Ana səhifə

Universidade federal de santa catarina


Yüklə 3.16 Mb.
səhifə4/12
tarix24.06.2016
ölçüsü3.16 Mb.
1   2   3   4   5   6   7   8   9   ...   12

revisão de literatura e construção do referencial teórico


Tendo como pressuposto a complexidade que envolve a temática que será desenvolvida nesta dissertação será preciso construir um marco teórico com mais de um eixo de referência. De fato se trata de construir a intersecção de quatro referenciais teóricos sendo que cada um deles, individualmente, contemplará os seguintes eixos: Cultura & Informação, Educação & Mediação, Arquiteturas (física & virtual) do Espaço Escolar e, finalmente, Tecnologia, Técnica & Mídia.

No momento em que se engendram, com freqüência crescente, pesquisas educacionais voltadas a conhecer o impacto de novas mídias, técnicas e tecnologias na educação presencial, semipresencial e não-presencial, proporcionam-se como decorrência deste novo cenário uma mais ampla e profunda reflexão a respeito das formas de mediação dos processos pedagógicos. Partindo da premissa de que o desenvolvimento cognitivo não pode ser entendido sem referência ao contexto sócio-cultural no qual ele ocorre e que os processos mentais superiores do indivíduo têm origem também em processos sociais, um dos pilares da teoria de Lev S. Vygotsky, então poderemos estabelecer uma interface entre estes postulados e as considerações que dão conta do fato de que as Novas Tecnologias da Comunicação e Informação (NTCI) estabelecem formas de socialização virtualizadas e, portanto, de possibilidades de ensino-aprendizagem não-triviais. Com a apropriação (internalização) de instrumentos (mídias) e sistemas de signos culturalmente produzidos, a partir da categoria de formas simbólicas de Thompson, às quais será dedicado um maior aprofundamento logo a seguir, o sujeito se desenvolve cognitivamente (Vygotsky, 1988). Como destaca Moreira:
Quanto mais o indivíduo vai utilizando signos, tanto mais vão se modificando, fundamentalmente, as operações psicológicas das quais ele é capaz. Da mesma forma, quanto mais instrumentos ele vai aprendendo a usar, tanto mais amplia, de modo quase ilimitado, a gama de atividades nas quais pode aplicar suas novas funções psicológicas. (VYGOTSKY, 1988 apud MOREIRA, 1995, p.119).
Por outro lado, ainda, conforme pontua Eucidio Arruda (2006), em sua obra Ciberprofessor, “A inovação no trabalho docente pode ser constatada não pelo uso puro e simples do computador em seu cotidiano, mas a partir do momento em que esses equipamentos alteram de forma significativa o olhar do docente diante do seu trabalho, suas concepções de educação, seus modelos de ensino-aprendizagem etc.”. E, ainda, afirma: “O computador permite criar ambientes de aprendizagem que fazem surgir novas formas de pensar e aprender”. No entanto, ainda que se considere com destaque o uso de computadores na educação, não se deterá aí o olhar investigativo, pois se está preocupado não só com as mídias, mas também como estas são sendo incluídas em processos de autoria docente e discente, isto é, a partir das perspectivas de inúmeras tecnologias educacionais, aqui principalmente entendidas como buscas de soluções ao problema da comunicação na educação.

Os aspectos trazidos até aqui, em conjunto, não serão estruturados como uma simples justaposição, mas, antes, como um produto de variáveis complexas e convidam para uma leitura entre o que poderia ser considerado, no momento, o desejável e o praticável. Conforme citado a seguir, voltando mais especificamente o olhar para a Educação Científica e Tecnológica, percebe-se o hiato entre os extremos do ideal e do possível, por assim dizer, no contexto da educação básica, a qual não deixa de produzir conseqüências para o ensino superior8:


Durante las últimas décadas ha aumentado la convicción sobre la importancia del aprendizage de las ciencias de la naturaleza, tanto em la educación general de todos os ciudadanos como em la promoción de vocaciones de científicos, tan necessária para el desarrollo de los países. Paralelamente a esta convicción, tambiém se há llegado a la conclusión de que la enseñanza de las ciências es inadequada em sus objetivos, em sus contenidos e em sus métodos, y se ha producido um gran desarrollo de investigacionaes, teorias y debates para cambiarla. (UNESCO, 1997, p.11 ).
Outras considerações deverão, ainda, se voltar a outros referenciais conceituais que procurarão apontar para um outro foco investigativo, dentre eles aqueles que se relacionam ao tema da arquitetura de ambientes educacionais – físicos e virtuais - em seus aspectos objetivos e também subjetivos. Estas considerações serão fundamentais para darem suporte às análises que serão feitas a partir das investigações de campo, uma vez que os modelos educacionais estudados no estudo de caso escolhido, incorporam intensamente esses aspectos.


    1. CULTURA E INFORMAÇÃO

Como primeiro eixo teórico se buscará em J. B. Thompson elementos para abordar a dimensão da cultura e das formas simbólicas, referindo-se a estas como uma ampla variedade de fenômenos significativos, desde ações, gestos e rituais até manifestações verbais, textos, programas de televisão, obras de arte, software, ambientes físicos e virtuais etc., e seus meios de transmissão e recepção, além de valores que lhes são atribuídos socialmente. Com respeito às formas simbólicas elas permitirão estabelecer, mais à frente, determinados vínculos com alguns referenciais da Teoria Sócio-Histórica de Vygotsky e colaboradores, como Leontiev, estabelecendo-se elos com os processos de comunicação. Daí será possível discutir o Problema Fundamental da Comunicação (intenção - informação – transmissão - recepção – interpretação), destacando-o em alguns pontos deste trabalho e o papel que a informação pode ter neste processo.




4.1.1 Concepções de Cultura
Ao longo da história o termo cultura experimentou significados diversos. Dentre eles, como assinala Thompson, identifica-se uma concepção descritiva da cultura, resumida como segue:

“A cultura de um grupo ou sociedade é o conjunto de crenças, costumes, idéias e valores, bem como os artefatos, objetos e instrumentos materiais, que são adquiridos pelos indivíduos enquanto membros de um grupo ou sociedade”. (THOMPSON, 1995, p.173).

Vale notar aqui que o significado de “adquiridos”, utilizado por Thompson quando se refere ao termo dentro da concepção descritiva de cultura, vem no sentido de “passam a fazer parte de”, distanciando-se, portanto, de uma aquisição meramente de cunho comercial.

Por outro lado, a concepção simbólica de cultura fundamenta-se no fato de que o uso de símbolos é um traço distintivo da vida humana que não apenas produz e recebe expressões lingüísticas significando-as e ressignificando-as, mas também atribui sentido às construções não – lingüísticas:


Cultura é o padrão de significados incorporados nas formas simbólicas, que inclui ações, manifestações verbais e objetos significativos de vários tipos, em virtude dos quais os indivíduos comunicam-se entre si, e partilham suas experiências, concepções e crenças. (THOMPSON, 1995, p.176).
Seguindo pela linha crítico-reflexiva de Thompson se precisará buscar com ele um conceito mais abrangente de cultura que permita aprofundar e ampliar o olhar de pesquisa, a respeito do objeto de conhecimento. Assim trabalhar-se-á com a concepção estrutural da cultura que “dê ênfase tanto ao caráter simbólico dos fenômenos culturais como ao fato de tais fenômenos estarem sempre inseridos em contextos sociais estruturados” (THOMPSON, 1995, p.181).

Nesta perspectiva Thompson define uma análise cultural como “o estudo das formas simbólicas – isto é, das ações, objetos e expressões significativas de vários tipos – em relação a contextos e processos historicamente específicos e socialmente estruturados dentro dos quais, e por meio dos quais, essas formas simbólicas são produzidas, transmitidas e recebidas” e ainda pontua que “os fenômenos culturais, deste ponto de vista, devem ser entendidos como formas simbólicas em contextos sociais estruturados”. (THOMPSON, 1995, pg. 181).




