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Centro espírita nosso lar grupo de estudo das obras de andré luiz e manoel philomeno de miranda


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(FONTE: 2a PARTE, CAPÍTULOS XI e XII.)
1. Márcia retorna ao Rio - De retorno à casa de saúde, André en­controu Marina dormindo, agitada, sob as atenções de Moreira. Entre os bastidores da luta em favor da enferma, empenhavam-se Moreira e André, enquanto Cláudio e Salomão entrelaçavam energias, garantindo coopera­ção. O apoio espiritual, conjugado à Medicina, funcionava com segu­rança. Mesmo assim, complicavam-se os problemas em derredor. Nemésio e Márcia, após cinco semanas na serra, retornaram ao Rio, algo modifica­dos pela aventura. Ela interessada em ligação definitiva; ele, hesi­tante. Instado a patrocinar-lhe o desquite, recuara, de pronto. Tinha medo, não da sociedade, mas de si próprio. Aquele mês de folga, nos braços da mulher que não esperava, insuflara-lhe inquietação. Sua pai­xão por Marina não arrefecera e, por isso, estando com Márcia, acor­dava, alta noite, supondo-se com Marina, sonhando reencontrá-la, qual se estivessem os dois na meninice. Márcia, que sabia tolerá-lo, reco­nhecia o obstáculo. Percebia que Nemésio trazia a jovem fixada à lem­brança. De começo, quis estrilar; depois, calculou e concluiu que não se achava pessoalmente num caso de amor e sim numa transação, cujas vantagens não queria perder. No fundo, pouco lhe importava que ele adorasse a moça. Aspirava a prendê-lo, ganhar-lhe a fortuna e a con­fiança. Para isso, engenhava todos os modos de se fazer necessária. Ordens atendidas, refeições prediletas, gotas estimulantes na hora certa, chinelas à mão... Solicitado por ela a optar pelo casamento em país que aprovasse o divórcio, Nemésio prometeu satisfazê-la; entre­tanto, de volta ao Rio, preferiu mantê-la em casa de Selma, a compa­nheira que residia na Lapa, por causa de Gilberto. Era preciso, pri­meiro, remover o rapaz para o Sul. Gilberto, por sua vez, estava aba­tido, sem guia, sem bússola, sem o menor incentivo para o trabalho, e esbanjava o dinheiro paterno em farras e uísque. Muita vez, embria­gado, falava em suicídio... Sentia-se derrotado, infeliz. Aqui e ali, ouvia apontamentos desairosos em torno do pai e de Márcia, mas repelia tais idéias, que considerava invencionice e maledicência. Para de­fendê-los, esbravejava frenético, quase sempre bêbado e atuado por al­coólatras desencarnados, que o manobravam facilmente. (2a parte, cap. XI, pp. 288 a 290)
2. Gilberto revê Marina - Félix estava apoiando, de forma deci­dida, o atendimento a Marina e, por isso, após dois meses de trata­mento, a jovem teve alta e regressou ao Flamengo, resguardada pelo ca­rinho paterno, ocasião em que se inteirou da nova situação. Márcia de­bandara e os empeços com que devia contar, para reerguer-se na profis­são, eram difíceis. O pai cercou-a de meiguice e bondade. Os textos espíritas, lidos por vezes com lágrimas, infundiam-lhe a consoladora certeza nas verdades e nas promessas do Cristo, que passara a aceitar por mestre da alma. Acolheu a amizade de Salomão, qual se lhe fosse filha, e inscreveu-se entre aqueles que constituíam agora para Cláudio a família espiritual. Interessou-se por singelo serviço beneficente, mantido em favor de pequeninos desamparados, e quando o pai a convidou para que se afeiçoassem ao culto semanal do Evangelho no lar recolheu com entusiasmo a sugestão, rogando-lhe instalassem dona Justa, viúva e sozinha, junto deles em casa. Conversações e leituras, tarefas e pla­nos surgiam por flores auspiciosas que Félix, de quando em quando, vinha ver, encantado, partilhando-lhes os júbilos e as orações. Pai e filha empenhavam-se no propósito de olvidar Márcia e Nemésio Torres, mas a situação de Gilberto, que se afundava cada vez mais, pedia ajuda. Se Cláudio e Marina não pudessem protegê-lo, pelo menos lhe providenciassem a hospitalização. Notando que a filha ainda amava o rapaz, o pai decidiu ajudá-lo e, após estudar bem o caso, encontrou Gilberto numa churrascaria do Leme, onde partilharam lanche rápido, após o que Cláudio o convidou para jantar no dia seguinte. Haviam-se passado seis meses desde a transformação de Cláudio. Gilberto compare­ceu na hora prevista e o encontro foi reconfortador para todos. (2a parte, cap. XI, pp. 290 e 291)
