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[150] Que ben que m’ eu sei encobrir


con mia coita e con meu mal,

ca mi-o nunca pod’ ome oïr.

Mais que pouco que mi-a min val!

Ca non quer’ eu ben tal senhor

que se tenha por devedor

alga vez de mi-o gracir.


[151] Pero faça como quiser’,

ca sempre a eu servirei,

e quando a negar poder’,

todavia negá-la-ei;

ca eu ¿por quê ei a dizer

o por que m’ ajan de saber

quan gran sandece comecei,
E de que me non á quitar

nulha cousa, se morte non?

pois Deus, que mi-a fez muit’ amar,

non quer, nen o meu coraçon.

Mais a Deus rogarei por én

que me dê cedo d’ ela ben,

ou morte, se m’ est’ á durar.
E ben dev’ eu ant’ a querer

mia morte ca viver assi,

pois me non quer Amor valer,

e a que eu sempre servi

me desama mais d’ outra ren.

Pero fui ome de mal-sen

porque, d’ u ela é, saí!
CA 81

[155] Preguntan-me por quê ando sandeu,

e non lhe’-lo quer’ eu jamais negar;

e pois me d’ eles non poss’ amparar,

nen me leixan encobrir con meu mal,

direi-lhes eu a verdade e non al:

direi-lhes ca ensandeci

pola melhor dona que vi,

[156] Nen mais fremosa, (lhes direi, de pran,

ca lhes non quero negar nulha ren

de mia fazenda -ca lhes quero ben,)

nen pola que og’ eu sei mais de prez.

E se m’ ar preguntaren outra vez,

direi-lhes ca ensandeci

pola melhor dona que vi.

E Deu-lo sabe, quan grav’ a mi é

de lhes dizer o que sempre neguei;

mais pois me coitan, dizer-lhe’-la ei

a meus amigos, e a outros non.

Mui gran verdad’ é ¡si Deus mi perdon!

direi-lhes ca ensandeci

pola melhor dona que vi.

E se a eles viren, creeran

ca lhes digu’ eu verdade, u al non á,

e leixar-m’ an de me preguntar ja;

e se o non ar quiseren fazer,

querê’-lhes-ei a verdade dizer:

direi-lhes ca ensandeci

pola melhor dona que vi.


Texto 25


CANCIONEIRO DA BIBLIOTECA NACIONAL; leitura, comentários e glossário por Elza Paxeco Machado e José Pedro Machado. Lisboa: Revista de Portugal, 1949-1964. 8v.

Nuno Fernandes Torneol (v.1, p. 149-171)


[151] 70.

(Tr. 149)

Ir-vus queredes, mia senhor,

e fiqu’ end’ eu con gran pesar,

que nunca soube ren amar

ergo vós, des quando vus vi.

E pois que vus ides d’ aqui,

senhor fremosa ¿que farei?

E que farei eu, pois non vir’

o vosso mui bon parecer?

Non poderei eu mais viver,

se me Deus contra vos non val.

Mais ar dizede-me vos al:

senhor fremosa ¿que farei?

E rogu’ eu a Nostro Senhor

que, se vos vus fordes d’ aquen,

que me dê mia morte por én,

ca muito me será mester.

E se mi-a el dar non quiser’:

senhor fremosa ¿que farei?

Pois mi-assi força voss’ amor

e non ouso vusco guarir,

des quando me de vos partir’,

eu que non sei al ben querer,

querria-me de vos saber:

senhor fremosa ¿que farei?

(coblas singulares)




Prosa Doutrinária

Início da Prosa Portuguesa




Texto 26


ORTO do Esposo. In: NUNES, José Joaquim. Crestomatia Arcaica. 7. ed. Lisboa: Clássica, 1970. p. 56-7.

[Uma promessa cumprida]

[56] Ha santa uirgem, que auja nome Dorothea, era leuada pera degolar pella fé de Ihesu Christo, e hu escolastico leterado, que auia nome Theofilo, escarnecendo dela, disse-lhe:

— Tu, espossa de Christo, emvia-me do parayso do teu esposo rosas e pomas.

E a santa uirgem lhe respondeo:

— Certamte asy farey.

E ella, quando ueo ao luguar onde auja de seer degolada, fez oraçõ a Deus. E, acabada a oraçom a Deus, logo apareceu ante ella hu menjno, que tragia  hu pano de linho muy aluo tres maçãas muy nobres e trem rosas muy fremosas. E disse-lhe a santa uirgem:

— Rogo-te que leues esto a Theofilo e di-lhe: Ex aquelo que pidiste a Dorothea que te emviasse do parayso do seu esposo.

E a santa uirgem foy degolada e acabou seu marteyro. E Theo­filo estaua recontando e prometimto que lhe fezera a santa uirgem, escarneçendo della. E aque o menino chegou ante elle cõ o pano do linho aluo  que tragia aquellas maçãas marauilhosas e as rossas muy fremosas e dise-lhe:

— Iirmãao, ex aquj aquello que te prometeu a uirg muy santa Dorothea, que te emuija do parayso do meu esposo.

