceram-se das tradições de avós; esqueceram-se de que era aos capitães das hostes da Germânia que os Romanos imbeles davam o nome de reis.

Hoje, a prostituição entrou no templo do Crucificado, os claustros das catedrais velam com o seu manto de pedra as abominações da torpeza, e as mãos do sacerdote deixam muitas vezes humedecida a tela que veste os altares com vestígios do sangue derramado covarde e vilmente. [..]

Império de Espanha, império de Espanha! porque foram os teus dias contados?


Finalmente, numa passagem relativamente breve (capítulo VIII) o Eurico reclama-se também do estatuto da narrativa epistolar: trata-se das confidências e dos temores trocados entre o protagonista e o Duque de Córdova, as quais, aparecendo no corpo da obra sob a forma de cartas, constituem uma espécie de factor de verosimilhança adicional: porque recorrer ao testemunho da carta é, de certa forma, lançar mão de uma espécie de documento envolvido por uma aura de autenticidade e capaz, por isso, de transmitir ao relato uma conotação de verdade histórica.

A tudo o que ficou já dito, há que acrescentar ainda algumas considerações ligadas a uma última, mas não menos importante, directriz de valorização da obra. Referimo-nos à problemática da recepção do Eurico, isto é, à projecção sociocultural de que o romance beneficiou na época em que foi publicado e mesmo depois dela; [25] trata-se de um aspecto relevante, sobretudo se tivermos em conta que o tim­bre dessa recepção tem muito que ver com a evolução do gosto român­tico em Portugal e com o desenvolvimento da literatura ultra-român­tica.

Vitorino Nemésio, um dos mais atentos estudiosos da obra de Herculano, referiu-se à popularidade do Eurico, a breve tre­cho transformado em «breviário da idade dos sonhos», avançando informações concretas que documentam a responsabilidade do romance na formação dessa «espécie de andaço de alma» que afectou a segunda geração romântica: reedições frequentes (seis até à morte do seu autor), formação de sociedades literárias, uma ópera, adopção do nome do herói, etc. «Em suma: leitores, discípulos, adaptadores, libretistas, precipitavam-se atrás do vulto do Cavaleiro Negro levando o amado fardo através da corrente do Sália... O Presbítero era um farol, Hermengarda uma flâmula, a cor e a matéria do livro tornavam-se proverbiais» (V. Nemésio); claro que essa cor devia muito também ao estilo: escrito num discurso hoje irremediavelmente envelhecido, o Eurico não só lança mão de uma superabundância de vocábulos rebuscados e vagamente destinados a contribuírem para o delinear de uma época histórica recôndita (são hoje pouco menos do que bizarros termos como «tiufado», «gardingo», «estringe», «loriga», « imbele», «ecúleo», «amículo», «pélago», «franquisque», «ádito» e tantos outros), como ainda recorre com frequência à após­trofe exclamativa e à solenidade retórica dos períodos alongados.

A relação destes elementos (e de tantos outros similares que aqui não podem ser inventariados) com a evolução do Romantismo portu­guês é muito clara. Enraizada, como se viu já, num substrato ideoló­gico e cultural conservador, a segunda geração romântica aproveitou do Eurico justamente o que mais lhe convinha, ou seja, o empolamen­to do estilo e as sugestões temáticas que melhor se ajustavam às coorde­nadas que a regiam: a morte, a noite, a solidão, a saudade, etc. O que não quer dizer que Herculano aprovasse ou aconselhasse um tal apro­veitamento. Sabe-se que dificilmente um escritor consegue controlar o modo como são lidas as suas obras, já que, uma vez publicadas, elas pertencem já não a quem as escreveu, mas à comunidade que as absorve de acordo com motivações e hábitos normalmente muito com­plexos. E justamente por verificarmos que uma determinada geração cultural apreendeu o Eurico de forma algo tendenciosa que nos cabe [26] hoje tentar relê-lo para atentarmos no que ele há de excessivo, mas para valorizarmos a sua dignidade de obra intrínseca e genuinamente romântica.