3. O mal não merece comentário - Gilberto imaginou-se, de re­pente, de retorno ao antigo lar; refletiu na mãezinha que a morte le­vara, e chorou... Comovido, diante daquela explosão de lágrimas, Cláu­dio acariciou-lhe a cabeça e perguntou por que lhes abandonara a ami­zade. O rapaz desabafou, noticiando que o genitor o chamara a contas e lhe denunciara tudo quanto Marina e ele, Nemésio, haviam feito, suas intimidades, seus encontros, mostrando-lhe, assim, que a moça não ser­via para casar e constrangendo-o a dizer que desistiria de futura li­gação com ela, por sabê-la doente... Marina, acabrunhada, não confir­mou, nem se defendeu; restringiu-se a chorar discretamente, enquanto Cláudio se esforçava por harmonizar os dois corações desavindos. Mo­reira, que assumira apaixonadamente a defesa da menina, perdeu a calma e clamou para André, em voz alta, que, apesar de possuir seis meses de Evangelho, sentia muita dificuldade para assistir a tudo aquilo sem reunir os companheiros de outro tempo a fim de punir Nemésio. Apreen­sivo, André rogou-lhe que se calasse por amor ao bem que se propunham realizar. Moreira assustou-se com a recomendação incisiva de André, que lhe explicou que, nas imediações, irmãos infelizes, com certeza, teriam ouvido a intenção que ele formulara e quantos simpatizassem com a idéia procurariam a residência dos Torres, sondando brechas. André disse-lhe que o mal não merece qualquer consideração além daquela que se reporte à corrigenda. Se ainda não conseguimos impedir-lhe o acesso ao coração, na forma de sentimento, é forçoso não pensar nele; con­tudo, se não contamos com recursos para arredá-lo imediatamente da ca­beça, é imperioso evitá-lo na palavra, para que a idéia infeliz, arti­culada, não se faça agente vivo de destruição, agindo por nossa conta e independentemente de nós. André salientou que o ambiente ali jazia limpo de influências indesejáveis; no entanto, ele, Moreira, falara abertamente e companheiros não distantes, interessados em seu regresso à crueldade mental, teriam assinalado a sugestão... Vendo que errou, Moreira perguntou o que fazer. André esclareceu. Habitavam ambos o plano espiritual, onde pensamento e verbo adquirem muito mais força de expressão e de ação que no plano físico, e não lhes restava outra al­ternativa senão seguir ao lado de Gilberto, de maneira a observar até que ponto se alargara o perigo, a fim de remediá-lo. O rapaz retornou a seu lar, de carro, e André e Moreira seguiram a seu lado. Ao che­gar, Gilberto lembrava Marina modificada. Os cabelos penteados com singeleza, o rosto tratado sem excessos, os modos e as frases sensa­tas... (Cap. XI, pp. 292 e 293)
4. Gilberto encontra Márcia e seu pai - Gilberto tomou, instin­tivamente, a direção do quarto que Marina ocupara em sua casa e onde a vira, desfalecente... Queria recordar, refletir. Lá dentro, porém, logo que abriu a porta, viu, assombrado, que Nemésio e Márcia se bei­javam e, em torno deles, sobressaía, para a visão de André e Moreira, a chusma de amigos conturbados para cujos serviços Moreira apelara, inconscientemente. O pai não viu o filho, porque estava de costas, mas Márcia, qual acontecera a Marina, observou a chegada de Gilberto e o espanto que lhe terrificara a fisionomia... Gilberto afastou-se, con­fuso e angustiado. O ídolo paternal ruíra de chofre. Teria realmente o pai razões para separá-lo de Marina? Moreira, arrependido pelo que fi­zera, avançou para a quadrilha invisível e André interferiu, rogando serenidade a todos. Era preciso acatar Nemésio e a companheira. Nin­guém tinha ali o direito de escarnecê-los, escarmentá-los. O bando re­tirou-se. Márcia, pretextando um motivo qualquer, afastou-se de Tor­res, auxiliando-o a deitar-se no leito próximo, de onde ele se levan­tara para recebê-la. No corredor, ela não sabia como proceder para contornar a dificuldade. Embora interesseira, era mãe e pensava na filha. Seria justo nada fazer para reaproximá-la do rapaz? Não seria desmoralizar-se, de todo, permitindo que Gilberto a interpretasse por mulher sem escrúpulos? Moreira aproveitou esses minutos de reconside­ração e enlaçou-a, respeitoso, pedindo-lhe piedade e apoio em favor da filha e de Gilberto. Buscasse o rapaz, enquanto usufruía oportunidade, conversasse com ele, apaziguasse os jovens. André também se aproximou, suplicando-lhe a intercessão. Ela podia ajudar. Por que não praticar um ato de justiça e caridade para com a filha enferma, encaminhando aquele menino entregue à decadência moral ao matrimônio digno? Márcia rememorou o passado e chorou. Naquele instante, o sentimento pulsava-lhe puro, como na noite em que defendeu Marita em casa de Crescina. (Cap. XI, pp. 294 a 296)