4.1.2 Formas Simbólicas
Neste subitem específico que tratará das formas simbólicas quanto a seus aspectos sociais, tecnológicos e conceituais far-se-á, numa primeira abordagem, referência ao objeto das Tecnologias da Comunicação e Informação, mais especificamente da informação enquanto unidade de transporte das formas simbólicas. Ora, para a transmissão, ou se for preferível, para que se efetue como possibilidade a produção, transmissão e recepção de uma forma simbólica em contextos estruturados, será preciso contar com mídias, técnicas e tecnologias de comunicação que possibilitarão resolver, o melhor possível e de forma aproximativa, variantes do que se estará considerando como o Problema Fundamental da Comunicação, abordado daqui para frente.

Como exemplo, uma canção transmitida por uma emissora de rádio se constitui num conjunto de formas simbólicas que carecem ser codificadas e transformadas em sinais elétricos a fim de que estes modulem uma onda portadora, por exemplo, para que, a seguir, este pacote seja transportado através de ondas eletromagnéticas e transmitidas por uma antena. Nesta primeira etapa do processo podem ser identificadas as mídias (como o microfone que transforma as formas simbólicas produzidas pelo cantor, em elementos de áudio (ondas mecânicas), em sinais elétricos de pequena amplitude), os cabos que conduzem esta eletricidade até um amplificador, daí ao transmissor e deste à antena de modo que o conjunto se constitua como tal através de uma determinada possibilidade técnica organizada a partir de uma concepção tecnológica que idealizou o conjunto e garantiu consistência na busca da solução ao problema da produção e transmissão da informação. A seguir as ondas eletromagnéticas portadoras, que são produzidas na freqüência da emissora, poderão ser detectadas (ou não!) por um receptor de rádio que as decodificará, dispensando a onda portadora e recuperando o sinal elétrico que originalmente foi produzido através do microfone e que agora será reproduzido por um alto falante, uma vez devidamente amplificado, através de ondas mecânicas na faixa audível humana, reproduzindo finalmente as formas simbólicas originais. Eis, agora, o contexto de mídias, técnicas e tecnologia da recepção. No entanto, apesar de todo este processo tanto de produção, quanto de transmissão e recepção da informação ser realizado em contextos sociais estruturados, não necessariamente idênticos nas “pontas”, não há garantia alguma de que a intencionalidade original do autor das formas simbólicas seja exatamente interpretada por todos os ouvintes de modo que a subjetividade dos sujeitos demonstra, aí, sua presença e, novamente, identificamos, como exemplo, o Problema Fundamental da Comunicação.


Tecnologias da Informação e Comunicação




Figura 6: concepção, produção, transmissão e recepção (interpretativa) de Formas Simbólicas através de pacotes de informação. As Tecnologias da Comunicação e Informação representam o espectro de possibilidades que viabilizam um conjunto de soluções particulares, e aproximativas, ao Problema da Fundamental da Comunicação. Esta natureza aproximativa é característica fundamental dos processos tecnológicos os quais tendem ao ponto idealmente formulado, mas que dele se afastam por uma imprecisão, parcialidade ou incerteza. O esquema também destaca a assimetria entre a interpretação e a concepção original de uma dada Forma Simbólica. (Adaptado de THOMPSON, 1995, p.181).

Assim posto vincula-se, formalmente, a existência (enquanto percepção objetivo-subjetiva) de uma forma simbólica às informações que lhe permitem dar à existência, através de mídias, técnicas e tecnologias disponíveis, em cenários existentes em um dado contexto social e historicamente estruturado.

Os sujeitos que participam de interações sociais, sejam quais forem, envolvem-se em um processo continuado de constituição e reconstituição de significados, constituindo-se em parte no que pode ser chamado como reprodução simbólica dos contextos sociais.


O significado que é carregado pelas formas simbólicas e reconstituído no curso de sua recepção pode servir para manter e reproduzir os contextos de produção e recepção. Isto é, o significado das formas simbólicas, da forma como é recebido e entendido pelos receptores, pode servir de várias maneiras, para manter relações sociais estruturadas com características dos contextos dentro dos quais essas formas são produzidas e/ou recebidas. (THOMPSON, 1995, p.202).

