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Centro espírita nosso lar grupo de estudo das obras de andré luiz e manoel philomeno de miranda


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(FONTE: 2a PARTE, CAPÍTULOS XII a XIV.)
1. Cláudio se avizinha da morte - Dentro do carro, enquanto Cláu­dio pensava em Marita, Percília -- que o aconchegava de encontro ao colo -- se desfazia em pranto copioso. Dizendo ser mãe dele, a nobre entidade informava não chorar de dor por ver-lhe o corpo caído, mas de alegria por abraçar-lhe o espírito levantado: "Choro, irmãos, ao re­conhecer que eu, mulher prostituída no mundo, hoje em serviço de minha regeneração depois de provas árduas, posso aproximar-me do filho que Deus me confiou, a fim de pedir-lhe perdão pelos maus exemplos que lhe dei..." Diante desse testemunho de humildade, André e Moreira baixaram a fronte, envergonhados, e num movimento instintivo inclinaram as ca­beças, ao mesmo tempo, sobre a destra maternal que afagava o ferido, osculando-a com reverência. O médico que atendera Marita foi chamado e atendeu sem delonga. O irmão Félix também surgiu de repente, como se já soubesse de antemão o que acontecera. Ativou-se, assim, o trabalho socorrista por parte dos benfeitores espirituais, em colaboração com a medicina terrestre. Félix avisou, porém, que Cláudio estava prestes a desligar-se do corpo e nenhuma providência humana conseguiria sustar a hemorragia interna em efusão crescente. Todas as medidas tomadas pelo facultativo redundavam infrutíferas e Cláudio esmorecia. Tentou menta­lizar a figura de Marita, mas a cabeça não se aprumava. Lembrou-se de Agostinho e Salomão, e reportou-se de leve a isso. Agostinho já deman­dara o mundo espiritual, semanas antes, mas, se possível, estimaria abraçar o farmacêutico amigo... O médico entendeu e comunicou-se com Gilberto e Salomão, pelo fio. Viessem com urgência. O moribundo, em prece, rogava forças. Desejava apelar para o genro e para a filha, in­vocar-lhes a benevolência para Márcia e Nemésio. Félix redobrou esfor­ços para sustar o fluxo hemorrágico, ainda que por minutos, e, colabo­rando intensamente com o médico, obteve o que procurava. (Cap. XII, pp. 321 a 323)

2. A desencarnação - Cláudio ganhou inesperada melhora. Racioci­nava com firmeza, conseguia comandar-se. Lúcido, viu quando Gilberto e Marina entraram, compungidos. Depois, verificou a chegada de Salomão. Declarou-se, então, reanimado e alegre, elaborando as palavras com a serenidade possível. Olhando de maneira acariciante para a filha an­siosa, avisou, com um sorriso forçado, que talvez fosse compelido a efetuar grande viagem para tratamento mais amplo. Marina compreendeu o significado do gracejo e caiu em choro. O pai advertiu-a com doçura. Onde a fé que cultivavam? como não confiar em Deus que renova o Sol cada manhã, para que a vida permaneça triunfante? Tencionava falar-lhes de assunto sério... Marejaram-se-lhe os olhos de pranto e, com inflexão de súplica, rogou-lhes bondade e entendimento para Márcia e Nemésio. Quando a oportunidade aparecesse, que o lar do Flamengo se mantivesse repleto de carinho para eles, tanto quanto fora farto de amor para ele. Confessou que Márcia era excelente companheira, que ele, tão-somente ele, devia ser culpado pela separação... Acentuou que não detinha nenhum motivo para malquerer Nemésio e que o considerava um irmão, pessoa da família, com credenciais para ser acatado e com­preendido em qualquer circunstância... O enfermo, nesse ponto, passou a respirar com dificuldade e, como Gilberto aludisse ao neto que vi­ria, o agonizante esboçou uma expressão quase risonha e ponderou: "Minha neta..." E acrescentou, reticencioso: "Um espírita não aposta... Mas... se eu tiver vantagem... na teima... peço uma coisa. Peço... para que a menina... tenha o nome de Marita... prometam..." A