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Enfrentando nossos limites: Educação popular e escola pública


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Rosiska de D.Oliveira e Miguel de D. Oliveira


"Para a grande maioria das pessoas a palavra pesquisa vem sempre associada à elaboração por especialistas e estudiosos de volumosos e abstratos trabalhos científicos, que tratam de temas complexos e, por isso, devem ser redigidos numa linguagem inacessível ao comum dos mortais. Pesquisa é coisa de intelectual, de universitário, que não tem nada que ver com a vida real. E, de fato, a maior parte dos trabalhos de pesquisas são tarefas que estudantes universitários devem executar para comprovar, diante de seus pares, sua competência e ser recompensados com os diplomas e honrarias acadêmicas.

O destino destes trabalhos é quase sempre as gavetas e estantes das bibliotecas universitárias onde sua tranqüilidade só será perturbada, de vez em quando, por outro estudante em busca de referências ou citações para a sua própria pesquisa.

Nos últimos anos, no entanto, ao lado de tais pesquisas senão inúteis, pelo menos subutilizadas, começaram a se generalizar estudos da realidade social com objetivos agora muito mais precisos e utilizáveis. Instituições diversas, desde agências governamentais até corporações multinacionais, têm financiado e patrocinado projetos de pesquisa cada vez mais sofisticados cujo objetivo é conhecer as condições de vida, pautas de comportamento, motivações e aspirações de grupos sociais ditos marginalizados ou então considerados, pelos donos do poder, como propensos a comportamentos rebeldes e contestatários.

Nos países da América Latina, multiplicaram se as pesquisas sobre as populações indígenas, sobre grupos de favelados e de moradores da periferia das grandes cidades, sobre operários industriais e estudantes, etc. Nos Estados Unidos, especialistas dos mais variados ramos das ciências sociais se debruçam sobre o comportamento das minorias étnicas, enquanto que na Europa ocidental o foco passou a incidir sobre os grupos que questionam o consenso e a ordem estabelecida como os jovens, as mulheres, os trabalhadores emigrados, os grupos de bairro, os movimentos ecológicos e regionalistas, etc.

As temáticas que são objeto de estudo variam segundo cada contexto sóciopolítico mas, por toda parte, um mesmo padrão de comportamento é adotado pelo pesquisador em relação ao objeto de sua pesquisa: são sempre os oprimidos e os contestatários que são identificados, analisados, quantificados e programados de fora pelo opressor ou por aqueles que o representam. São sempre aqueles que detêm o saber e o poder social que, com o auxílio dos instrumentos científicos, determinam unilateralmente o que, como e quando deve ser pesquisado e que decidem sobre o destino a ser dado ou o uso a ser feito dos resultados da pesquisa. O grupos "observados" não tem nenhum poder sobre uma pesquisa que é feita sobre eles e nunca com eles. Para o pesquisador, tais grupos são simples objetos de estudo e pouco se lhe importa que os dados e respostas colhidos durante a pesquisa possam ser utilizados pelos que financiam o seu trabalho para melhor controlar os grupos que ameaçam a coesão social. Na verdade, os problemas estudados não são nunca os problemas vividos e sentidos pela população pesquisada. É esta população em si mesma que é percebida e estudada como um problema social do ponto de vista dos que estão no poder. As ciências sociais transformam se, assim, em meros instrumentos de controle social.

Mas, evidentemente, este uso manipulador e domesticador não é o único uso possível que pode e deve ser feito das ciências sociais. O estudo e o conhecimento da realidade são também necessidades imperativas do ponto de vista dos que querem transformá la.

( ... ) Pensamos que a finalidade de qualquer ação educativa deva ser a produção de novos conhecimentos que aumentem a consciência e a capacidade de iniciativa transformadora dos grupos com quem trabalhamos. Por isso mesmo, o estudo da realidade vivida pelo grupo e de sua percepção desta mesma realidade constituem o ponto de partida e a matéria prima do processo educativo.

Como sempre nos lembra Paulo Freíre, educação não é sinônimo de transferência de conhecimento pela simples razão de que não existe um saber feito e acabado, suscetível de ser captado e compreendido pelo educador e, em seguida, depositado nos educandos. O saber não é uma simples cópia ou descrição de uma realidade estática. A realidade deve ser decifrada e reinventada a cada momento. Neste sentido, a verdadeira educação é um dinâmico e permanente de conhecimento centrado na descoberta; análise e transformação da realidade pelos que a vivem.