Texto 107

PASSOS, A. A. Soares de. “O noivado do sepulcro”. In: Poesias. 5. ed. Porto: Cruz Coutinho, 1870. p. 16-19.107

[16] O NOIVADO DO SEPULCRO (BALADA)




  1. Vai alta a lua! na mansão da morte

  2. Já meia-noite com vagar soou;

  3. Que paz tranquila; dos vaivéns da sorte

  4. Só tem descanso quem ali baixou.




  1. Que paz tranquila!... mas eis longe, ao longe

  2. Funérea campa com fragor rangeu;

  3. Branco fantasma semelhante a um monge,

  4. Dentre os sepulcros a cabeça ergueu.




  1. Ergueu-se, ergueu-se!... na amplidão celeste

  2. Campeia a lua com sinistra luz;

  3. O vento geme no feral cipreste,

  4. O mocho pia na marmórea cruz.




  1. Ergueu-se, ergueu-se!... com sombrio espanto

  2. Olhou em roda... não achou ninguém...

  3. Por entre as campas, arrastando o manto,

  4. Com lentos passos caminhou além.




  1. [17] Chegando perto duma cruz alçada,

  2. Que entre os ciprestes alvejava ao fim,

  3. Parou, sentou-se e com a voz magoada

  4. Os ecos tristes acordou assim:




  1. “Mulher formosa, que adorei na vida,

  2. “E que na tumba não cessei de amar,

  3. “Por que atraiçoas, desleal, mentida,

  4. “O amor eterno que te ouvi jurar?




  1. “Amor! engano que na campa finda,

  2. “Que a morte despe da ilusão falaz:

  3. “Quem dentre os vivos se lembrará ainda

  4. “Do pobre morto que na terra jaz?




  1. “Abandonado neste chão repousa

  2. “Há já três dias, e não vens aqui...

  3. “Ai, quão pesada me tem sido a lousa

  4. “Sobre este peito que bateu por ti!




  1. “Ai, quão pesada me tem sido!” e em meio,

  2. A fronte exausta lhe pendeu na mão,

  3. E entre soluços arrancou do seio

  4. Fundo suspiro de cruel paixão.




  1. “Talvez que rindo dos protestos nossos,

  2. “Gozes com outro de infernal prazer;

  3. “E o olvido cobrirá meus ossos

  4. “Na fria terra sem vingança ter!




  1. [18] — “Oh nunca, nunca!” de saudade infinda,

  2. Responde um eco suspirando a....

  3. “Oh nunca, nunca!” repetiu ainda

  4. Formosa virgem que em seus braços tem.




  1. Cobrem-lhe as formas divinais, airosas,

  2. Longas roupagens de nevada cor;

  3. Singela c’roa de virgíneas rosas

  4. Lhe cerca a fronte dum mortal palor.




  1. “Não, não perdeste meu amor jurado:

  2. “Vês este peito? reina a morte aqui...

  3. “É já sem forças, ai de mim, gelado,

  4. “Mas Inda pulsa com amor por ti.




  1. “Feliz que pude acompanhar-te ao fundo

  2. “Da sepultura, sucumbindo à dor:

  3. “Deixei a vida... que importava o mundo,

  4. “O mundo em trevas sem a luz do amor?




  1. “Saudosa ao longe vês no céu a lua?

  2. — “Oh vejo sim... recordação fatal!

  3. — “Foi à luz dela que jurei ser tua

  4. “Durante a vida, e na mansão final.




  1. “Oh vem! se nunca te cingi ao peito,

  2. “Hoje o sepulcro nos reúne enfim...

  3. “Quero o repouso de teu frio leito,

  4. “Quero-te unido para sempre a mim!”




  1. [19] E ao som dos pios do cantor funéreo,

  2. E à luz da lua de sinistro alvor,

  3. Junto ao cruzeiro, sepulcral mistério

  4. Foi celebrado, de infeliz amor.




  1. Quando risonho despontava o dia,

  2. Já desse drama nada havia então,

  3. Mais que uma tumba funeral vazia,

  4. Quebrada a lousa por ignota mão.




  1. Porém mais tarde, quando foi volvido

  2. Das sepulturas o gelado pó.

  3. Dous esqueletos, um ao outro unido,

  4. Foram achados num sepulcro só.




Texto 108

CASTILHO, António Feliciano de. A Noite do Castelo. Lisboa: Empresa da História de Portugal, 1907. p. 29-30.
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