[58] E entõ Theofllo tomou as pomas e as rosas e braadou muy grande uoz, dizendo:

— Uerdadeiro Deus he Ihesu Christo.

E diseron-lhe os companheyros:

— Ensandeces ou dizes esso em jogo?

Respondeu Teofilo:

— Eu nõ soom sandeu, n ey talante de jogo, mais creo uerda­deyramte que Ihesu Christo he uerdadeyro Deus, ca agora he o mes de feuereyro e toda esta terra de Capadocia he cuberta de geada e de friu o nõ ha em ella folhas verdes n flores nehas, pois donde pensa­des que ueerõ estas maçãas con suas folhas e estas rosas tam fremosas?

E elles diserom:

— Esso nõ sabemos nós.

E Theofilo lhes disse:

— Eu faley a Dorothea, quando a leuauã a degolar, e dise-lhe em escarnho: Molher, hu te uaas? E ella me disse: uou-me para o meu amigo e meu esposo Ihesu Christo, que me conujda pera muy santas uodas e muy solempnes manjares para o seu parayso. E eu lhe disse como a sandia: Quando fores em esse parayso, uja-me das rosas e das maçãas. E ella me prometeu que o farya. E agora, tanto que foy degolada, ueeo a mi hu menjno, que me parece que nõ he mais de idade de quatro ãnos, e chamou-me a de parte e falou-me tam perfectamente que a m parecia soer eu rustico ante el e amostrou-me e deu-me este pano cõ estas tres rosas e tres maçãas e dise-mo: Aquella uirgem santa Dorothea te uja esto, asy como o prometeu, estas doas do orto do seu esposo. E, tanto que as eu tomey e começey de braadar, logo aquelle moço nõ pareçeu mais, e eu creo que era angeo de Deus.

E logo Theofilo começou a braadar:

— Bem auturados som aquelles que creem em Ihesu Christo, e aquelle que dá a elle a sua fé he uerdadeyro sabedor.

E degolarõ-no con outros e foy-se pera o parayso do deleyto, que he eno çeeo. E asy mostrou este leterado a sua doutrina par paçiençia, ca, segundo diz hu santo padre, a doutrina do barõ conheça-sse pela paciçia, ca, quanto o hom he meos pacite, tanto se mostra por meos sinado.

(Do Orto do esposo, códice alcobacense n.º 273/198, fols. 22 e V.).





Texto 27


JOSEP ab Aramatia. In: NUNES, José Joaquim. Crestomatia Arcaica. 7. ed. Lisboa: Clássica, 1970. p. 74-79.

Um episódio do Josep ab Aramatia


DOS GRAMDES TRABALHOS QUE MORDAYMNA PENA PASSOU E DAS TENTAÇÕES QUE O DIABO LHE FEZ E DO QUE LHE DEOS DISSE

[74] Em esta maneyra foy elrey na pena e cada dia ho omem bom da naao vinha ha ele e depois ha molher, e o omem bom lhe dezia todas as palavras que ho podiam comfortar, e a molher lhe dezia toda trayçam, qua ella ho descomfortaua em corpo e em alma.

E, quando veo aos sete dias, veo ho homem bom da nao e dise-lhe que se lhe achegava ho prazo de ser lyvre, se se soubese guardar e ter-se comtra ho diabo. E elrey lhe dise:

[75] — Senhor, como me saberya eu bem guardar?

E ele lhe dise:

— Se te oje toda via poderes guardar de asanhares teu Senhor, tuu seras lyvre de todos os penares e de todas estas más trevas que te am de vir, se te nom guardares de crer comselho que seja comtra sua vomtade. E, quamdo d’aquy pasares, averás pasadas as gramdes trebulações.

Emtam se foy o senhor da barca e elrey ficou muy ledo e pôs bem em seu coraçam que já, por causa que visse, nom se partysse da pena. Asy esteue, até que foy ora de noa. Entam oulhou por ho mar e via vyr ha muy gramde nao e muy rica, mas nam via hy homem nem molher. A nao era muy formosa e guarnyda de muy fer­mosas cousas e veyo-se direyto a pena, e, tamto que chegou, come­çou-se h mao tempo e (a nao chegou a pena o tempo) começou a fazer trovõis, chuveiros tam fortemente que parecia que a pena querya cair, e nom ouvera homem que ho vise que nom cuydase que se vinha afim.

Elrei estaua na pena e a chuva ha ferya de todas partes e nom sabia omde me fosse escomder, que a parte da pena omde a coua era cayra e a tempestade cada vez era mayor, os coryscos muy ameude cayam e tam desamparado era ellrey que nnca d’aquele perygo cuydou escapar. Asy sofreu elrey ho tromento do vemto e da chuva e dos coryscos no corpo e na alma, mas por yso nom se quys acolher a nao, nem leyxar a pena; tamto sofreo, atá que o tempo estiou e o soll começou a esclarecer, e entam foy muy ledo.