5. Gilberto reata com Marina - Márcia não titubeou. Dirigindo-se ao aposento de Gilberto, entrou sem qualquer cerimônia, como uma mãe que assiste o filho, sentou-se na beira da cama em que ele se encon­trava amuado, e falou-lhe, lacrimosa. A princípio, rogou-lhe descul­pas; depois, pediu-lhe permissão para confessar que ela e Nemésio se amavam há tempos; e, num rasgo de generosidade que a elevava, mentiu pela felicidade da filha... Explicou que nada mais tendo com Cláudio, antes do falecimento de dona Beatriz, se tornara íntima de Nemésio. Informou que errara ao consentir que Marina se tornasse enfermeira de Beatriz, porquanto, desde aí, possuía razões para supor que o velho lhe cobiçava a filha. Reconhecendo-o interessado nela, enciumara-se... Venerava, porém, a grandeza espiritual de Beatriz, a quem estimava de longe, e tivera forças para aguardar-lhe a morte, antes de assumir qualquer atitude. Foi por isso que, após o falecimento de Beatriz, re­solveu abandonar sua casa e acompanhar Nemésio a Petrópolis. Feito esse relato, ela pediu-lhe que lhe perdoasse como um filho, cujo apreço se esmeraria em conservar. Não mais retornaria ao Flamengo e seu destino estaria ligado ao de Nemésio, enquanto este assim qui­sesse... Mesmo assim, era mãe e rogava-lhe por Marina. Se a amasse, que não fosse indiferente num momento como aquele em que se refazia de dura perturbação. Que a protegesse, fazendo pela menina o que ela, Márcia, não mais conseguiria.... André pôde ver sensibilizado os pro­dígios da compreensão e da bondade num coração juvenil. Olhos chame­jantes de júbilo, Gilberto ergueu-se e ajoelhou-se diante daquela mu­lher que lhe sossegava o espírito, com a versão caridosa de que neces­sitava para reconstituir o caminho. Em lágrimas de alegria, osculou-lhe as mãos e agradeceu-lhe em palavras quentes de carinho filial. En­tendia, sim, que o pai teria obedecido a sugestões de despeito, para apartá-lo da escolhida. Procuraria Marina, prometia olvidar o passado, de modo a não ferir a dignidade maternal com que ela, Márcia, lhe pa­tenteara a nobreza de sentimentos. Contou então que estivera naquele mesmo dia com a jovem e notara-lhe a sinceridade e a tristeza. Fora rude com ela, espezinhara-lhe o coração, mas voaria naquela mesma hora para o Flamengo e fariam as pazes. O encontro de Gilberto e Marina foi um momento de muita felicidade para todos, e Félix, cientificado dos acontecimentos, veio, na noite seguinte, compartilhar-lhes as orações de alegria. (Cap. XI, pp. 296 e 297)
6. Nemésio agride e expulsa o filho - Do Flamengo, André e Félix rumaram para a Lapa, onde encontraram Márcia, recostada num divã, à espera de Nemésio. Félix, magnânimo como sempre, acercou-se dela e beijou-lhe a fronte, mostrando lágrimas. Parecia que o benfeitor que­ria lhe agradecer a inesperada abnegação em favor da filha. Do dia imediato em diante, azedou-se o intercâmbio entre pai e filho. Nemésio estava intrigado; o filho, arredio. Decorridas algumas semanas, ao in­teirar-se de que o rapaz e a menina haviam reatado as relações, o ne­gociante viajou com Márcia para o Sul, no intuito de situar o filho junto de antigos camaradas de juventude, residentes em Porto Alegre. O casal se deteve por lá várias semanas, trazendo, na volta, expressivo programa de serviço e de estudo que Gilberto recusou, cortês, desis­tindo das vantagens que lhe eram oferecidas. André assistiu ao diálogo entre pai e filho e viu a respeitosa ternura com que o jovem se diri­giu ao genitor, implorando-lhe auxílio. Queria permanecer no Rio e as­pirava ao casamento com Marina. Como desde cedo se acostumara a tra­balhar com o pai na imobiliária, aguardava-lhe agora a proteção. Nemé­sio o ouvia, ressentido, revoltado. A reconquista de Marina pelo filho significava para ele bancarrota moral insuportável. Nunca a amara tanto, quanto naquela hora em que se lhe esvaíam as esperanças. Marina significava-lhe mocidade, euforia, entusiasmo. Em dado momento, vendo que Gilberto concluíra, ele vibrou rude golpe na mesa com uma régua pesada e, cego pela cólera que o envolvia, esbravejou: "Nunca!... Você nunca se casará com essa..." E multiplicou pejorativos e desaforos que o rapaz agüentou, estonteado e ferido, sem revidar. Mesmo assim, de­pois da tirada de injúrias, Gilberto comunicou-lhe que saberia tolerar todas as conseqüências, mas não renunciaria ao compromisso assumido consigo próprio. Nemésio, possesso, entregou-se às vias de fato, esmur­rando-lhe o rosto. Gilberto rodou nos calcanhares e tombou no piso, para reerguer-se e cair de novo sob pancadaria grossa, até que o genitor, semelhando fera solta, infligiu-lhe tremendo chute, vocife­rando: "Rua, miserável!... Rua, rua!... Suma daqui! Não me apareça mais!..." Atônito, e tentando estancar com o lenço um filete de sangue que lhe escorria num dos cantos da boca, Gilberto dirigiu-se à casa de Cláudio, onde relatou aos amigos o doloroso episódio. Todos entenderam perfeitamente a gravidade da situação, mas Cláudio prometeu-lhe ajuda. (Cap. XI, pp. 298 e 299)
