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Sistemática: tendências e desenvolvimento, incluindo impedimentos para o avanço do conhecimento na área


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SISTEMÁTICA: TENDÊNCIAS E DESENVOLVIMENTO, INCLUINDO IMPEDIMENTOS

PARA O AVANÇO DO CONHECIMENTO NA ÁREA
José Rubens Pirani
SUMÁRIO

Durante muitos anos, a sistemática ou taxonomia vegetal foi considerada como uma parte estática da botânica, preocupada apenas com a denominação correta das plantas e utilizando para tanto, caracteres morfológicos vegetativos e reprodutivos, muitos já utilizados desde a época de Linnaeus. Hoje o conceito da sistemática evoluiu bastante e, apesar de utilizar a morfologia externa como base para descrição dos táxons, o taxonomista utiliza-se também de múltiplas fontes de evidência, tais como a citologia, anatomia, embriologia, ecologia, genética, química, além de refinadas técnicas computacionais , dos mais requintados instrumentos ópticos e de precisão, e, principalmente dispõe de novos paradigmas pautados em métodos explícitos de análise. Assim, o taxonomista atual deve ser um cientista de campo e laboratório, e o que é mais importante, deve trabalhar integrado a grupos com outros conhecimentos, utilizando portanto a metodologia inerente a cada um deles.

Especialmente nas duas últimas décadas, a sistemática vegetal teve avanços impressionantes, tanto pelo incremento de análises cladísticas como pela aplicação de técnicas moleculares. Análises da variação no genoma de cloroplastos em particular, e, em menor extensão, de segmentos do genoma nuclear incrementaram grandemente nosso entendimento da filogenia das plantas em todos os níveis taxonômicos. Assim, a Sistemática emerge como um ramo vigoroso da Biologia Evolutiva, provendo a necessária perspectiva histórica para a Biologia Comparada e embasamento filogenético para o desenvolvimento de hipóteses sobre processos evolutivos e para a produção de sistemas de classificação preditivos e robustos.

Em contraste a esse desenvolvimento teórico e metodológico vigoroso e consolidação da Sistemática como a ciência do estudo da biodiversidade, vigora num país de megadiversidade como o Brasil a situação de enormes lacunas no estado de conhecimento da vegetação e flora, e necessidade de fortalecimento de equipes de pesquisa. A formulação de políticas e estratégias de desenvolvimento sócio-econômico sustentável depende de aprimoramento dos estudos taxonômicos e do acesso facilitado a informações sobre biodiversidade. Cresce a demanda por informações técnico-científicas de qualidade para a definição de estratégias e prioridades de conservação de áreas naturais, e para a adoção de medidas de controle e manejo ambiental. Apesar de as coleções de biológicas (zoológicas, botânicas e microbiológicas) comporem a infra-estrutura básica de suporte para o desenvolvimento científico em todas as áreas ligadas ao meio ambiente e indústria, no Brasil elas se encontram em situação muito aquém da adequada. A maioria dos acervos existentes tem sérios problemas de manutenção, carecem de infra-estrutura física e de recursos humanos especializados. Mantido o quadro atual, fica muito difícil vislumbrar no país uma exploração feita de maneira sustentável, com aproveitamento ideal da riqueza de recursos genéticos sem comprometer a conservação da diversidade de ecossistemas. Esses acervos precisam passar por um processo de readequação tecnológica e gerencial, incorporando métodos e processos que permitam rápida caracterização e documentação do acervo, e maior acessibilidade aos ricos dados existentes nas coleções.
Introdução: desenvolvimento da Sistemática, com ênfase na situação do Brasil

Mais de um milhão e meio de espécies viventes já foram descritas e nomeadas, entre organismos diversos como animais, plantas, bactérias, amebas, e no entanto isso representa somente pequena fração do total existente, estimado entre cinco e cem milhões de espécies. Mesmo entre as já descritas e minimamente caracterizadas, em muitos casos não se conhecem dados importantes como hábitos de vida, anatomia, distribuição geográfica, possível utilidade para o homem, tolerância ou vulnerabilidade à alterações ambientais. Embora o nome de um organismo seja fundamental, muito mais importante é a informação existente e que pode ser recuperada através do nome. Isto é, o nome da espécie permite a indexação do conhecimento, a sumarização da informação disponível sobre cada organismo nomeado.