E emtam veio ha tam grarnde quemtura que parecia que a pena querya arder, e, se ante elrrey sofreo pena, mjll tamto lhe foy esta. Via amte ey a nao toda aparelhada de boas camaras, omde, se hy emtrasse, poderia bem sofrer a gramde quemtura, mas ele duvidou tamto a sanha de seu Senhor que pôs em seu coraçam de amte sofrer morte que leyxar a pena.

Com muyta paciçia sofreo elrey esta quemtura, atá que a cabeça lhe esuaeçeu e nom se pode ter e caio esmorecido. E, quamdo hacor­dou, ergeo h pouco a cabeça, pera ver se ho tempo amamsara. E, quamdo via que era temperado, asy como avia de ser amte ora de nona e besporas, foy muy ledo. Emtam prouou se se poderya herguer com a cabeça que lhe esuaeçera e, quaindo se ouve de alevamtar, nom semtio mall nem dor. E, quamdo se ergeo, maravilhou-se das gramdes avemturas que lhe acomteceram e sofrer tam gramdes traba­lhos e nom hos semtir, e as vezes lhe parecia que sonhara e tamto era ledo. Nysto cuydou, atá que foy bespora, e oulhou e vio vir ha [76] nao muy nuamente aparelhada e vio-[a] muy rica, e, quamdo se foy chegamdo, vio no castelo d’avamte hir dons escudos e conheceu que hu era ho seu e o outro de seu cunhado Naçeram e maravilhou-se e começou muyto ha cuydar, tamto que se esqueçeo, e logo ouvio rimchar h cavalo e escarvar com as mãos tamto que pareçia que bry­tava a nao, ho que elrey ouvio muj bem, e pareçeo-lhe no rimchar que haquele era ho seu cavalo, que ele guanhara de Tolomer, na batalha de Orcanze.

Muyto se maravilhou elrey do cavalo e dos escudos que via em estranha terra e que aventura poderya ser que ally os trouxese. E nesto a nao chegou tamto que emcorou na pena e elrey se hergeo e vio muy fermosa gemte.

Emtam veo h homem fora, que mais parecia cõ h seu irmão que lhe mataram em haa batalha. E, quamdo ho vio, foy muy ledo comtra ele, mas vio-lhe fazer muy mao comtynemte, em tamto que muyto fez perder a elrey de sua alegrya e toda via ho foy abraçar e pregtou-lhe por que fazia tam triste gesto, e ele lhe disse:

— Senhor, nam posso fazer menos, qua vos perdestes dons ami­gos, os mylhores que numca tyvestes no mumdo, eu e Naçeram, voso cunhado, que vede-lo aquy na nao en ha cama.

Quamdo elrey ysto ouviu, cayo esmorecido e, quamdo acordou, dise-lhe que lho mostrasse e deu brados, como homem samdeu, e tornou outra vez a cair esmorecido. E ho homem ho tomou por a mão esquerda e o levou a nao.

Quamdo elrey foy na nao, vio h leyto e ergeo h pano e vio hu corpo que bem cuydou que era Naçeram, e caio emtam esmoreçido de sorte que, quem ho vira disera que nom escaparya. E, quamdo acordou, quys pregumtar ao cavaleiro em que forma Naseram morrera e teve olho a pena e vio-se muy alomgado, tamto que hapenas a podia ver. E, quamdo ysto vio, [caio] esmorecido e, quamdo acordou, bemzeo-se, e, tam azinha como ouve feyto o synall da cruz, nam vio homem nem molher na nao, nem no leyto.

E, quãdo vio como ho negoçio hia, começou muy feramente a chorar, e dise:

— Senhor Deus, ora me guardey mall comtra vós e agora sey que vos fize torto, e, se me m²€vier, bem ho mereçy.

E, tam azynha como ysto disse, vio na proa da nao aquele homem que ele vi[r]a na barca fermosa da prata e que toda a semana lhe dissera as boas palavras. E, tamto que o vio, dyse-lhe choramdo:

— Ay, Senhor, como me emganou haquele de que vós me mamdastes gardar!

E ho omem lhe dise:

[77] — Nom chores, mas guar-te de fazeres pior.

E elrey lhe preguntou que poderya fazer e ele lhe disse:

— Muitas estranhas avemturas verás que te acomteçerám, mas jamais norn comerás nem beberás, atá que nom aches Naseraw, teu cunhado. E virá a ti, como verdadeiro crystam, e, quamdo ho asy vires, emtam sabe que serás livre. E sabe bem que o anho que te eu disse omtem por a menham e o lobo que tu vias nesta nao ho podes ver, e este que te disse como Naseram era morto, este he o diabo, que sempre he lobo comtra as ovelhas de Deus, tamto como comtra o povo de Deus, e este he o lobo que em tua visam te tolhya os bõs mamjares que te ho anho dava, e aquele cordeiro saberás tu muy bem que quer ser, mas esto non será seraá ha vez, e emtam te será descuberta sua visam e o que pode seneficar. Bem sabe que aquele diabo que te meteo na nao foy aquela molher que a ty vinha cada dia e te dezia as más palavras. Ora te vay e olha como te guardes comtra ela ho mylhor que puderes e mylhor que atá’quy te guardaste, que, se te nom souberes guardar, muy azinha verás cousas que te tornarám a morte perduravell.