7. Nemésio agride também o pai de Marina - Cláudio pediu ao rapaz que esquecesse os agravos e aceitasse no pai um enfermo da alma. Ma­rina também o exortou à concórdia e ao esquecimento e, após fazer o curativo nos lábios de Gilberto, procurou alegrar o ambiente com apon­tamentos de bom-humor. Cláudio intercedeu junto ao diretor do banco, buscando a colocação do rapaz. O diretor informou que não se admitiam aspirantes ao serviço, sem provas de habilitação, mas prometeu enten­der-se com os chefes. Gilberto agradeceu e, a sós com Cláudio, refe­riu-se com humildade ao problema da moradia, já que fora expulso de sua casa. Julgando não ser aconselhável hospedá-lo em seu apartamento, para evitar novo ataque de fúria por parte de Nemésio, Cláudio suge­riu-lhe procurar conhecida pensão de estudantes, cujos pagamentos fi­cariam, inicialmente, a seu cargo. Acertada a hospedagem, Gilberto buscou em casa os pertences que julgou indispensáveis, dizendo à go­vernanta que se ausentaria por algum tempo, com o pai de Marina, a fim de tentar a sorte. O aviso surtiu efeitos imediatos. No dia seguinte, Nemésio entrou no banco, às duas da tarde, a esbaforir-se. O diálogo com Cláudio foi tenso. Nemésio começou dizendo que lhe exigia contas do filho, acentuando que não lhe permitiria influenciá-lo. Cláudio, mobilizando todas as reservas de humildade, informou-o de que o rapaz tão-somente o tratava por amigo, sem, no entanto, abdicar do livre-ar­bítrio, e que não se via autorizado a responder por ele... Nemésio in­terceptou-lhe a palavra e rugiu: "Cale-se, besta!... joão-ninguém! paspalhão! Tome lá, seu espírita de meia-tigela!...", e bateu seguida­mente no rosto de Cláudio, arremessando-lhe pescoções violentos, en­quanto a vítima procurava defender-se, debalde, escondendo a cabeça entre as mãos. (Cap. XI, pp. 300 a 302)
8. Gilberto é admitido no banco - A agressão fora rápida. Cláudio caiu e somente a cooperação de intercessores anônimos impediu que o agressor lhe pisasse o corpo em decúbito. Contido à força, este ber­rava insultos, assessorado por Espíritos infelizes. O bancário ergueu-se disposto a revidar. Num átimo, contudo, ao levantar a destra para o revide, sentiu o reflexo de Marita. Aquela mão pequena e fria que se elevara da morte, a fim de abençoá-lo, estava na dele. A menina atro­pelada surgia-lhe na memória, como a perguntar-lhe pelos votos de me­lhoria. Prometera-lhe renovar-se, ser outro homem... Que diria ela, do Além, se ele também não perdoasse, como ela o fez, ao carrasco que lhe seduzira a filha e furtara a mulher? Cabia-lhe ver, nos inimigos gra­tuitos, enfermos exigindo socorro e benevolência. Não trazia, porven­tura, o espírito endividado, em meio de falhas e tentações? Cláudio afrouxou, então, o braço antes reteso e, escutando os sarcasmos de Ne­mésio que se retirava, truculento, deixou, sob os olhares de simpatia de todo o auditório, que caísse de seu rosto o pranto amargo... O ge­rente do estabelecimento assomou à cena, quando Nemésio já ganhava o meio-fio, e indagou pela causa do tumulto. Um funcionário, emocionado, apontou para o colega, falou no espancamento e aduziu: "Decerto, não reagiu porque ele hoje é religioso, é espírita..." O chefe comoveu-se. Depois, abraçando Cláudio, conduziu-o a saleta distante, onde ouviu do subordinado a história da filha e de Gilberto, que lhe fora apresen­tado na véspera. Como resultado, Gilberto foi admitido, de imediato, no serviço. Na reta final para o casamento, o genro conseguiu empre­gar-se, estimado de todos. (Cap. XI, pp. 302 e 303)
9. Marina e Gilberto se casam - Nemésio, acabrunhado e desgos­toso, convidou Márcia para uma excursão de seis meses em países da Eu­ropa. Declarando-se infelicitado pelo destino, anelava mudança, refa­zimento. Márcia, que jamais mantivera contato com a família, desde Pe­trópolis, comunicou a viagem a Marina, através de um cartão. Dizia-se esperançosa, encantada, e aludia a Nemésio como seu futuro esposo, prometendo enviar notícias de cada cidade que visitassem. A ausência do par trouxe para todos no Flamengo um período de paz e alegria. Mo­reira resguardava Marina com fidelidade incondicional e André aprovei­tou esse período de relativa calma para retomar estudos e experiências junto de Félix. O casamento de Gilberto e Marina aconteceu no último dia do ano que se seguiu à desencarnação de Marita. A ventura do novo casal chegou até aos companheiros do "Almas Irmãs", onde pequena equipe de amigos se reuniu em prece pela segurança dos nubentes. Bea­triz participou do encontro, mas Marita não se fez presente. Félix ex­plicou, então, que ela, prestes a regressar para as lides terrenas, demandava cautelas especiais. O processo regenerador do conjunto No­gueira-Torres havia sido remodelado. Já que Marita não lograra despo­sar Gilberto, por influência da irmã, voltaria a viver entre os dois, na condição de filha. Indiscutivelmente, não se tratava de reencarna­ção organizada a rigor e nem compulsória, por motivos