Dentro desta perspectiva pedagógica, que parte da situação vívida pelos educandos como um problema que os desafia, é evidente que a definição do conteúdo programático da ação educativa não pode ser feita apenas pelo educador. Esta definição implica um trabalho conjunto de pesquisa e discussão no qual participam educador e educandos mediatizados sempre pela realidade a ser conhecida e transformada.

"É na realidade mediatizadora, na consciência que dela tenhamos educadores e povo, que iremos buscar o conteúdo programático da educação. ( ... )

"Esta é a razão pela qual não se trata de ter nos homens o objeto da investigação, de que o investigador seria o sujeito. O que se pretende investigar, realmente, não são os homens, como se fossem peças anatômicas, mas o seu pensamento linguagem referido à realidade, os níveis de sua percepção desta realidade, a sua visão do mundo, em que se encontram envolvidos seus 'temas geradores'. (... )

"O que temos de fazer é propor ao povo, através de certas contradições básicas, sua situação existencial, concreta, presente, como problema que, por sua vez, o desafia e, assim, lhe exige resposta, não só no nível intelectual, mas no nível da ação"45.

É neste sentido, conclui Paulo Freire, que toda pesquisa temática se faz ação pedagógica e toda a autêntica educação se faz investigação do pensar.

"Quanto mais investigo o pensar do povo com ele, tanto mais no educamos juntos. Quanto mais nos educamos, tanto mais continuamos investigando. Educação e investigação temática, na concepção problema tizadora da educação, se tornam momentos de um mesmo processo '46 .

Bem entendido, esta maneira de conceber a pesquisa, diretamente ligadas às preocupações e experiências quotidianas do grupo com que se trabalha, difere em seu conteúdo e metodologia da utilização da ciência social justamente para suprimir os conflitos e reforçar a dominação.

QUEM EDUCA O PESQUISADOR?

Durante muito tempo, as ciências sociais acalentaram o sonho e a ilusão de poder estudar a sociedade da mesma maneira que as ciências naturais estudaram a natureza. Conhecer os fenômenos, ser capaz de prevê los e de descrever seu funcionamento, quantificá los para melhor explicá los, tais eram os objetivos a atingir e os parâmetros de uma atividade verdadeiramente científica. Dentro deste marco de referência, todas as ações humanas, as pautas de comportamento dos grupos sociais, os movimentos religiosos, os acontecimentos históricos, os hábitos sexuais, os sonhos e as esperanças, tudo isso deveria ser analisado e estudado de maneira objetiva. Por objetividade se entendia a capacidade que deveriam ter os cientistas de dissecar os fatos sociais como se fossem coisas. Para tanto, era imprescindível estabelecer e manter uma separação rígida entre o sistema de valores do cientista e os fatos sociais, objeto de sua observação e análise.

Estamos bem conscientes de que estamos desenhando uma imagem simplificada do corpo teórico da sociologia positivista. A simplificação, no entanto, pode nos ajudar a captar o essencial. Na perspectiva positivista, os fatos sociais devem ser examinados com o mesmo distanciamento e frieza com que um entomologista observa seus insetos. Entre o cientista que estuda a sociedade e a sociedade estudada por ele, o único ponto de contato é o próprio instrumental de observação e de análise escolhido e manipulado exclusivamente pelo pesquisador.



Da mesma maneira que, num laboratório, um pesquisador isola seu objeto de estudo e se isola a fim de examiná lo sem risco de contaminação, assim também pretendem os positivistas que o conhecimento gerado por sua observação desta realidade objetiva que é a sociedade não tem qualquer implicação política ou valoração ética. A finalidade da ciência é constatar, descrever e prever. Livre de qualquer preconceito subjetivo, desprovido de intencionalidade política, o cientista social deve limitar se a dissecar fatos, comportamentos ou sistemas de representação como se eles fossem meros objetos inanimados. A neutralidade política seria, nesta perspectiva, a garantia da cientificidade. Ledo engano.

Na verdade, esta ciência que se queria neutra, apolítica e descomprometida acabou sendo utilizada cada vez mais como uma ferramenta de engenharia social. Empregados por agências governamentais, os cientistas sociais contribuíram para a implantação gradual de toda uma série de instituições de controle social   desde a escola e o hospital até o asilo psiquiátrico e a prisão   cuja finalidade é modelar o comportamento de todos pelos padrões de normalidade definidos pelos donos do poder. Por outro lado, éda própria essência de uma sociedade de massas domesticadas e uniformizadas a produção de seus "marginais". Ao modelo do bom cidadão vai se contrapor o do marginal, aquele que sai da norma: o delinqüente, o louco, o grevista, o subversivo, o agitador. Em defesa do conformismo social ameaçado por estes comportamentos anômalos, as ciências sociais têm sido mobilizadas para identificar, individualizar e anatematizar o "marginal": Exposto à execração pública, ele cumpre o seu papel de assustar os bons cidadãos. Rejeitado pelos "normais'; o "marginal" entra no circuito destas instituições que vão curá lo de sua marginalidade de modo a eliminar a causa da desordem e restabelecer a paz social.