O grau de conhecimento da biodiversidade não é igual em todas as partes do mundo. A região neotropical é a mais rica em espécies, e o Brasil detém cerca de 20% do total de espécies do planeta. Das 25 famílias de angiospermas endêmicas da região neotropical listadas por Smith et al. (2004), apenas 11 não estão representadas no Brasil. Mas, como país em desenvolvimento, ainda tem por realizar muito esforço nas tarefas de descobrir, nomear, descrever os caracteres morfológicos, conhecer a biologia, ecologia e distribuição geográfica da maioria das espécies existente em seu território. A urgência desse empreendimento fica mais evidente diante do rápido declínio da biodiversidade em decorrência da ação dramática do homem sobre os vários ecossistemas. A formulação de políticas e estratégias de conservação biológica e de desenvolvimento sócio-econômico sustentável depende do acesso facilitado a informações sobre biodiversidade, e é essa demanda crescente que compete às coleções biológicas e taxonomistas associados atender.

Um objetivo central da Sistemática, além da descrição da diversidade e elaborar um sistema geral de referência, é contribuir para a compreensão dessa diversidade, através do estudo das relações de parentesco entre as espécies. As classificações resultantes devem refletir a história filogenética e, assim, possibilitar a previsão das características dos organismos atuais, além de recuperar as informações indexadas.

A teoria da Sistemática passou por profundas modificações a partir de 1950, quando o entomólogo alemão Willi Hennig revolucionou o estudo das classificações biológicas. Hennig procurou demonstrar que a classificação dos organismos não deve se basear na semelhança global, mas sim apenas nos atributos que permitirem aferir o parentesco filogenético. A diversidade biológica é resultante do processo de ramificação das espécies ancestrais em espécies descendentes, e só as novidades evolutivas compartilhadas pelos organismos (sinapomorfias) permitem recuperar o parentesco de forma segura. Na escola fundada por Hennig, chamada Sistemática Filogenética ou Cladismo, o axioma fundamental é que a história evolutiva de ancestralidade-descendência dos organismos pode ser reconstruída e representada mediante um diagrama hipotético denominado cladograma. Nessa escola, somente os agrupamentos de organismos cuja realidade histórica seja suportada pela observação de pelo menos um caráter no estado derivado (grupos monofiléticos) podem ser utilizados na classificação.

Uma classificação biológica que se baseia na filogenia tem muitos mais capacidade de previsão, e possibilita entender a evolução de todos os caracteres, mesmo aqueles não considerados (por terem sido desconhecidos ou ignorados pelo taxonomista), resultando em um sistema de referência mais eficiente. Constitui assim uma classificação mais útil não só para os sistematas mas para os biólogos em geral, e para todos os demais pesquisadores que lidem com a diversidade biológica. Fica evidente, portanto, a grande importância da Sistemática. Toda a ciência básica e aplicada dependem de identificações corretas, que evitem erros, ou gastos inúteis, ou danos sérios. E além disso, um sistema filogenético com alto poder de previsão é muito vantajoso na indicação de rumos para a pesquisa e busca de novos potenciais biológicos.