judiciais. Cons­tituía, no entanto, medida de caráter premente que ela seria impelida a aceitar, em favor de si mesma. Para esse fim, Marita reveria o Rio, oportunamente, pela primeira vez, depois de quase onze meses de inter­nação em parque de repouso. Era preciso, no entanto, que nessa visita ao Rio encontrasse Gilberto a sós, ignorando-lhe o matrimônio, por­quanto os ressentimentos hauridos da convivência com Marina ainda lhe doíam na memória. E, sabendo-se que ambas se reencontrariam mais tarde, por mãe e filha, em conflito vibratório, visando ao expurgo dos erros e aversões recíprocas que traziam de remoto passado, era de todo indispensável que a reencarnante dormisse para o renascimento físico, sob a impressão de euforia perfeita. (Cap. XI, pp. 304 e 305)
10. Marita revê Gilberto e seu pai - Chegou, enfim, o dia da vi­sita de Marita ao Rio de Janeiro. A hora e o local foram planejados com cuidado. Marita desceu com Félix sobre a Guanabara feérica. De longe, os contrastes de luz, entre o morro do Leme e o casario da Urca, a praia de Botafogo, a Avenida Beira Mar... Tocando o chão do Flamengo, a moça multiplicava interjeições de alegria, revendo a ci­dade que lhe senhoreava a ternura. Parados, diante das águas remanso­sas, André foi informado pelos batedores amigos de que Gilberto des­cera de carro particular em esquina adjacente. Conduzida, sem delonga, ao ponto indicado, Marita o identificou e, embriagada de ventura, cha­mou, ansiosa: "Gilberto!... Gilberto!..." O rapaz não ouviu a sua voz; no entanto, assinalou-lhe a presença em forma de lembrança. Recordando a antiga namorada, tomou direção oposta à que seguiria, parando, além, a fim de refletir e contemplar a baía prateada de lua... Sim, ali, na­quelas areias, jurara-lhe amor eterno, planeara o futuro... "Meu Deus! -- pensou Gilberto -- como a vida mudara!..." Enlaçado pela jovem de­sencarnada, desentranhava-lhe a imagem do pensamento, enxugando os olhos... Félix apartou-a, então, brandamente, e perguntou-lhe o que mais desejava. Marita respondeu: "Viver com ele e para ele!..." O ben­feitor dirigiu-se, pois, a ela de modo paternal, ponderando a conve­niência de tornarem ao domicílio, pois se empenharia por assegurar-lhe o regresso. Que se acalmasse. Retomaria a convivência e a dedicação de Gilberto. Não aconselhava, porém, se lhe dilatasse o arrebatamento, nocivo a ambos, mesmo porque, muito em breve, estariam juntos. A me­nina obedeceu e inquiriu se poderia rever Cláudio, acentuando que o pai lhe fora o derradeiro amigo, nas angústias do adeus... Em instan­tes, chegaram ao apartamento, acolhidos à entrada por Moreira, que re­conheceu Marita, sob forte emoção, mas eclipsou-se a um aceno de Fé­lix. Atormentada, tremente, a moça, assistida por Félix e André, pene­trou no aposento paterno e -- com surpresa -- viu Cláudio, em espí­rito, rente ao corpo que dormia, como a lhe aguardar a visita, pois ele, sob forte emoção, estendeu-lhe os braços e gritou: "Minha filha!... minha filha!..." (Cap. XI, pp. 306 a 308)
11. Marita diz que deseja voltar à Terra - Marita rememorou os quadros que imaginara no hospital, o suplício das horas lentas, as preces e a invariável devoção daquele pai que se lhe redimira no con­ceito à custa de sofrimento, e ajoelhou-se, diante dele, procurando-lhe o regaço, como quando em criança. Perplexo, Cláudio não via os de­mais Espíritos ali presentes; concentrava-se somente na visão, que exercia sobre ele inigualável fascínio. Afagou com a destra hesitante aqueles cabelos que tanta vez alisara no hospital, e relembrou Marita, quando criança, indagando: "Filha do meu coração, por que choras?" A jovem endereçou-lhe um gesto súplice e rogou: "Papai, não se aflija!... Estou feliz, mas quero Gilberto, quero voltar para a Ter­ra!... Quero viver no Rio com o senhor, outra vez!..." Patenteando ca­rinho imáculo, Cláudio conservou-a sob as mãos que tremiam de júbilo e, levantando o olhar para o teto, com a ânsia de quem se propunha romper o monte de alvenaria para dirigir-se a Jesus, clamou em lágri­mas: "Senhor, esta é a filha querida que me ensinaste a amar com pu­reza!... Ela quer retornar ao mundo, para junto de nós!... Mestre, dá-lhe, com a tua infinita bondade, uma nova existência, um corpo novo!... Senhor, tu sabes que ela perdeu os sonhos de criança por minha causa... Se é possível, amado Jesus, permite agora que lhe dê minha vida! Senhor, deixa que eu ofereça à filha de minha alma tudo o que eu tenho! Oh! Jesus, Jesus!..." Considerando que a emotividade ex­cessiva poderia abatê-lo, Félix recolheu Marita nos braços e pediu que André ficasse para auxiliar o bancário a reaver o envoltório físico enlanguescido. Após o passe reconfortante, Cláudio acordou em choro convulso, guardando na memória todos os detalhes da ocorrência. Quando Gilberto retornou ao apartamento, ele quis narrar-lhe o ocorrido, mas assimilou a exortação de silêncio, feita por André, visto que a ver­dade da vida não deve brilhar para a maioria dos homens, senão por in­termédio de sonhos vagos, para não lhes confundir o raciocínio. Ele guardava, no entanto, em seu íntimo a certeza de que Marita retornaria ao mundo, reencarnada, e isso lhe iluminava o pensamento e aquecia-lhe o coração. (Cap. XI, pp. 308 e 309)