Como pôde se dar uma tal evolução? Como esta ciência que se queria e se afirmava desvinculada de qualquer sistema de valores transformou se num poderoso instrumento a serviço da conservação da ordem estabelecida?

A nosso ver, porque suas premissas de base eram radicalmente falsas e mistificadoras na medida mesma em que a realidade social não é uma coisa dada e acabada, e que o pesquisador não pode ser um observador imparcial situado fora da situação que ele analisa.



Na verdade, o ideal positivista, segundo o qual tudo pode ser captado, controlado e medido pela ciência, não leva em conta toda uma série de interrogações e questionamentos sobre as causas profundas dos fenômenos sociais e sobre seu dinamismo interno.

Uma ciência que se limita à previsão e elaboração de resultados utilizáveis se presta facilmente a todo o tipo de manipulação por parte dos que controlam os centros de decisão e de poder. Sua tendência será sempre reduzira complexidade do real a uma visão simplista e superficial, bem como congelar o dinamismo social numa fotografia estática. A redução do complexo ao simples e do dinâmico ao estático são típicas do pensamento conservador: sob esta ótica, o que existe hoje é o único real possível. Se a sociedade é desigual, hierarquízada e autoritária, pouco importa. Isto são problemas que escapam da esfera própria da ciência e que devem ser tratados por quem de direito, isto é, os políticos. Não se deve misturar ciência com política, estudo sério com jornalismo impressionista, objetividade com emoção, racionalidade com impulsos éticos. A missão do cientista é constatar o que existe, sem se aventurar pelo terreno arriscado e imprevisível dos julgamentos de valor que podem de repente, nos colocarem oposição ao que é, hoje, a realidade. Para não cair em armadilhas deste tipo, mais vale, então, estudar o que é imediatamente visível e quantificável, sem querer remexer ou desenterrar sonhos, esperanças e ilusões que podem revelar o desejo reprimido de mudança e desvelar um outro real possível.



O ideal positivista de uma ciência objetiva e exata não resiste, no entanto, ao questionamento de suas premissas de base: é possível congelar o movimento da vida social? de onde vêm nossas próprias idéias? não seria necessário considerar a ciência ela mesma como um fato social em permanente elaboração e questionamento dentro de cada situação histórica data? não seria indispensável analisar a ação do pesquisador como fator de consolidação ou de transformação do consenso social?

De fato, os fatos sociais não são coisas mas sim o produto de ações humanas. Os homens e as mulheres fazem a sociedade da mesma maneira que são feitos por ela. Somos atores e protagonistas de nossa história da mesma maneira que somos definidos e condicionados por ela. Dentro desta relação de interação, não há mais lugar para um pesquisador separado de seu objeto de pesquisa. O pesquisador é um homem ou uma mulher com uma inserção social determinada e com uma experiência de vida e de trabalho que condicionam sua visão do mundo, modelam o ponto de vista a partir do qual ele ou ela interagem com a realidade. E é esta visão do mundo, este ponto de vista que vai determinar a intencionalidade de seus atos, a natureza e a finalidade de sua pesquisa, a escolha dos instrumentos metodológicos a serem utilizados.

É totalmente impossível imaginar uma separação entre o sujeito da pesquisa (o cientista social) e o seu objeto (a sociedade) se o sujeito é ele mesmo um ser social, se são as ações humanas que modelam e transformam a sociedade da qual o pesquisador éparte integrante, podendo inclusive sofrer as conseqüências do projeto social que propõe ou das transformações que sua ação pode provocar.

É igualmente ilusório querer tratar os fatos sociais como se fossem fenômenos naturais que podem ser previstos, provocados e controlados num laboratório. Mesmo nos contextos mais repressivos e autoritários, os fatos sociais acontecem de maneira inesperada e surpreendente. Eles se revoltam contra as tentativas de programação e de controle, reagindo contra a domesticação na medida mesma em que são criados por homens e mulheres livres, vale dizer, capazes de pensar e agir pela própria cabeça, ainda que, por vezes, com medo, contraditoriamente, sutilmente.