Emtam se calou, que lhe nom disse mais, e elrey oulhou e nam ho vio e ficou só na nao e o vemto deu na nao e toda a noute e dia a trouxe de quá pera lá. E a outro dia, estamdo elrey na cadeira do mestre, oulhou e vio lomge da nao h homem, asy como a pé, e, quamdo foi perto, vyo-lhe debaixo dos pés duas aves que os sostynham e o traziam tam lygeyramente como ha podia mais boar [voar]. E, quamdo veio a nao, emtrou e começou a fazer ho sinall da cruz sobre ha nao e tomou agoa de demtro da nao e lavou toda ha nao de demtro com ambas as mãos, sem cousa falar. E el-rey oulhou e muito se mara­vilhou que podia ysto ser e por que ho omem deytava ha agoa hasy por a nao.

E, quamdo ho omem jsto teve feito, falou ha el-rey e dise-lhe:

— Mordaim.

Elrey se maravilhou muyto, quãdo se vio nomear por seu nome de bautismo, e lhe respomdeo:

— Senhor.

E ho homem bom lhe dise:

— Sabes quem sam [sou]?

— Nem, disse elrey.

E o homem bom lhe disse:



— Sam teu defemdedor por mamdado de Ihesu Christo; eu sam [sou] Salustes, aquele em cujo nome e em cuja omrra tu fizeste a rica ygreja na cidade de Sarrar, e vym-te comfortar e acomselhar. E emvia-te dizer por mym ho anho, aquele que em tua visão te daua os bõs mamjares que o lobo te tolhia, que tu vemçeste ho lobo, e [78] ysto foy por ho synall da cruz que tu fyzeste sobre ty, quamdo te viste halomgado da pena, e emtam te leixou ho lobo. Este foy ho diabo, que amtes te tolhia os bõs mamjares que ho cordeiro te daua; estas sam as boas palavras que o omen bom da nave te dezia: aquele homen bom era ho cordeiro que em tua visam te dava os bõs mamjares. E sabe que ho anho de Deus, que por ha terreal lynhajem foy sacryfycado, que veo tam mamso a cruz, como ho anho ha morte, este hé Ihesu Christo, filho da Vyrgem. Aquele que cada dia te vinha comfortar, aquele me embiou a ty por te descobryr tua visam asy como te ele mostrou, pera que tu saybas que quer dizer. Tuu viste de teu sobrynho sair h laguo e dele sai[re]m nove rios e os oyto eram todos ygaes, e o noveno, que derradeiro naçera, era tam formoso e tam gramde como todos os outros, e o lago era muy fer­moso e muy grande, e tuu oulhaste e vyste sobre ty vir h omem que tynha semelhança do verdadeiro croxofixo, e, quamdo deçeo, emtrou no lago e lavou nele os pes e as pernas e outro sy em todos os outros oyto rios, e no nono se lavaua todo. Aquele lago e teu sobrynho em que Ihesu Christo banhara seus pes e suas pernas tamto quer dizer que ele era de tam boa vida que sera verdadeyro na samta fé, do quall sairám os nove rios. Estes serã nove homs que dele decem­derám e nom serám todos seus filhos, amtes decemderárn de hu e do outro por geraçam e todos oyto seram ygaes de bomdade e de vida, pero ho oytauo nom será no começo de tall vida, mas se-lo-ha depois, ho noveno sera de muy mayor alteza de vida que todos, e, por que de todas bomdades vemcerá os outros, por ysso banhará Ihesu Christo nele todo o seu corpo, ysto nam vestido, mas nuu, que ele se espirá amte ele de tall maneyra que lhe mostrará todas as suas porydades, que ele nqa ha omen descobryo. Aquele será cõprydo de todas as bomdades que em coraçam de homem deva d’aver e pasará de armas todos aqueles que amte ele fora e serám; aquele será aquele de quem ho amygo falou em Sarrat, quamdo feryo Josefes com a lamça da vimgança, quamdo disse que jamais as maravilhas do Greall nom seryan descubertas senam a h homem soo; aquele será o noveno dos que decemderám de teu sobrynho e será tall como te eu digo, mas ho gramde mylagre e as gramdes vertudes que acomtecerám aly omde ho seu corpo jazerá nom seram sabidas, porque naquele tempo saram muy poucos que saybam verdadeiros synaes de sua sepultura. Agora te faley já de tua visan, ora te quero falar desta nao e porque deytey por ela agoa, que esta naao foy do diabo, que tu por ho synall da cruz deytaste e, por que foy sua, nom podia ser que alga vez ha ela nom viesse, senom fosse lympa, e agora sé lympaa por a agoa e por ho synal da cruz e por ho comjuramento da Samta Trymdade asy que nenh maao esprito nela emtrará, que elles nenha cousa, tamto temem como ho synal [79] da cruz (he bemzia no nome do Padre e do Filho e do Esprito Santo) e por esta bemçam fica lympa de toda a sogidade [sujeira], e em quall quer lugar que ysto com boa fé fycar ja o diabo nam será ousado que hy vaa. Em tall maneyra faze e serás seguro que, no lugar omde ho fizeres, o diabo nom terá poder de fazer mall a teu corpo, nem tua alma nom será perdida.

