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Enfrentando nossos limites: Educação popular e escola pública


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Vozes ausentes na seleção da cultura escolar


Quando analisamos detalhadamente os conteúdos que são objeto de atenção explícita na maioria das instituições escolares e nas propostas curriculares, chama nossa atenção a presença abusiva das denominadas culturas hegemônicas. As culturas ou as vozes dos grupos sociais minoritários e/ou marginalizados, que não dispõem de estruturas importantes de poder, costumam ser silenciadas, ou mesmo estereotipadas e deformadas para anular suas possibilidades de reação.

As Culturas Infantis e Juvenis


Outra das grandes ausências e ocultações com relação aos próprios alunos são os modos de vida dos grupos infantis e juvenis, tanto de hoje como de ontem, em nosso país e em outros lugares da terra. E isso sucede apesar de numericamente eles representarem uma parte importante da humanidade. O adultocentrismo de nossa cultura leva nos a uma grande ignorância sobre o mundo idiossincrático da infância e da juventude.

Meninas e meninos desconhecem por que o são, qual é o significado desta etapa de desenvolvimento, quais são seus direitos e deveres. Todo seu mundo de relações, gostos, interesses, brincadeiras e brinquedos praticamente não é objeto de atenção, reflexão e crítica no âmbito das instituições acadêmicas. Apesar de se dizer, às vezes insistentemente, que a brincadeira é a principal atividade durante a etapa infantil, como atividade escolar, poucas vezes são oferecidas possibilidades de refletir e analisar as razões de cada brincadeira infantil, das peculiaridades e significados dos brinquedos, etc.

Um notável grau de sentimentalismo dos adultos provoca o desejo de colocar a infância em um mundo paradisíaco. Neste período de desenvolvimento, os sujeitos são considerados ingênuos, inocentes, desprotegidos, etc., e, portanto, não teriam maiores preocupações, interesses e desejos.

Esta filosofia causa o silenciamento de outras infâncias "mais reais", fazendo com que no período de escolarização obrigatória não exista uma clara intencionalidade de estudar, como conteúdos escolares, as condições e modos de vida da infância pobre, de meninos e meninas de um mundo rural e ribeirinho, das condições de vida infra humanas dos habitantes do Terceiro Mundo, etc. Através de qualquer meio de comunicação de massa, podemos constatar que atualmente existem muitas zonas de guerra, lugares onde existem guerras civis, insurreições, disputas de fronteiras, etc., que afetam seriamente a infância; entretanto, tais problemas não existem quando relemos a maioria dos livrostexto escolares. Não podemos deixar de frisar que a própria guerra significa coisas diferentes para distintas pessoas. Para muitos jovens pode ser identificada como "aventura", para outras pessoas traduz o desejo de glória; para outros não passa de símbolo de perda e dor; e também pode ser o caminho que determinadas pessoas utilizam para enriquecer. Não podemos esquecer que muitas indústrias e mesmo países vivem às custas do armamento que fabricam para guerras alheias.

Nos países afetados por situações de guerra, fome e pobreza, a infância que neles vive e sofre não se parece de forma alguma com a de outros países e lugares. Em um mundo que definimos como "aldeia global", o conhecimento destas injustiças é imprescindível para gerar a solidariedade suficiente que permita acabar com as desigualdades e injustiças causadoras de tais conflitos.

Nossa sociedade e, conseqüentemente, os espaços obrigados a refletir criticamente sobre nosso mundo, isto é, as instituições escolares, não podem ignorar situações de injustiça que afetam a infância. Assim, não podemos silenciar que existem meninos e meninas objeto de tráfico de órgãos e vítimas de "Esquadrões da Morte", como sucede no Brasil e em muitos outros países sul americanos ou, em geral, nos países do Terceiro Mundo. Os assassinatos de crianças pobres, as agressões e torturas físicas e sexuais, os trabalhos desumanos, etc., são uma triste realidade que praticamente não merece a atenção das instituições de ensino.

Os alunos devem adquirir consciência destas tristes realidades e comprometer se com essa infância maltratada, na medida de suas possibilidades e forças. Uma forma de preparar as novas gerações para a vida e para "sobreviver" é informando as claramente sobre as peculiaridades do mundo no qual vivem.

Nesta tarefa de ajuda da reconstrução da realidade realizada conjuntamente por alunos, alunas e corpo docente nas instituições escolares, precisamos centrar a atenção na realidade e na cultura que definimos como tal; naquilo que assumimos que existe e vale a pena, naquilo que precisamos transformar, etc.

Os programas escolares e, portanto, os professores e professoras que rejeitam ou não reconhecem a cultura popular e, mais concretamente, as formas culturais da infância e da juventude (cinema, rock n'roll, rap, histórias em quadrinhos) como veículo de comunicação de suas visões da realidade e, portanto, como algo significativo para os estudantes, estão perdendo uma maravilhosa oportunidade de aproveitar os conteúdos culturais e os interesses que estas pessoas possuem como base da qual partir para o trabalho cotidiano nas salas de aula. Uma instituição escolar que não conseguir vincular essa cultura juvenil que os jovens vivem tão apaixonadamente em seu ambiente, em sua família, com seus amigos e amigas, etc., com as disciplinas mais acadêmicas do currículo, está deixando de cumprir um objetivo assumido por todo mundo, que é o de ligar as instituições escolares ao ambiente, como única maneira de ajudar os estudantes a melhorar a compreensão de suas realidades e a comprometer se com sua transformação.