A eclosão de uma greve operária quando todas as pesquisas falavam da passividade da classe operária, a revolta das mulheres contra as discriminações sexistas após milênios de resignação silenciosa, a angústia dos jovens que, segundo se dizia, estavam inteiramente cooptados pela sociedade de consumo são alguns exemplos, próximos de nós, de fatos que desafiaram qualquer previsão. É, por outro lado, evidente que tais acontecimentos, ao questionaras idéias e preconceitos dominantes, também influem sobre o comportamento e os valores dos próprios pesquisadores. Constituído pela sociedade e participante de sua construção, o pesquisador não pode querer olhá la de fora, do alto de sua torre de marfim. Estas torres são miragens que não resistem ao sopro da vida real.



O pesquisador, como o educador, o líder político ou religioso e o dirigente sindical também precisam ser educados e esta educação só pode vir no bojo de sua prática dentro de uma realidade social que não tem nada de fria, estática e imutável. Apreendera rede de relações sociais e de conflitos de interesse que constitui a sociedade, captar os conflitos e contradições que lhe imprimem um dinamismo permanente, exploraras brechas e contradições que abrem caminho para as rupturas e mudanças, eis o itinerário a ser percorrido pelo pesquisador que se quer deixar educar pela experiência e pela situação vivida.

Uma perspectiva crítica e problematizadora das ciências sociais implica, portanto, na recusa dos mitos da neutralidade e da objetividade e obriga o pesquisador a assumir plenamente uma vontade e uma intencionalidade políticas. Ao invés de se limitara constatar como pensam, falam ou vivem as pessoas de determinado grupo social ou de procurar prever o que seria necessário fazer com vistas a dissolver os conflitos e reforçar a coesão social, nossa postura deve ser bem outra. O que nos interessa é mergulhar na espessura do real, captar a lógica dinâmica e contraditória do discurso de cada ator social e de seu relacionamento com os outros atores, visando a despertar nos dominados o desejo da mudança e a elaborar, com eles, os meios de sua realização.

Partimos da premissa de que a forma hierárquica e desigual da organização social atual não esgota toda a realidade nem constitui o único real possível. Debaixo de todo ordenamento social aparentemente imutável, fermentam, por vezes lenta e silenciosamente, alternativas, amadurecem rupturas. Muitas vezes, o que existe hoje pode e deve ser mudado. Para isso, épreciso interrogar constantemente a realidade, assumir o direito e o dever de formular julgamentos de valor que conduzam a denunciar e recusar tudo aquilo que, na ordem social, nega a liberdade e a autonomia criadora dos movimentos sociais.

O conceito mesmo de objetividade e rigor científicos devem ser redefinidos e aperfeiçoados. Diante de uma realidade marcada por relações de dominação e de privilégio entre pessoas e grupos sociais, objetividade não pode mais ser sinônimo de descomprometimento e de imparcialidade, sob pena de se transformar em cinismo e insensibilidade. Diante da oposição entre dominantes e dominados, ser objetivo significa reconhecer e analisar este enfrentamento inscrito na realidade e colocar­se a serviço da superação das estruturas que mantêm ou reforçam o autoritarismo e a desigualdade.

Como já nos ensinava Marcuse, muitos anos atrás, ao expor os fundamentos da percepção dialética da realidade definida pela Escola de Frankfurt:

"A realidade é uma coisa diferente e muito mais rica do que aquilo que está codificado na lógica e na linguagem dos fatos ( ... ). O pensamento corresponde à realidade somente na medida em que transforma a realidade ao captar e decifrar sua estrutura contraditória

(... ). Compreender a realidade significa, portanto, compreender o que as coisas verdadeiramente são, e isto implica, por sua vez, na recusa de sua simples facticilidade".47

Nada disto pode ser feito por um cientista desejoso de se manter olimpicamente fora e acima dos processos e movimentos sociais. E é aqui que intervém a metodologia da pesquisa/ação como uma proposta político pedagógica que busca realizar uma síntese entre o estudo dos processos de mudança social e o envolvimento do pesquisador na dinâmica mesma destes processos. Adotando uma dupla postura de observador crítico e de participante ativo, o objetivo do pesquisador será colocar as ferramentas científicas de que dispõe a serviço do movimento social com que está comprometido.

Em outras palavras, ao invés de se preocupar somente com a explicação dos fenômenos sociais depois que eles aconteceram, a finalidade da pesquisa/ação é de favorecer a aquisição de um conhecimento e de uma consciência crítica do processo de transformação pelo grupo que está vivendo este processo, para que ele possa assumir, de forma cada vez mais lúcida e autônoma, seu papel de protagonista e ator social. "

1) Como podemos relacionar o senso comum com a construção social do conhecimento?

2) Que relações é possível estabelecer entre o saber popular/conhecimento científico e a participação popular/construção de sujeitos históricos? E qual o papel da escola neste processo?


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