Emtam se calou ho samto homem e partio-se dele e elrey ficou na náo, asy como ouvydes. (Capítulo LXVI do códice n.º 643 existente no Arquivo da Torre do Tombo, fols. 105 a fols. 110).






Texto 28


LAPA, Rodrigues (sel.). A morte de Genevra. In: Crestomatia Arcaica. 4. ed. Lisboa: Sá da Costa, 1976. 89p. p. 48-52.

[48] A morte de Genevra15

Eu esta parte diz o conto que, pois a rala Genevra entrou en orden con pavor dos filhos de Mor­deret, ela foi sempre mui viçosa de todolos viços16 do mundo; onde avo que, pois ouve de sofrer as lazeiras17 da orden, que non avia eu custurne, caeu logo en camanha enfermidade que todos aqueles que a vian avian maior asperança en sa morte ca en sa vida. E ela avia consigo ha donzela de gran guisa e que presera18 orden por amor dela. Aquela donzela fora entendedor de Giflet, filho de Dondinax. E porque a rala ouvira dizer que Giflet tevera mais longamente companha a rei Artur ca outro cavaleiro, amava tanto a companha desta donzela que non podia mais. E confortavan-se antre si e choravan muito [49] ameúde, quando lhis lembrava os grandes viçose a grande alteza e grande poder eu que foran, e ora eran en orden, con pavor da morte.

A raa, como quer que fosse eu orden, non quedava19 de fazer 3 por Lauçalot e que non dissesse alga vez: — Ai, meu senhor Lan­çalor, don Lançalot, e como vos esqueci, que amais nunca cuidei que vós me leixássedes! Se vós catássedes20 a vossa bondade e o vosso prez, e er21 o gran poder que Deus vos deu, lembrar-vos-íades alga vez de min e vinga­ríades a morte de rei Artur e conquistatíades o reino de Logres e alegraríades-mi desta cuita eu que soõ e deste poder alheo eu que soõ, eu que me meti con pavor de morte.

Esto dizia a raia de Lançalot, u jazia doente, e a donzela a confortava muito quanto ela podia.

E dizia que non ouvesse pavor, ca ben soubesse verdadeiramente que Lançalot non tardaria muito que non veesse, que já ela ende22 ouvira novas. E a raa respondeu: — Sobejo me tarda, e sei que eu sa tardança tenho morte.

Eu aquela abadia avia hfia monja que entrara eu orden porque entendera eu Lançalot e uon na quisera, e desamava a raia mui de coraçon, porque a leixara Lançalot por amor da raa. E pensou que, pois ela non podia vingar sa sanha en Lançalot, que a vingaria en a raa. U dia avo23 que disse esta dona aa amiga de [50] Giflet, aquela que a raa guardava, e fez sembrante que non queria que a raa a ouvisse:

— Ai, donzela, maas novas vos trago! Don Lançalot, que via con gran poder por conque­rer o reino de Logres, perdeu-se no mar con toda sa gente.

— Par Deus — disse a amiga de Giflet — gran perda é essa. Mas como o sabedes vós se é ver­dade?

— Eu o sei ben — disse ela — por aquel que o viu.

A raa, que jazia doente, quando ouviu estas novas ouve tan gran pesar, que a poucas que non foi sandia; pero encubriu-se ben, con pavor daquela que as novas dizia. E, pois se partiu, disse a raa con gran pesar:

— Ai, mar amargoso e maldito, comprido de amargura e de door, néicio, mao e desconho­çudo, mal m’ás morta, que vós à mais leal amador do mundo tolhestes seu amor.

Pois disse esto, calou-se con tan gran pesar, que non pôde mais comer nen bever; e jouve24 assi três dias. Ao quarto dia veeron novas que Lançalot, sen falha25, aportara na Grã-Bretanha con tan gran cavalaria e tan bõa, que non a omen no mundo que o ousasse atender en campo.

A donzela que a raa guardava foi mui leda quando estas novas ouviu, e foi-se correndo aa raia e disse-lhi:

— Senhora, muito vos trago bõas novas.

[51] Sabede verdadeiramente que don Lançalot é na Bretanha con tanta gente que, en pouca sazon, a correrá toda.