Ao passo que muitas escolas de Zoologia cedo abraçaram os preceitos da Sistemática Filogenética, infelizmente, é necessário reconhecer que na Botânica houve grande resistência por várias décadas. Apesar de já em 1978 Bremer & Wanntorp conclamarem os botânicos para o fato de que não seriam monofiléticos a maioria dos grupos taxonômicos então em uso corrente, na academia e na prática persistiu dominando até meados da década de 90 o sistema de classificação de Arthur Cronquist (1981, 1988). Esse renomado sistemata inclusive publicou feroz artigo contra o Cladismo (Cronquist 1987). E tampouco as análises filogenéticas encetadas por Dahlgren et al. (1985) na sistemática das monocotiledôneas tiveram o impacto e aceitação amplos que certamente mereciam. Mesmo assim, trabalhos cladísticos de grande envergadura para o entendimento das relações filéticas em altos níveis hierárquicos nas plantas vasculares foram realizados por Crane (1985), Dahlgren & Bremer (1985) e Donoghue & Doyle (1989).

No Brasil a história não foi diferente. Aylthon Brandão Joly (1976), em texto básico importante para as famílias vegetais representadas no Brasil, adotou o sistema de Engler (da última edição, editada póstumamente por Melchior em 1964). Com a consolidação de primazia do sistema de classificação de angiospermas de Arthur Cronquist (1968, 1981) em escala global, a partir da década de 70, este passou a ser o sistema adotado nas escolas e universidades. Nele se baseia a estrutura dos excelentes livros de Graziela Barroso e colaboradores (1976, 1978, 1980), frutos de uma importante escola de Sistemática no Brasil. Malgrado sejam hoje um tanto anacrônicos na classificação adotada em altos níveis hierárquicos, estes livros persistem sendo extremamente úteis nas caracterizações das famílias e/ou chaves para identificação de gêneros brasileiros.

Só bem mais recentemente, a partir de meados da década de 90, começaram os princípios do Cladismo ser adotados em salas de aula de Botânica no país, e com o aparecimento de uma classificação até nível de ordens, baseada em filogenias moleculares (APG 1998, 2003), e adotada no livro básico de Walter Judd e colaboradores (1998, e em segunda edição revista em 2002), isso tornou-se imperativo em todas as escolas que se considerem atualizadas.

A teoria de Hennig foi sendo aperfeiçoada e ampliada por muitos autores subseqüentes, graças aos avanços nos fundamentos teóricos e às melhorias computacionais. Vários programas foram desenvolvidos para elaborar as árvores filogenéticas e para verificar as modificações de cada caráter (e.g. Farris 1988, Nixon 1991, Swofford 2000). Dispomos atualmente de metodologia capaz de formular hipóteses testáveis de parentesco, com base no exame de grande número de características de espécies atuais e fósseis. Garantindo-se a qualidade dos dados, pode-se afirmar que quanto mais amplo o número e tipo de caracteres analisados, mais precisa e mais confiável tende a ser a filogenia reconstruída. As autoridades semi-subjetivas em Sistemática foram suplantadas por equipes empregando métodos analíticos em acelerado desenvolvimento e computadores habilitados a empregá-los mais e mais eficientemente.

Assim, a Sistemática Vegetal, que tinha sido longamente tida como “arte mais que ciência”, passou por um verdadeiro renascimento durante os últimos 25 anos. Isso devido primariamente à incorporação da fundamentação teórica e métodos explícitos do Cladismo, e subseqüentemente ao emprego dos dados macromoleculares na reconstrução filogenética, a qual é predicado no reconhecimento dos grupos naturais ou monofiléticos.

Com o advento das técnicas de amplificação e seqüenciamento de nucleotídeos dos genomas nucleares, dos cloroplastos e dos mitocôndrios, a Sistemática entrou na era molecular. No final dos anos 80, tornou-se possível obter seqüências completas de trechos genômicos, e a forma de analisá-las comparativamente adequada foi obviamente o arsenal metodológico da Cladística. Isto é, ao contrário do que muitos proclamam, as técnicas moleculares não revolucionaram os métodos em Sistemática; antes, elas rapidamente se acomodaram aos métodos analíticos previamente existentes e que, eles sim, constituíram revolução paradigmática, como já ressaltou Schuh (2000).