palidez e o cansaço se agravaram. Cláudio pôde apenas solicitar a Sa­lomão uma prece, um passe. O amigo orou, trêmulo, e administrou-lhe o benefício. Logo depois, Cláudio recordou o adeus de Marita e teve a impressão de que alguém lhe tocava os dedos. Era Percília, que o aca­riciava. Alongou, então, a destra na direção de Marina, fixando nela o derradeiro olhar. Guiada por Félix, Marina estendeu-lhe a mão, que o moribundo apertou, fortemente, entrando em coma, que perdurou ainda por quatro horas. De manhã, assistido pelos filhos e por Salomão, Cláudio foi finalmente afastado por Félix do corpo fatigado e envol­vido pelos braços de Percília, iniciando-se a caminhada de retorno à pátria espiritual. (Cap. XII, pp. 324 e 325)


3. No plano espiritual - Recolhido a uma organização assistencial vinculada aos serviços desenvolvidos por André Luiz, nas adjacências do Rio, Cláudio refazia-se. Félix, que não sossegou enquanto não lhe admitiu o reequilíbrio perfeito, entregou-o aos cuidados de André, sem retornar a vê-lo. Desperto, Cláudio mantinha-se vexado, confundido e, de momento a momento, acusava-se, apegado a complexos de culpa. André empregava todos os meios justos para dissuadi-lo. Que aproveitasse os erros por lições. As Leis Divinas preceituam esquecimento do mal para que o bem se incorpore à nossa individualidade, gerando automatismos de elevação. André mostrou-lhe ter atravessado também crises semelhan­tes; todavia, descobrira no serviço o remédio para as enfermidades do sentimento. Cultivasse, pois, paciência, que ninguém logra aperfei­çoar-se sem paciência, até mesmo consigo próprio. Contava com amigos no "Almas Irmãs", de onde havia descido às lides da reencarnação. An­dava transitoriamente esquecido, sob o efeito natural das experiências a que se condicionara no plano físico; entretanto, recuperaria oportu­namente mais amplos potenciais da memória, rejubilando-se com reencon­tros abençoados. Cláudio reconfortou-se, esperançado, e no quarto dia após o transe comoveu André com singular pedido. Reconhecendo-se ampa­rado por muitos benfeitores, porque somente à custa de muitos favores pudera acordar, antes da morte, para as realidades da alma, rogou per­missão para continuar trabalhando, mesmo desencarnado, no seio da fa­mília, sem ausentar-se do Rio. Amava os filhos, ambicionava converter-se para eles num servidor. Mas não era só... Duas criaturas deixara, junto das quais se reconhecia devedor: Nemésio e Márcia. Além de sus­pirar por se redimir, diante dos credores, sonhava auxiliá-los e amá-los. (Cap. XIII, pp. 326 e 327)
4. Cláudio volta ao lar - Acrescentou Cláudio que, se atendido, obedeceria lealmente aos programas de ação que lhe fossem traçados. Não cobiçava outra coisa senão instruir-se, melhorar-se, compreender e ser útil... A petição enterneceu André, que não detinha, porém, compe­tência para decidir. Autoridades do estabelecimento que os albergava acolheram o assunto com simpatia e ofereceram medida básica à solução do impasse. Desde que se munisse de aprovação, Cláudio residiria ali mesmo, apesar de se manter em atividade na proteção aos parentes. Per­cília partiu, então, com atribuições de mensageira, para advogar a causa no "Almas Irmãs", convicta de que Félix a aprovaria. Foi o que aconteceu. Permitiu-se a Cláudio o período de dez anos de serviço ao pé dos familiares, antes de se elevar aos círculos imediatos da Espi­ritualidade para julgamento da existência transcorrida, reservando-se à Casa da Providência o direito de corrigir a concessão, dilatando o tempo, se ele mostrasse aplicação no cumprimento das promessas feitas, ou cassando a licença, na hipótese de se revelar indigno dela. Cláu­dio, satisfeito, exultou e pediu colaboração para voltar ao Flamengo. Estava fraco, vacilante, mas queria trabalhar, sair de si mesmo... Ajustaram-se providências. Moreira, que