A raa, que preto estava de morta, quando estas novas entendeu, respondeu a grande afã26:

— Donzela, tarde mo dissestes e já me non vai ren sa vida, ca eu soõ preto de morta. Mas pero, porque don Lançalot é o homen do mundo que eu mais amo, rogo-vos que façades, polo meu amor e o seu, o que vos quero rogar.

— E ela lhi prometeu lealmente que o faria a todo seu poder.

— Pois ora vo-lo direi — disse a rala. — Eu bem vejo que soõ morta e non ei crás a cheguar aa manha; e ben vos digo que nunca foi27 leda tanto de novas como destas. E de outra parte, pesa-me sobejo que o non posso veer ante que moira; ca me semelhalo que, se o visse, que mia alma seeria mais leda. E porque eu quero que ele veja e saiba que de sa vida mi praz e que moiro con pesar e que de grado o queria veer, se podesse, porén eu vos rogo que, tan toste28 que eu moira, que me tiredes o coraçon e que lho ievedes en este elmo que foi seu; e que lhi digades que, en renembrança de nossos amores, lhe envio o meu coraçon, que nunca el o esqueceu.

[52] Aquel dia mesmo, passou a rainha Genevra e a donzela fez seu mandado; pero non achou Lançalot, e por esto non acabou todo o que lhe mandara a rainha.
POESIAS SATÍRICAS
Afons’ Eanes do Coton

29


A a velha quis ora trobar,

quand’ en Toledo fiquei desta vez;

e veo-me Orraca López rogar

e disso-m’ assi: — Por Deus, que vos fez,

non trobedes a nulha velh’ aqui,

ca cuidaran que trobades a min.


30

Ben me cuidei eu, Maria Garcia,



en outro dia, quando vos fodi,

que me non partiss’ eu de vós assi

como me parti já, mão vazia,

vel por serviço muito que vos fiz;

que me non destes, como x’ omen diz,

sequer un soldo que ceass’ un dia.

Mais desta seerei eu escarmentado

de nunca foder já outra tal molher,

se m’ ant’ algo na mão non poser,

ca non ei por que foda endoado;

e vós, se assi queredes foder,

sabedes como: ide-o fazer

con quen teverdes vistid’ e calçado.

Ca me non vistides nen me calçades

nen ar sej’ eu eno vosso casal,

nen avedes sobre min poder tal

por que vos foda, se me non pagades;

ante mui ben e mais vos en direi:

nulho medo, grado a Deus e a el-Rei,

non ei de força que me vós façades.

E, mia dona, quen pregunta non erra;

e vós, por Deus, mandade preguntar

polos naturaes deste logar

se foderan nunca en paz nen en guerra,

ergo se foi por alg’ ou por amor.

Id’ adubar vossa prol, ai, senhor,

c’ avedes, grad’ a Deus, renda na terra.
31

Covilheira velha, se vos fezesse

grand’ escarnho, dereito i faria,

ca me buscades vós mal cada dia;

e direi-vos en que vol’ entendi:

ca nunca velha fududancua vi

que me non buscasse mal, se podesse.

E non est’a velha nen son duas,

mais son vel cent’ as que m’ andan buscando

mal quanto poden e m’ andan miscrando;

e por esto rogu’ eu de coraçon

a Deus que nunca meta semeldon

antre min e velhas fududancuas.

E pero, lança de morte me feira,

covilheira velha, se vós fazedes

nen un torto se me gran mal queredes;

ca Deus me tolha o corp’ e quant’ ei,

se eu velha fududancua sei

oje no mundo a que gran mal non queira.

E se me gran mal queredes, covilheira

velha, digu’ eu que fazedes razon,

ca vos quer’ eu gran mal de coraçon,

covilheira velha; e sabed’ or’ al:

des que fui nado, quig’ eu sempre mal

a velha fududancua peideira.
32

Fernan Gil and’ aqui ameaçado

dun seu rapaz e doestado mal;

e Fernan Gil ten-se por desonrado,

ca o rapaz é mui seu natural:

é filho dun vilão de seu padre

e demais foi criado de sa madre.

33


Pero da Ponte, ou eu non vejo ben,

ou de pran essa cabeça non é

a que vós antano, per boa fé,

levastes, quando fomos a Geen;

e cuido-m’ eu adormecestes ....

34


Foi Don Fagundo un dia convidar

dous cavaleiros pera seu jantar,

e foi con eles sa vaca encetar;

e a vaca morreu-xe logu’ enton,

e Don Fagundo quer-s’ ora matar,

por que matou sa vaca o cajon.

Quand’ el a vac’ ante si mort’ achou,

logu’ i estando mil vezes jurou

que non morreu por quant’ end’ el talhou,

ergas se foi no coitelo poçon;

e Don Fagundo todo se messou,

por que matou sa vaca o cajon.

Quisera-x’ el da vaca despender

tanto per que non leixass’ a pacer;

ca, se el cuidasse sa vaca perder,

ante xa der’ a quen-quer, assi non;

e Don Fagundo quer ora morrer,

por que matou sa vaca o cajon.