No entanto as relações sociais são, também, passíveis de serem reproduzidas pelo uso da força, bem como por intermédio de um processo de definir rotinas na vida cotidiana. Além desses aspectos e da reprodução simbólica dos contextos sociais, conforme visto, ainda surge a possibilidade das reproduções sociais ocorrerem através das ideologias. Como nos apresenta Thompson (1995, p.203):


[...] O estudo da ideologia é o estudo dos modos pelos quais o significado mobilizado pelas formas simbólicas serve, em circunstâncias específicas, para estabelecer, manter e reproduzir relações sociais que são, sistematicamente, assimétricas em termos de poder.
Diante dos aspectos até aqui abordados, referentes às formas simbólicas, cabe destacar que as mesmas são freqüentemente submetidas a processos complexos de avaliação, conflito e valorização, ou seja, são objetos de processos de valoração, como aponta Thompson. Dentre os tipos de valoração podemos destacar o de valorização simbólica através do qual é atribuído às formas simbólicas um determinado “valor simbólico” pelos indivíduos que as produzem e recebem. Esta qualidade de valor decorre a partir da estima que os sujeitos tem por determinadas formas simbólicas produzidas e recebidas. Como exemplo se pode citar o valor simbólico atribuído por um estudante quanto à demonstração de um teorema matemático; reciprocamente, um docente pode atribuir elevado valor simbólico à resolução inédita por um aluno, a um problema proposto. Neste caso até mesmo uma “nota” ou “conceito” costumam ser atribuídos, pontuando uma valoração específica. Esse aspecto se aproxima de uma outra forma de valoração das formas simbólicas, voltada, esta sim, à dimensão econômica das mesmas.
Valorização econômica é o processo através do qual é atribuído às formas simbólicas um determinado “valor econômico”, isto é, um valor pelo qual elas poderiam ser trocadas em um mercado. Através do valor econômico, elas (as formas simbólicas) são constituídas como mercadorias; tornam-se objetos que podem ser comprados ou vendidos por um preço em um mercado. (THOMPSON, 1995, pg. 203)
Destaca-se ainda que os aspectos vinculados com a valorização econômica das formas simbólicas, não raramente, produzem conflitos que têm lugar dentro de um contexto social estruturado que se caracteriza por assimetrias e diferenças variadas. As valorizações simbólicas oferecidas por diferentes indivíduos que estão diferencialmente situados são, na maioria das vezes, de estatus diferentes.
Algumas valorizações levam um maior peso do que outras em função do indivíduo que as oferece e da posição da qual fala; e alguns indivíduos estão em uma melhor posição do que outros para oferecer valorizações e, se for o caso, impô-las. (THOMPSON, 1995, p.204).

Dentre as principais características das formas simbólicas, destacam-se os seus aspectos intencionais, convencionais, estruturais, referenciais e contextuais.

Em seus aspectos intencionais, formas simbólicas são expressões de um sujeito para um outro sujeito (ou sujeitos). As formas simbólicas são assim produzidas, construídas e empregadas por um sujeito que está buscando certos objetivos e propósitos e tentando expressar aquilo que ele quer dizer, ou tenciona dizer, nas e pelas formas assim produzidas.


4.1.3 Formas Simbólicas: Aspectos Referentes

Como se viu, as formas simbólicas se referem a uma ampla variedade de fenômenos significativos, desde ações, gestos e rituais até manifestações verbais, textos, programas de televisão, obras de arte, etc.

Deve-se, no entanto, já ressaltar aqui que o significado de uma forma simbólica, ou de seus elementos constitutivos, não é necessariamente idêntico àquilo que o sujeito-produtor tencionava ou “quis dizer” ao produzir a forma simbólica, portanto referindo-se ao aspecto da intencionalidade. Como mostra Thompson, essa divergência potencial está presente na intenção social diária, assim como está presente na resposta indignada “isso pode ser o que você quis dizer, mas não é certamente aquilo que você disse”, e complementa:
Dessa forma, textos escritos, ações ritualizadas ou obras de arte podem ter ou adquirir um significado ou sentido que não pode ser completamente explicado pela determinação daquilo que o sujeito-produtor originalmente tencionou [...] O significado de uma forma simbólica é um fenômeno complexo que depende de e é determinado por uma variedade de fatores. (THOMPSON, 1995 p. 204).
A segunda característica das formas simbólicas é o aspecto convencional. Conforme pontua Thompson:
[...] a produção, construção ou emprego das formas simbólicas, bem como a interpretação das mesmas pelos sujeitos que as recebem, são processos que, caracteristicamente, envolvem aplicações de regras, códigos ou convenções de vários tipos. (THOMPSON, 1995, p.204).
As regras, códigos ou convenções envolvem desde regras de gramática, às convenções de estilo, códigos associados a letras, palavras e até mesmo situações concretas específicas, alcançando convenções que “governam a ação e interação de indivíduos que tentam expressar-se ou interpretar as expressões de outros. [...] Essas regras, códigos e convenções são, geralmente, aplicados em uma situação prática, isto é, como esquemas implícitos ou indiscutíveis para a geração e interpretação de formas simbólicas”. (THOMPSON, 1995, p.184-185)