As técnicas moleculares trouxeram vastos conjuntos independentes de dados, e tem havido contínuos avanços na extração do DNA, seqüenciamento de genes, alinhamento de seqüências, e no desenvolvimento de programas computacionais para adequada interpretação dos dados. Em conseqüência da crescente disponibilidade desses métodos, os sistematas têm tido a oportunidade de incorporar aos seus estudos as abordagens macro-moleculares, que não mais ocupam um domínio separado, mas passam a constituir parte integrante das ferramentas utilizadas em Sistemática.

Nesse novo momento, a Sistemática Molecular tem corroborado o monofiletismo de várias famílias, ordens e grupos de hierarquia superior de vegetais por um lado, e apontado pontos críticos ou problemáticos que requerem ampla reformulação dos sistemas de classificação vigentes. O momento atual é, portanto, de grande dinamismo e instabilidade na Taxonomia em diversos níveis hierárquicos, sobretudo nos mais elevados. Porém provavelmente nunca estivemos tão perto de conseguir um sistema de classificação filogenético consistente, que retrate efetivamente as relações de parentesco entre as famílias de angiospermas.

Parece muito óbvia a especial utilidade das abordagens moleculares na análise de relações filogenéticas em altos níveis hierárquicos, que já resultou em novas classificações que, embora ainda pobremente resolvida em certos pontos, são flagrantemente melhores e mais aprimoradas e confiáveis. Esses avanços no conhecimento, associados ao forte desenvolvimento do ferramental metodológico da Sistemática a coloca de novo numa posição chave face a outras disciplinas na Biologia, com crescentes e robustas aplicações em investigações sobre vias biossintéticas e de desenvolvimento, produtos naturais, origens e migrações de linhagens evolutivas, e na conservação. Mais do que nunca a Sistemática é fundamental, necessária e valiosa na Biologia. Em termos simplistas, estudos em sistemática podem indicar quais genomas no reino vegetal devem ser procurados, amostrados e pesquisados para as respostas às questões ligadas à evolução de estruturas físicas e químicas, e sua síntese e ontogenia.

Colocando de outro modo, em plena era da Genômica, persiste a moderna sistemática em suas aplicações e ligações com outras disciplinas; por outro lado, as aplicações da Genômica a um contingente cada vez maior de espécies deverá pautar-se na Sistemática, que por seu turno persistirá baseada fundamentalmente no reconhecimento fenotípico dos organismos na natureza (ver por exemplo Maddison 1996).

As modernas técnicas moleculares representam um recurso rico e poderoso que, ao invés de ofuscar, aumenta a necessidade de conjuntos de dados não-moleculares, de botânicos que possam interpretá-los, e das maneiras de obtê-los, isto é, trabalho de campo, estudos florísticos, coleções de herbário, e os pilares da taxonomia básica, que são a morfologia e a anatomia. Seqüências e cladogramas são meras ferramentas, é preciso conhecer as plantas para colocar as questões, estruturara a amostragem, selecionar os caracteres (incluindo quais genes analisar), e interpretar os resultados (Maddison 1996). Cladogramas geralmente colocam tantas questões quantas respondem; não há iluminação recíproca se não houver luz vinda de outra fonte.

A Sistemática fornece a matéria prima física e informacional para os conjuntos de dados que sustentam as investigações moleculares e filogenéticas. E isso só pode ser alcançado por meio de grande incremento da atividade taxonômica básica e da pesquisa florística, e de programas de trabalho de campo e organização de coleções melhor conduzidos e acelerados. Uma garantia de produção de uma sistemática robusta baseada em evidências moleculares e filogenéticas depende fortemente na identificação acurada de espécimes, preparação adequada de amostras (fragmentos desidratados em gel de sílica, ou outros), e amostragem cuidadosamente planejada de táxons e/ou populações representando da maneira mais abrangente possível a amplitude geográfica, variabilidade e filogenia do grupo. Monografias e floras são o meio mais eficiente de geração das informações e espécimes necessários, assim como de por em prática os profundos reorganizações filogenéticas atualmente em curso. Os taxonomistas são necessários para executar as diversas alterações nomenclaturais envolvidas em cada caso (Hammel 2001).