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35

Meestre Nicolás, a meu cuidar,

é mui bon físico; por non saber

el assi as gentes ben guarecer,

mais vejo-lhi capelo d’ Ultramar

e trage livros ben de Mompisler;

e latin come qual clérigo quer

entende, mais nõno sabe tornar;

E sabe seus livros sigo trager,

como meestr’, e sabe-os catar

e sabe os cadernos ben cantar;

quiçai non sabe per eles leer,

mais ben vos dirá quisquanto custou,

todo per conta, ca ele xos comprou.

Ora veede se á gran saber!

E en bon ponto el tan muito leeu,

ca per i o preçan condes e reis;

e sabe contar quatro e cinqu’ e seis

per estrolomia ’n que aprendeu;

e mais vos quer’ end’ ora dizer eu:

mais van a el que a meestr’ Andreu,

des antano que o outro morreu.

E outras artes sab’ el mui melhor

que estas todas de que vos falei:

diz das aves en como vos direi:

que xas fezo todas Nostro Senhor;

e dos estormentos diz tal razon:

que mui ben pod’ en eles fazer son

todo ome que en seja sabedor.
36

Orraca López vi doente un dia

e preguntei-a se guareceria.

E disse-m’ ela, tod’ en jograria:

— Sõo velha e cuid’ a guarecer.

E dixe-lh’ eu: — Cuidades gran folia,

ca i mais vej’ eu das velhas morrer.

E dixe-lh’ eu: — Gran folia pensades,

se per velhece a guarecer cuidades;

pero non vos digu’ eu que non vivades

quanto vos Deus quiser leixar viver;

mais en velhice non vos atrevades,

ca i mais vej’ eu das velhas morrer.
37

Paai Rengel e outros dous romeus

de gran ventura, non vistes maior,

guarecerán ora; loado a Deus,

que non morreron, por Nostro Senhor,

en a lide que foi en Josafás:

a lide foi com’ oj’ e, come crás,

prenderan eles terra no Alcor.

E ben nos quis Deus de morte guardar,

Paai Rengel e outros dous, enton,

da lide que foi en Ultramar,

que non chegaran aquela sazon;

e vedes ora por quanto ficou:

que o dia que s’ a lide juntou,

prenderam eles port’ a Mormoion.

De como non entraron a Blandiz,

per que poderan na lide seer,

já os quis Deos de morte guarecer,

per com’ agora Paai Rengel diz;

e guareceron de morte poren:

que, quando a lide foi en Belen,

aportaron eles en Tamariz.

38

Veeron-m’ agora dizer



da molher que quero ben,

que era prenhe, e já creer

non lho quig’ eu per nulha ren;

pero dix’ eu: — Se est’ assi,

õi-mais non creades per mi,

se a non emprenhou alguen.

E digo-vos que m’ é gran mal

daquesto que lhi conteceu,

ca sõo eu cord’ e leal,

pero me dan prez de sandeu;

mais vedes de que ei pesar

daquel que a foi emprenhar:

de que cuidan que xa fodeu.

Pero juro-vos que non sei

ben este foro de Leon,

ca pouc’ á que aqui cheguei;

mais direi-vos a razon:

en mia terra, per boa fé,

a toda molher que prenh’ é

logo lhi dizen: — Ten baron!




POESIA PALACIANA


39 - TROVAS EM UM CAMINHO
Os lugares em qu’andei

convosco ledo, e ufano,

nesta tristeza os busquei,

mas o que neles achei

foi a meu dano mor dano.

Comecei-lh’a perguntar

que fora daquela grória

qu’ali me viram passar:

responderam, sem falar,

qu’estaria na memoria.


— “Em qual memória” — pregunto —

“pode tal lembrança ser?”


— Responderam: “Tudo junto,

o próprio e o transunto,

na vossa podereis ver”.

Na resposta que senti

vi meu mal camanho era,

vi o que logo me vi:

partir deles e de mi

para donde não quisera.


Comecei de caminhar

um caminho povoado,

por um mui craro luar

que me fazia parar

a cada passo pasmado.

Pus os olhos nas estrelas,

por não ver por donde andava,

olhando por todas elas;

lágrimas tristes, querelas,

escuro tudo tomava.


Com lembranças ledas tristes,

vim assi fantesiando;

fantesias que não vistes,

sentidos que não sentistes

como nos vinham matando...

Mas quem soubera morrer

a tal tempo, e tal hora,

para não tornar a ver

vida tão má de sofrer

com’esta triste d’agora!


Ó vida de minha vida,

ó triste grória passada,

ó memória entristecida,

pois sois tão desconhecida

para que me lembrais nada?

Esquecei vossas lembranças,

deixai-me viver assi

sem vossas vãs esperanças,

porque com vossas mudanças

vivo sem vós e sem mi.


40 - CANTIGA E FIM
Lembranças, não persigais

a quem já não tem poder

mais que quanto vós lhe dais

mais suspiros e ais, para chorar e gemer.