A essa altura será preciso distinguir entre a produção e a recepção/interpretação de formas simbólicas. Na produção estão presentes regras de codificação, enquanto na recepção/interpretação pode-se falar em regras de decodificação. Esses dois conjuntos de regras não precisam coincidir nem mesmo coexistir.

A terceira característica das formas simbólicas é o aspecto estrutural. Na concepção thompsoniana:
As formas simbólicas são construções que exibem uma estrutura articulada. Elas exibem uma estrutura articulada no sentido de que consistem, tipicamente, de elementos que se colocam em determinadas relações uns com os outros. (THOMPSOM, 1995, p.187).
Os elementos informativos e suas inter-relações compõem, por sua vez, estruturas. Como exemplo cita-se um slide construído através de um editor de apresentações no qual aparece a imagem de um motor e, ao lado dele, a formulação matemática da primeira lei da termodinâmica. Neste exemplo pode-se distinguir entre a estrutura de uma forma simbólica e o sistema que está representado por ela. Conforme Thompson:
Analisar a estrutura de uma forma simbólica é analisar os elementos específicos e suas inter-relações que podem ser discernidos na forma simbólica em questão; analisar o sistema corporificado em uma forma simbólica é, por contraste, abstrair a forma em questão e reconstruir uma constelação geral de elementos e suas inter-relações, uma constelação que se exemplifica em casos particulares. (THOMPSON, 1995, pg. 187-188).
No caso do exemplo citado, analisar a estrutura do slide seria perceber a presença de um motor e a primeira lei da termodinâmica, especificamente; analisar o sistema já se constituiria numa abstração que poderia levar, em princípio, a pensar em qualquer motor térmico cujo princípio de funcionamento está descrito, em caráter geral, pela primeira lei da termodinâmica. No entanto, convém destacar que os significados, no sentido de aspectos referenciais transmitidos pelas formas simbólicas, geralmente não são exauridos pelas estruturas e sistemas, levando a concluir que o valor deste tipo de análise é limitado, também porque formas simbólicas não são apenas concatenações de elementos e suas inter-relações: são também as representações de alguma coisa, apresentam ou retratam algo, “dizem algo sobre alguma coisa” (THOMPSON, 1995, p.189).

Introduz-se aqui, mais precisamente, o conceito de signo, destacando seus aspectos constitutivos como o conceito de significado, relacionado com o som-imagem (ou significante), tornando-se parte integral do signo. Como alerta Thompson,


O referente de uma expressão ou figura não é, de maneira alguma, idêntico ao “significado” (signifié) de um signo, [...] tanto o significado quanto o significante são parte integral do signo. (THOMPSON, 1995, p.189).

Outra característica das formas simbólicas é o aspecto referencial, cujo significado indica, na acepção de Thompson, que “as formas simbólicas são construções que tipicamente representam algo, referem-se a algo, dizem algo sobre alguma coisa”. (THOMPSON, 1995, p.189).