Considerando todos esses aspectos, constata-se que no Brasil houve nas últimas décadas grande evolução em certas frentes de pesquisa em sistemática e produção baixa ou pouco expressiva em outras. Muitos projetos florísticos de grande monta foram encetados, seja demarcados com base em unidades geo-políticas, seja baseados em ecossistemas, ou unidades de conservação ou unidades geográficas. No primeiro caso, podem ser citadas a Flora Ilustrada Catarinense, iniciada em 1962 (Reitz 1965-), a Flora Ilustrada do Rio Grande do Sul (Schultz 1974-), a Flora de Goiás (Rizzo,1981-), a Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo (Wanderley et al. 2001-), todas elas ainda incompletas mas em andamento. Nas outras categorias, são bem mais numerosos os trabalhos e áreas cobertas, indo desde compactas listas florísticas e manuais gerais até livros ou artigos detalhados sobre cada família de plantas, com chaves, descrições, ilustrações e mapas. Esses projetos têm o grande mérito de terem envolvido colaboração de numerosos pesquisadores e de terem na maioria constituído etapa marcante na formação de novos recursos humanos, pela atuação de alunos de iniciação, aperfeiçoamento, mestrado e doutorado. O grande volume de informação acumulada com todos essas explorações florísticas envolveu importantes avanços no conhecimento da taxonomia dos grupos tratados, com intensa melhoria do estado de conhecimento da morfologia, anatomia, biologia e fenologia das plantas, e expansão e detalhamento do mapeamento geográfico e das preferências ecológicas de cada táxon. Muitas coleções biológicas no país todo tiveram incremento considerável, em decorrência de projetos dessa natureza, podendo-se afirmar que em certos casos o herbário local como um todo foi constituído dessa forma. Esse vasto arsenal de informações precisa ser tratado e tornado disponível em maior alcance, sob a forma digital: muitas delas estão um tanto dispersas na literatura, ou, no que tange as coleções, são de difícil acesso pelas distâncias neste país de dimensões continentais, e pelas restrições de custo de remessa.

Por outro lado, no plano das revisões taxonômicas, monografias e estudos filogenéticos, embora também tenha havido crescimento e melhoria na qualidade, a produção foi bem menos expressiva, pelo menos até certo ponto como decorrência da maior dificuldade e maior demanda de tempo para a conclusão desses tipos de trabalho, em relação aos de cunho florísticos. Talvez sintomático dessa situação seja o fato de apenas três das 90 monografias já publicadas na série Flora Neotropica terem sido publicadas por brasileiros e o início de emprego de métodos cladísticos somente a partir de 1990. Para que a pesquisa taxonômica no país passe para um nível mais aprimorado e alcance repercussão internacional, urge que se incorporem, ao labor do sistemata brasileiro, contínuos esforços visando à investigação sistemática de caráter mais abrangente e aprofundado, preferentemente envolvendo emprego de filogenias. Deve ser valorizada aqui a forte diversificação das fontes de evidência taxonômica que efetivamente passaram a ser empregadas no país desde os anos 80, com crescente integração com outras áreas de pesquisa e usos de técnicas mais refinadas de microscopia eletrônica, citológicas, químicas e moleculares. É também muito promissor o fato de as novas gerações de mestres e doutores estarem majoritariamente imbuídas do paradigma cladista.