Ó minha triste memória,

ó minha dor não fingida,

se lembrar fosse vitória,

a quem daríeis mais grória

qu’a quem dais tão triste vida?
Mas estas lembranças tais

devíeis já d’esquecer

que, se lembram, acordais

os meus suspiros, e ais,

e meu chorar e gemer. (Francisco de Sousa)

41 - AIRES TELES E CONDE DO VIMIOSO


TROVAS QUE MANDARAM O CONDE DO VIMIOSO E AIRES TELES À SENHORA DONA MARGARIDA DE SOUSA SOBRE UMA PORFIA QUE TIVERAM PERANTE ELA, EM QUE DIZIA AIRES TELES QUE NÃO SE PODIA QUERER GRANDE BEM SEM DESEJAR, E O CONDE DIZIA O CONTRÁRIO.
AIRES TELES
Desejar e bem querer

são, Senhora, tão parceiro,

que os amores verdadeiros

sem ambos não podem ser;

porque a causa querer bem,
o desejar o efeito:

amores que este não tem

não me negara ninguém

que não têm o ser perfeito.


Não digo que o desejar

seja no homem primeiro,

mas venha por derradeiro,

pera se certificar

o bem querer verdadeiro;

porque quem este não tem,

hei por mui certo sinal

ou que não quer bem nem mal,

ou que quer pequeno bem.
E bem se poderá achar

desejar sem bem querer,

grande bem sem desejar

no homem não pode ser;

e quem tal conclusão tem

contra a minha opinião,

vai tão fora da razão,

como está de querer bem.


Sentir-se-á se se não vir

qualquer cousa desejada,

mas quem não deseja nada

não tem nada que sentir.

Ora Vossa Mercê veja

qual daquestes mais merece:

quem quer bem, e não deseja,

ou quem deseja, e padece?

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CONDE DO VIMIOSO
VILANCETE
Meu amor, tanto vos amo,

que meu desejo não ousa

desejar nenhuma cousa.
Porque, se a desejasse,

logo a esperaria;

e, se a eu esperasse,

sei que vos anojaria.

Mil vezes a morte chamo,

e meu desejo não ousa

desejar-me outra cousa.
AIRES TELES
Sem outros mais argumentos

na sua mesma razão,

jaz, Senhora, a confusão

de todos seus fundamentos.

No que diz contra o que digo

nas razões que dei arriba,

ele só luta consigo,

ele mesmo se derriba.

VILANCETE
Meu amor tanto vos quero,

que deseja o coração

mil cousas contra razão.
Porque, se vos não quisesse,

como poderia ter

desejo que me viesse
do que nunca pode ser?

Mas conquanto desespero,

é em mim tanta afeição,

que deseja o coração.

Esforça meu coração,

não te mates, se quiseres

lembra-te que são mulheres.
Lembra-te que por nascer

nenhuma que não errasse,

lembra-te que seu prazer,

por bondade, e merecer.

não vi quem dele gostasse;

pois não te dês à paixão,

toma prazer se puderes,

lembra-te que são mulheres.


Descansa, triste, descansa,

que seus males são vinganças,

tuas lágrimas amansa,
leixas suas esperanças.

Ca pois nascem sem razão,

nunca por ela lh’esperes,

lembra-te que são mulheres.


Tuas mui grandes firmezas,

tuas grandes perdições,

suas desleais nações

causaram tuas tristezas.

Pois não te mates em vão,

que quanto mais as quiseres,

verás que são as mulheres.
Que te presta padecer,

que te aproveita chorar,

pois nunc’ outras hão de ser

nem são nunca de mudar?

Deixas com sua nação,

seu bem nunca lho esperes,

lembra-te que são mulheres.
Não te mates cruamente

por quem fez tão grande errada,

que quem de si se não sente,

por ti não lhe dará nada.

Vive lançando pregão

por u fores e vieres,

que são mulheres mulheres.



Produção Literária Clássica


42 - Sá de Miranda:
Em tormentos cruéis, tal sofrimento

em tam contínua dor, que nunca alivia,

chamar a morte sempre, e que ela, altiva

se ria dos meus rogos, no tormento!


E ver no mal que todo entendimento

naturalmente foge, e quanto aviva

a dor mais o vagar da alma cativa

a quem não fará crer que é tudo um vento?


Bem sei uns olhos, que têm toda a culpa,

e são os meus, que a toda a parte vêm

após o que vêem sempre e os desculpa.
Ó minhas visões altas, meu só bem,

quem vos a vós não vê, esse me culpa,

e eu sou o só que as vejo, outrem ninguém!
(AMORA, Antônio Soares. Era Clássica. 5. ed. São Paulo: DIFEL, s. d. p. 20.)

[23] Quando entoar começo com voz branda

Vosso nome d’amor, doce e suave,

A terra, o mar, vento, água, flor, folha. ave,

Ao brando som s’alegra, move e abranda.

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