12. Nemésio importuna Marina - A gravidez de Marina foi acompa­nhada por todos com paciência e ternura. Além da assistência médica, ela recebia passes de reconforto, e o pai lia-lhe páginas educativas de ginecologistas e pediatras, instruindo-a, asserenando-a. Gilberto estava feliz com a expectativa do sucessor. Agindo no mundo invisível, André resguardava Marita, quanto possível, no processo reencarnatório. Tudo era esperança, sossego. A paz, aparentemente definitiva, entrara no lar do Flamengo, como se todos os pesares transcorridos estivessem para sempre arquivados nas gavetas do tempo. O passado, porém, palpi­tava naquele trato de ventura, como a raiz parcialmente enferma, es­condida no solo, sustentando o tronco florido. Determinada tarde a jo­vem gestante evidenciou agoniado abatimento. O médico, após examiná-la, não atinou com a origem da queda súbita. Marina enlanguescia... Finda uma semana, Cláudio aproveitou um momento a sós com a filha e investigou-a. Conversaram, então. Ele, que suspirava por vê-la recupe­rada, exortou-a à confiança e ao otimismo. Orasse, tivesse fé. Que se abrisse com ele. Afinal, era pai e tudo faria por ajudá-la. Marina le­vantou-se, foi ao quarto e trouxe-lhe um papel. Era uma carta vinda de Nemésio, que participava o seu regresso ao Rio, após seis meses de Eu­ropa. Confessava-se, desabrido. Afirmava-se entediado de tudo, menos dela, a quem amava ainda com inusitado calor. Soubera do casamento; contudo, jamais a consideraria por nora. Gilberto não passava de um tonto, de um espantalho, do qual deveriam afastar-se, para fruírem a felicidade que ele mesmo, Nemésio, frustrara, ao abandoná-la. (Cap. XII, pp. 310 a 312)
13. Nemésio ameaça matar-se - Até à metade da carta, reportava-se Nemésio a conceitos de compaixão e carinho, mas, na última parte, in­cidia na irreverência. Sacudia-lhe a memória. Perguntava-lhe por luga­res menos recomendáveis. Acusava-se saudoso. Pedia encontro. Dar-lhe-ia instruções para o desquite. Possuía excelentes amigos no Foro. Que ela não o desapontasse, porque, de outro modo, uma bala na cabeça ser-lhe-ia a solução. Não vacilaria entre a felicidade com ela e o suicí­dio. Que escolhesse, pois. Punha-lhe o destino nas mãos. Cláudio ana­lisou a gravidade da situação e, recordando o espancamento sofrido no banco, que não mencionara aos filhos, deduziu que Nemésio era capaz de todas as violências. Anteviu, assim, a tormenta que se esboçava, mas procurou consolar a filha. Aquilo tudo não passava de momento infeliz. Que não se amofinasse. Buscaria Nemésio pessoalmente, a fim de rogar-lhe serenidade, ao mesmo tempo que lhe noticiaria a chegada próxima da criancinha que seria para ele também um sorriso de Deus. Nos olhos de Marina, seduzida pelo magnetismo dessas palavras, a esperança brilhou de novo. No dia seguinte, Cláudio pôs-se em campo e soube, por inter­médio de corretores ligados à imobiliária, que Nemésio voltara da via­gem e vira-se defrontado por notícias desagradáveis. Os negócios, com o afastamento do filho e sua longa ausência, não iam bem. Os subordi­nados de Nemésio não se mostraram à altura da autoridade recebida e amigos da firma haviam retirado, à pressa, capitais importantes, de­sistindo dos depósitos com que lhe garantiam a segurança. Em crise, a imobiliária onerara-se com dois vultosos empréstimos, para cujo res­gate entregara Nemésio dois terços dos próprios bens. A falência pare­cia próxima e Márcia o abandonara, seja porque o vira destituído das propriedades que a fascinavam, seja porque houvesse esgotado as reser­vas afetivas para com ele. De posse de todos os informes e vencendo a própria repugnância com os recursos da oração, Cláudio buscou a mora­dia de Nemésio. Levava o espírito pressago, triste... Ao fazer, porém, soar a campainha no vestíbulo ajardinado, um empregado da casa, em nome de Torres, que o havia visto do terraço, veio dizer-lhe fizesse a gentileza de se considerar indesejável, porque não lhe receberia a vi­sita nem naquela hora, nem noutras. (Cap. XII, pp. 312 e 313)