Importância da Sistemática Moderna na Conservação:

Os estudos em Sistemática e as coleções botânicas acumulam volume inestimável de dados valiosos para o avanço da ciência e também para conservação. Trabalhos florísticos, desde que pautados em análises taxonômicas e filogenéticas consistentes que incorporem dados geográficos, podem direcionar a conservação de modo mais avançado. Dados sobre distribuição geográfica, preferências de habitat e estrutura populacional de grupos de organismos permitem identificar centros de endemismo e de diversidade, assim como espéceis raras e/ou ameaçadas. Esse constitui o arsenal de informações fundamental para estabelecimento de prioridades para conservação.

As atuais árvores filogenéticas podem estabelecer outro nível de informação e ana´lise para maximização a conservação da diversidade genética que é em si a base da biodiversidade. Face à crescente destruição dos habitats e ameaças de extinção, muitas espécies e certamente algumas famílias e gêneros endêmicos a regiões restritas podem estar desaparecendo antes mesmo que tenhamos noção de suas propriedades químicas e processos de desenvolvimento e regulação. Considerando que não podemos salvar de forma realista todas as áreas naturais da destruição, estudos filogenéticos podem representar opção inteligente que nos permitirá conservar áreas detentoras de diversidade genética mais alta, e portanto de diversidade taxonômica. Eles ainda possibilitam identificar espécies significativas do ponto de vista evolutivo, cujo DNA deva ser estocado em bancos de germoplasma, que complementariam os esforços existentes de criação de bancos de DNA para espécies raras e ameaçadas.

Porém toda a execução e interpretação dos esforços em busca de dados taxonômicos consistentes e de filogenias robustas e suas aplicações na conservação biológica continuarão sendo baseados em trabalho de campo e no conhecimento botânico tradicional acumulado.



Evolução recente da integração da Sistemática com outras disciplinas:

Outro aspecto que passou por evolução qualitativa na última década foi a integração crescente em interfaces de atuação do sistemata com pesquisadores de outras áreas. Além do incremento de uso de dados de outras fontes além da morfologia pela taxonomia, dados esses muitas vezes obtidos em colaboração com laboratórios não intrinsecamente ligados a herbários, parece ter havido uma maior abertura e acessibilidade dos procedimentos taxonômicos normais para a comunidade científica e leiga como um todo.

Uma série de sítios da rede mundial (www) atualmente estabelecem ligação mais efetiva da Sistemática vegetal com outras disciplinas. Até recentemente, mesmo um “nome correto” de uma planta ficava no domínio de um grupo relativamente limitado de especialistas, porém agora a comunidade científica como um todo tem acesso muito mais facilitado aos nomes aceitos e sinînimos taxonômicos. É possível examinar as mais recentes proposições filogenéticas e a literatura concernente; é possível buscar mais facilmente os membros mais próximamente relacionados a um dado táxon, e/ou representantes de um dado grupo numa dada área geográfica; é possível localizar botânicos e especialistas em um grupo taxonômico trabalhando numa dada região.

Merecem destaque entre os sítios mais úteis:



Index herbariorum (http://www.nybg.org/bsci/ih/ih.html) – continuamente atualizado;

TROPICOS (http://mobot.mobot.org/W3T/Search/vast.html) – provê nomes aceitos, autores, publicações de táxons.

IPNI - International Plant Names Index (http://www.ipni.org/index.html) – integra os índices do RBG-Kew, Harvard University e Australian National Herbarium, trazendo nomes e a bibliografia básica associada, de todas as espermatófitas.

Angiosperm Phylogeny Website (http://www.mobot.org/MOBOT/Research/APweb) – em constante reformulação, apresenta as mais recentes evidências de realinhamento em filogenia de angiospermas e a literatura associada.

Diversity of Life Dot Org (http://www.plantsystematics.org/javatree.htm) – traz filogenias recentes de grandes grupos de plantas e animais.

No Brasil, a página Taxonomia no Brasil (http://www8.ufrgs.br//taxonomia), vinculada à Sociedade Botânica do Brasil, apresenta dados atualizados de todos os herbários brasileiros e dos pesquisadores especializados em cada grupo taxonômico.