O termo “referencial” está sendo utilizado por Thompson de uma maneira muito ampla, alcançando o sentido através do qual uma forma simbólica, ou um elemento desta, pode, em um determinado contexto, substituir ou representar um objeto, indivíduo ou situação, bem como num sentido mais específico, através do qual uma expressão lingüística pode, em uma determinada ocasião de uso, referir-se a um objeto particular. Como exemplos: num Chat um visitante se inscreve com um determinado nickname, representando um indivíduo - alguém que acabou de ingressar num espaço de interações virtuais; num ambiente virtual-digital para simulações computacionais, um traço em zigue-zague representa uma mola que suspende uma circunferência sendo que esta, por sua vez, quer representar um corpo, de massa m, suspenso pela referida mola. “Como estes exemplos sugerem, as figuras e expressões adquirem sua especificidade referencial de diferentes maneiras”. (THOMPSON, 1995, p.190).
Especificidade referencial significa o fato de que, em uma dada ocasião de uso, uma figura ou expressão (formas simbólicas) particular refere-se a um específico objeto ou objetos, indivíduo ou indivíduos, situação ou situações. Algumas figuras ou expressões adquirem sua especificidade referencial somente em virtude de seu uso em determinadas circunstâncias. (THOMPSON, 1995, p.190).
Quanto à quinta característica das formas simbólicas que se refere ao aspecto contextual, Thompson argumenta:
As formas simbólicas estão sempre inseridas em processos e contextos sócio-históricos específicos, dentro dos quais e por meio dos quais elas são produzidas, transmitidas e recebidas. (THOMPSON, 1995, p. 192).
Formas simbólicas de complexidade maior como textos, discursos, programas de televisão, conteúdos na web etc, geralmente estão vinculadas a instituições específicas dentro das quais, e por meio das quais, são produzidas, transmitidas e recebidas.

O que essas formas simbólicas são, a maneira como são construídas, circulam e são recebidas no mundo social, bem como o sentido e o valor que elas têm para aqueles que as recebem, tudo depende, em certa medida, dos contextos e instituições que as geram, medeiam e mantém. (THOMPSON, 1995, p.192).


Além dos aspectos citados, as formas simbólicas são também trocadas por indivíduos localizados em determinados contextos e tais processos de troca requerem certos meios de transmissão.
Mesmo uma simples troca de expressões verbais numa situação face a face pressupõe um conjunto de aparelhos e condições técnicas (laringe, cordas vocais, lábios, ondas de ar, ouvidos, etc.), e muitas formas simbólicas pressupõem outras condições e aparelhos que são especialmente construídos e desenvolvidos. (THOMPSON, 1995, p.195).
Como já visto, a produção, transmissão e recepção de formas simbólicas tem lugar em contextos sociais estruturados espacial e temporalmente definidos. Quanto aos aparelhos aos quais se refere Thompson, buscando uma adequação conceitual mais precisa e consistente os chamaremos de mídias, desde aqui ampliando, portanto, o conceito usualmente que lhe é atribuído. Quanto às condições técnicas - manteremos este termo – são elas que participam fundamentalmente nos processos de produção, transmissão e recepção da informação, de modo que possam garantir as condições de contorno para que se estabeleça a comunicação. São elas também que integram mídias, em cenários estruturados.

Podem-se ainda pontuar aspectos decorrentes aos que têm sido construídos em termos do referencial teórico, até aqui. Dentre eles se deve notar que as realidades objetivas incorporam elementos subjetivos, de modo que somente se tem acesso ao mundo por meio das representações simbólicas, numa perspectiva semiótica.

4.2 EDUCAÇÃO E MEDIAÇÃO

“Cultura é, simultaneamente, o produto da vida social e da atividade social dos homens” (VYGOSTSKY, 1977). Ainda que com esta sintética definição dada por Lev Semenovich Vygotsky para cultura, será possível estabelecer vínculos significativos com as concepções thompsonianas possibilitando ampliar, significativamente, o referencial teórico no campo do conhecimento científico específico, ao qual se dedica esta pesquisa.

A concepção de cultura apresentada por Vygotsky é também o conjunto das obras humanas, como cita Pino (2006, p.18) “e entre ela e a natureza existe uma linha divisória que, ao mesmo tempo, as separa e as une, pois essa linha passa pelo homem que é, simultaneamente, obra da natureza e agente de sua transformação”.

No âmbito histórico-cultural, a cultura abarca uma multiplicidade de aspectos, todos eles frutos de obras humanas, portadores de significação e reveladores do caráter duplamente instrumental da atividade humana que se refere ao simbólico e à técnica.



1   2   3   4   5   6   7   8   9   ...   12


Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©atelim.com 2016
rəhbərliyinə müraciət