14. Nemésio envia outra carta - Cláudio não insistiu e retirou-se, compreensivo. No banco, expôs o problema ao gerente amigo, a quem mostrou a carta que Nemésio dirigira à filha, ponderando quanto à ne­cessidade de protegê-la, sem parecer ao genro que assim procedia de­fendendo-a do sogro. O gerente, prestativo e humano, sugeriu-lhe uma licença de seis meses, o que não seria difícil devido à sua excelente folha de serviço. Desse modo, ele poderia apoiar a filha, resguar­dando-a, desde a caixa do correio, impedindo que novas cartas lhe che­gassem às mãos, até a assistência contínua em casa, hora a hora, para que se lhe garantisse a tranqüilidade na gravidez. Cláudio agradeceu, confortado. Vinda a noite, conversou com Marina, sossegando-a. Disse-lhe acreditar que Nemésio não mais a molestaria e informou ter estado na residência dos Torres, sem nada avançar além disso. Marina rejubi­lou-se ao saber da projetada licença. Ambos se devotariam a trabalhos diversos. Construiriam, juntos, o berço do nenê. Dariam nova disposi­ção ao apartamento. E, na certeza de que a neta se achava a caminho, Cláudio concordou em pintar as paredes, desde que a cor rosa fosse predominante. Mais tarde, ao deitar-se, Cláudio refletiu no leito so­bre a imprevista situação, prevendo que seria compelido doravante a novos encargos. A carta de Nemésio e a rudeza com que lhe havia cer­rado a porta não lhe deixavam margem a dúvidas. Por isso, orou, implo­rando recursos aos Espíritos amigos, para que não fraquejasse nem ti­vesse qualquer propósito de revide. Admitia-se em duro teste. Sem dú­vida, prejudicara Nemésio em outras existências e agora devia pagar. Aquele homem castigara-o na alma e na carne, transformara-se em cobra­dor do destino. Era preciso, pois, aceitar o desafio com humildade. No dia seguinte, com a desculpa de obter pão mais fresco, desceu à porta­ria do prédio e recolheu nova carta de Nemésio endereçada a Marina. (Cap. XII, pp. 314 e 315)
15. Nemésio confessa-se falido - A carta era uma coleção de reca­dos, em que se misturavam declarações e libelos. Nemésio alegava difi­culdades. Dizia precisar dela para recompor as finanças. Restaurar-se-ia em reduzido tempo, se o atendesse. Apesar dos prejuízos que experi­mentara, era ainda suficientemente abastado para fazê-la feliz. Recla­mava resposta. Ameaçava. Cláudio queimou o documento, mas a ocorrência se repetiu diariamente por dois meses. As cartas chegavam pontualmente e cada uma era mais inconveniente que a outra. Por vezes, relatava suas andanças pelo Flamengo, tentando revê-la. Noutras, depois de fra­ses melífluas, exigia pronunciamentos descabidos, sob pena de estourar o crânio, deixando queixa à Polícia contra ela, no intuito de arruiná-la. Em bilhetes comprometedores, proibia-lhe dar filhos a Gilberto. Preferia matá-la ou matar-se a receber netos do lar que haviam for­mado. Dia a dia, porém, Nemésio ficava mais contraditório e menos lú­cido. Cláudio percebeu que o pai de Gilberto se atascava, sempre mais, em loucura e obsessão, sem que lhe fosse facultado assumir qualquer providência. Cumpria-lhe tudo amargar, sem dividir com pessoa alguma a dor que o espicaçava. No último exame médico, o facultativo indicou à filha ligeiros exercícios físicos. Nenhuma ginástica. Algo suave. Bas­tariam marchas diminutas a pé. Que ela realizasse à noitinha curto passeio até à praia, em esforço diário, enquanto fosse possível. Nada mais que isso. Marina obedeceu e, como era de esperar, Cláudio serviu-lhe de guarda-costas, tendo o coração repassado de inquietude, mas sem poder opor qualquer embargo à prescrição. Afinal, para a filha, aquela manifestação de Nemésio, pelo serviço postal, fora varrida do pensa­mento. Enlaçada ao pai, Marina efetuava breve percurso, para sentar-se junto dele, nunca por mais de meia hora, ao pé do mar. Seis dias se passaram, quando chegou de Nemésio uma carta diferente. A letra modi­ficada, configurando insultos, revelava superexcitação fronteira à de­mência. Informava a Marina tê-la visto na praia, em companhia de seu pai, e verificara que ela, afinal, se engravidara contra as ordens que lhe ditara anteriormente. Acreditava-se, então, o mais desmoralizado de todos os homens. Enojava-se da paixão que nutrira por ela. Confes­sava-se falido. Preferia morrer. Escasseava-lhe tudo. Acabara-se o dinheiro. Os amigos desertavam. Restava-lhe de seu apenas a casa, as­sim mesmo hipotecada. Plantaria uma bala na cabeça. E finalizava, alinhando obscenidades e informando estar assinando o nome pela última vez. Cláudio, assustado, leu e releu o documento e, antes de reduzi-lo a cinzas, insulou-se no quarto e orou por aquele homem que, pelo jeito, se afundava em pavoroso desespero. (Cap. XII, pp. 316 e 317)