Papel das coleções biológicas na Sistemática: o Herbário ontem, hoje e amanhã

Em suma do que se tratou até aqui, apesar de utilizar a morfologia externa como base para descrição dos táxons, o taxonomista moderno utiliza-se também de outras ciências, tais como a citologia, anatomia, embriologia, ecologia, genética, química, além dos computadores e dos mais requintados instrumentos ópticos e de precisão, visando resolver os problemas taxonômicos existentes. Assim, o taxonomista deve ser um cientista de campo e laboratório, e o que é mais importante, ele precisa trabalhar associado a uma coleção de espécimes consistente e integrado a grupos com outros conhecimentos, utilizando portanto a metodologia inerente a cada um deles.

O apoio fundamental para as pesquisas em Sistemática persistem sendo as coleções biológicas, os Herbários no caso da Botânica. Essas coleções biológicas constituem acervos museológicos de inestimável importância para todo e qualquer trabalho de pesquisa relacionado a aspectos da diversidade, estrutura, classificação, distribuição e relações de organismos vegetais. Qualquer pesquisa séria envolvendo seres vivos necessita de correta identificação científica do material em foco, além da adequada documentação com espécimes-testemunha (“vouchers”), que devem estar depositados em museus passíveis de consulta, que são os herbários no caso de coleções botânicas.

Um herbário aparentemente constitui um acervo simples. Consta de amostras de plantas desidratadas montadas sobre cartolina e devidamente rotuladas e identificadas, ou guardadas em pequenos envelopes (como as briófitas) ou conservadas em meio líquido em frascos (caso de certos grupos especiais como cactáceas, muitos fungos e algas microscópicas). Geralmente tem associadas a acervo principal coleções acessórias como Carpoteca (coleção de frutos secos), Xiloteca (coleção de madeiras), Fototeca (coleção de fotografias de espécimes de outros herbários, notadamente tipos nomenclaturais), muitas vexes também uma biblioteca com a literatura taxonômica essencial.

Apesar de simples, o herbário se presta a uma elaboração considerável na medida em que os propósitos para os quais é utilizado podem ser expandidos e refinados. Tais propósitos são sintetizados a seguir, segundo Forman & Bridson (1991), e eles exigem esforços crescentes de conhecimento botânico e capacidade organizacional dos curadores e pesquisadores associados:

1. Um acervo de material de referência. Isso requer estrutura adequada para a conservação dos espécimes, e uma forma simples de indexação ou catalogação (por exemplo a ordem alfabética) que possibilite pronto acesso a eles.

2. Um sistema provedor de identificações taxonômicas, através da comparação de amostras indeterminadas com espécimes identificados arquivados na coleção. Para que esse processo seja viabilizado é necessário que as identificações sejam providas por especialistas tanto quanto possível. Assim, o herbário e seus pesquisadores provêm identificações de plantas aos pesquisadores e mesmo leigos que precisem destas informações na elaboração de trabalhos técnicos e científicos.

3. Um acervo de arbitragem de nomes corretos. Muitos trabalhos botânicos, floras e manuais já publicados geralmente apresentam dados desatualizados ou até nomes inválidos segundo as normas nomenclaturais. Assim o herbário pode atuar como mantenedor de padrões nomenclaturais, desde que a curadoria envide esforços permanentes para manter os nomes dos espécimes atualizados com trabalhos revisionais recentes, para manter uma boa coleção de tipos nomenclaturais, e para organizar intercâmbio de espécimes com outras instituições.

4. Um banco de dados abrangente. As coleções de um herbário devem representar plenamente a diversidade e distribuição geográfica dos organismos de modo amplo ou para floras regionais. Muitos herbários de grande porte inclusive requerem um arranjo geográfico superposto ao arranjo sistemático dos espécimes.

Um acervo bem trabalhado em todos os aspectos precedentes representa fonte inesgotável de dados para uma variedade de trabalhos científicos.


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