Uma das missões chave do sistema educacional é a de contribuir para que alunos e alunas possam reconstruir a cultura que essa sociedade considera mais indispensável para poderem ser cidadãos e cidadãs ativos, solidários, críticos e democratas. Por isso, é óbvio que não podemos partir de uma ignorância daqueles conhecimentos, destrezas, atitudes e valores culturais apreciados e defendidos acima de todas as coisas pela juventude.

Os currículos planejados e desenvolvidos nas salas de aula pecam de grande parcialidade na hora de definir a cultura legítima, os conteúdos culturais que valem a pena. Entre outras coisas, isto faz com que determinados recursos sejam ou não utilizados, mereçam nossa atenção ou nossa displicência.

Costuma haver coincidência no fato de que as instituições educacionais são um dos lugares mais importantes de legitimação dos conhecimentos, procedimentos, habilidades e ideais valorizados por uma sociedade, ou pelo menos pelas classes e grupos sociais que possuem parcelas decisivas de poder. Todos os conteúdos e formas culturais considerados relevantes por tais grupos facilmente serão encontrados em alguma disciplina ou tema de estudo nas salas de aula. Ao revisar as disciplinas dos diferentes cursos e níveis do sistema educacional e seus correspondentes temas, perceberemos rapidamente o tipo de cultura que a escola valoriza e contribui para reforçar, enquanto notamos as ausências, isto é, tudo aquilo que essa mesma instituição não considera digno de ocupar sua atenção.

O ensino e a aprendizagem que ocorrem nas salas de aula representam uma das maneiras de construir significados, reforçar e formar interesses sociais, formas de poder, de experiência, sempre com um significado cultural e político.

A cultura popular dificilmente está presente neste âmbito, frente à chamada cultura acadêmica ou o âmbito do "culto", em sua acepção de restrito ou pertencente aos setores sociais da elite.

Dentro da cultura popular interessa me ressaltar especialmente o que vem sendo denominado "culturas juvenis", em geral. Podemos considerar estas culturas como as formas de vida, ocupações e produtos que envolvem a vida cotidiana de alunos e alunas fora das salas de aula. Essas formas culturais são as que melhor traduzem os interesses, preocupações, valorações e expectativas da juventude, são elas que nos permitem descobrir o verdadeiramente relevante de suas vidas.

Se as diferentes culturas destacam os caminhos e maneiras com quais os seres humanos dão sentido às suas vidas, constroem seus sentimentos, crenças, pensamentos, práticas e artefatos (de textos até instrumentos e produtos em geral), as culturas juvenis serão aquelas que, por definição, traduzirem a juventude. No entanto, esta realidade juvenil é algo que a instituição escolar tentará ocultar, ou mesmo atacar frontalmente.

A única cultura que as instituições escolares costumam rotular como tal é a que provém e conta com a aprovação das classes e grupos sociais no poder. Desta forma, o idioma e a norma lingüística exigidos pela escola serão os dos grupos sociais dominantes, a literatura dos autores e autoras valorizados por esses mesmos grupos, a geografia e a história dos vencedores, a matemática e a economia necessárias para proteger uma mentalidade empresarial e o mundo dos negócios típicos das sociedades de economia capitalista, etc.

Assim, por exemplo, nossas instituições acadêmicas consideram arte aquilo que se encontra nos museus, o que outras pessoas produziram geralmente, em outras épocas e/ou lugares e que os grupos de intelectuais e críticos com "reconhecido prestígio" dizem que vale a pena. Não obstante, quando revisamos uma história da arte de maneira mais minuciosa, percebemos que aquilo que hoje consideramos um marco artístico, em sua época foi considerado abominável. Grandes partituras musicais de Mozart, Beethoven, The Beatles, etc., bem como pinturas e esculturas atualmente muito valorizadas, foram qualificadas, em sua época, como algo de péssimo gosto; um dos pintores mais cotados nos dias de hoje, como Vincent Van Gogh, morreu sem ver o interesse de ninguém pelos seus quadros.

Se nas instituições escolares alguém pedir uma lista de artes, o resultado mais freqüente costuma ser o dei ncluir em tal enumeração a música clássica, o ballet clássico, a ópera, o teatro dos grandes autores clássicos, a poesia, a literatura, a pintura e a escultura também daqueles autores e autoras que aparecem nos livros texto de história da arte. No entanto, quase certamente não encontraremos nessa classificação a música rock, punk, rap, os desenhistas de histórias em quadrinhos ou graffities, as fotonovelas, as telenovelas, as danças modernas, as óperas rock, talvez tampouco a música de jazz, os videoclipes, os estilos cinematográficos preferidos por este setor jovem, etc. Sem esquecer que dentro desta última lista cada forma cultural tem diferentes classificações em seu interior que, por sua vez, traduzem as hierarquizações introduzidas por variáveis como gênero, raça, etnia, nacionalidade, o caráter rural ou urbano, etc., dos diferentes grupos de adolescentes que produzem e consomem estes produtos culturais.

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