16. Cláudio é atropelado por Nemésio - Cláudio entendeu que Nemé­sio delirava, mas não podia avisar o genro, sem causar riscos à filha. Procurou in­formar-se junto a hospitais e delegacias com referência ao suicídio anunciado, mas em vão. Nenhum vestígio disso havia. Ao reco­lher-se, vinda a noite, rogou a Jesus pelo adversário. Que os mensa­geiros do Cristo se apiedassem de Nemésio, amparando-o. Se ainda esti­vesse no corpo carnal, que se lhe estendesse o socorro para não resva­lar em de­serção; se houvesse buscado a vida espiritual, que fosse ba­fejado pela proteção dos Emissários Divinos... Enquanto Moreira e An­dré lhe acom­panhavam a oração, Percília entrou. Disse ter vindo da parte de Félix para colaborar com Cláudio, cujos apelos, durante todo o dia, transmi­tidos para o "Almas Irmãs", tinham impelido vários ami­gos a rogar auxílio em benefício dele. Quatro dias se passaram sem episódios espe­ciais, a não ser a extrema dedicação de Percília, que, diante de Cláu­dio, era análoga ao amor de Cláudio para com a filha. Entre sete e oito da noite, André e seus amigos desceram do prédio. Cláudio e Ma­rina conversavam tranqüilamente, em torno de assuntos tri­viais, à frente das águas mansas. Depois do descanso, a volta. Pai e filha, à beira da pista asfaltada, esperavam vez, notando os carros que desfi­lavam, velozes. Marina locomovia-se pesadamente; em razão disso, aberto o sinal, iniciaram a travessia com vagar. Aconteceu, no en­tanto, o imprevisto. Um automóvel, atravessando o sinal, precipitou-se a toda velocidade sobre pai e filha, em tremenda impulsão. Cláudio, rápido, dispôs simplesmente de um segundo para arredar a filha e foi arremessado a distância, depois de sofrer o impacto da máquina à al­tura do tronco... O veículo era conduzido por Nemésio que, com a fi­sionomia de um louco, passara, desnorteando guardas e populares que, debalde, se dispunham a segui-lo. Marina, em gritos, foi imediatamente escorada por senhoras que acudiram, emocionadas. Sobreveio a agitação. Motociclistas dispararam no encalço do agressor. Cláudio, tonto a princípio, recuperou os sentidos e virou-se com dificuldade. Superando a resistência do corpo que se tornara rígido, conseguiu sentar-se, apoiando-se nos dois braços, tendo as mãos espalmadas no solo. (Cap. XII, pp. 318 e 319)
17. Cláudio é hospitalizado - Era a filha que o preocupava! An­siava enxergá-la, sabê-la viva, salva!... O sangue pingava-lhe da boca, mas, sobrepondo-se à curiosidade dos circunstantes, perguntou por ela. Marina, firmando-se em benfeitoras anônimas, arrastou-se até ele. Não sofrera qualquer arranhão, mas aturdira-se e receava desfale­cer. Fitando, porém, o pai a dominar-se para insuflar-lhe segurança, cobrou forças. Cláudio sorriu e rogou-lhe calma. Ferira-se um pouco, mas era coisa simples. Afligia-se somente por ela. Ficasse boazinha, suplicou. Confiasse em Deus. Tudo terminaria bem. Solicitou, em se­guida, a presença do genro, que um dos cavalheiros presentes se pron­tificou a buscar, no endereço fornecido por Cláudio, que queria pros­seguir conversando, para consolo da filha, mas as energias lhe escapa­vam... Percília, acomodada no chão, resguardava-o em lágrimas. Desen­carnados amigos que procediam das vizinhanças protegiam a gestante, enquanto Moreira e André diligenciavam fortificá-lo, conjugando recur­sos magnéticos. Em derredor, a balbúrdia... O acidentado, porém, alheou-se, em reflexão... Era novembro... Dois anos haviam transcor­rido sobre o desastre no qual supunha haver Marita procurado a morte. Ela tombara perto do mar, ele também... Viu que Marina chorava, baixinho, e verificou que as lágrimas represadas lhe constringiam a garganta. Queria tanto viver para aquela filha, aguardava com tanta ternura a criancinha por nascer!... Nisso, sentiu que lhe voltava à mente a visão em que se reconhecera visitado por Marita, e as palavras da prece que formulara lhe vieram, uma a uma, no ádito da memória: "Senhor, tu sabes que ela perdeu os sonhos de criança por minha causa... Se é possível, amado Jesus, permite agora que lhe dê minha vida!..." Cláudio sorriu e compreendeu. Estava tudo muito claro. Ao proteger Marina, salvando a filha e a neta, dera a própria vida, tal como pedira. Nas preces costumeiras, rogava aos amigos espirituais o ajudassem no resgate da falta cometida. Se lhe competia encetar o pa­gamento do débito assumido, no curso de existências porvindouras, por que não iniciá-lo, ali mesmo, entre os rostos desconhecidos que Marita fora igualmente constrangida a defrontar?... Soberana tranqüilidade se lhe instalou no espírito. Diante da ambulância que chegara, pediu a internação no Hospital dos Acidentados e, carregado por braços genero­sos, despediu-se da filha, recomendando-lhe otimismo, serenidade. Es­perasse por Gilberto e lhe participasse o acontecido, sem exagerar as impressões. Nada de alarmes. Que não se apoquentassem por sustos. (Cap. XII, pp. 320 e 321)
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10a R E U N I Ã O
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