se mantinha ao lado de Marina, ajudá-lo-ia. O mecanismo de amor da Bondade Divina é extraordinário! Aquele que lhe fora comparsa no desequilíbrio, ser-lhe-ia o arrimo nas tarefas do reajuste. Seis dias depois do acidente, Cláudio foi recon­duzido ao antigo lar, no Flamengo. Apoiando-se em Percília, penetrou em casa, acolhido por Moreira, e procurou o quarto que até então ocu­para, sentando-se no próprio leito, a refletir. O relógio marcava seis horas quando Marina se ergueu. Daí a instantes, a jovem penetrou no recinto onde os amigos se achavam e, em pensamento, dirigiu-se a Je­sus, rogando-lhe abençoasse o genitor, onde estivesse. Enlevados, An­dré e os demais ouviram-na, palavra a palavra, no clima dos pensamen­tos harmônicos em que todos se entrelaçavam, embora Marina orasse em silêncio. Cláudio levantou-se e abeirou-se da filha, mas, ao tocá-la, fremente de júbilo, percebeu que a filha trazia no corpo e na alma a doce presença de Marita nascitura... Receoso, deu um passo à reta­guarda. Temia conspurcar a excelsitude do quadro sublime que o defron­tava. Marina figurou-se-lhe uma planta luminosa, modelada na carne, encerrando uma flor quase a desabrochar. A idéia de Cláudio relampeou na oração. Suplicava a Deus não lhe permitisse alçar caprichos acima de obrigações... Aproximou-se, então, dela, abraçou-a brandamente e apelou: "Minha filha!... Minha filha!... que é feito de Nemésio? Pro­curemos Nemésio! E' preciso ampará-lo!... Ampará-lo!..." (Cap. XIII, pp. 328 a 329)
5. A ruína de Nemésio - Marina não assinalou o pedido com os sen­tidos físicos, mas, sem saber por quê, rememorou a solicitação paterna de última hora. Ela e Gilberto haviam recebido notícias de Nemésio. As informações eram alarmantes; entretanto, hesitavam... O sogro jazia enfermo, em estado grave... Lembrando a rogativa de Cláudio, Marina decidiu-se em espírito. Esqueceria o passado e ajudaria o doente no que lhe fosse possível, inclinando Gilberto à reconciliação. Não adia­riam por mais tempo a visita. Ao café, a jovem sugeriu ao esposo as primeiras medidas atinentes ao caso. Cláudio, que observava a cena, entrou direto em serviço, alimentando as disposições favoráveis do ca­sal. Que não recuassem. Atendessem. Nemésio era também pai. Marina propunha, Gilberto ponderava. Por fim, ele concordou. Telefonaria ao médico e se a doença fosse mesmo grave iriam vê-lo à noite. André, deixando os amigos no Flamengo, buscou a casa dos Torres, para ver Ne­mésio. A casa estava em silêncio e, junto dele, hemiplégico e afásico no leito, encontrava-se apenas Amaro, o fiel amigo espiritual que ve­lara por dona Beatriz. O enfermeiro resumiu para André, em breves pa­lavras, a tragédia em que se envolvera aquele homem, antes tão baju­lado e tão rico. Cedendo à paixão que lhe empolgava os sentidos e ex­citado pelos obsessores, que o abandonaram logo que lhe viram o corpo arruinado e inútil, Nemésio decidira exterminar Marina e suicidar-se em seguida. Ao praticar o crime, verificou, porém, que atropelara Cláudio e não a filha, entrando em desespero, e esse desespero lhe cresceu tanto no espírito que o corpo doente não resistiu. Sobreviera o derrame. Avisado por amigos, Amaro o encontrou, semiparalítico e sem fala, no automóvel, longe do local em que se desenrolara o delito. Pa­recia prestes a desencarnar, mas Félix aparecera de improviso e requi­sitara o apoio de todos os órgãos espirituais de assistência, situados nas imediações, acumulando fatores de intervenção em favor dele. Orara, suplicando aos Poderes Divinos não lhe permitissem a saída do plano físico sem aproveitar o benefício da enfermidade. Félix advogara para ele as vantagens da dor, que reputava santas, e o processo desen­carnatório fora imediatamente sustado. Desde então, o velho Torres era aquilo que André via: um farrapo de gente, largado à cama. A casa fora devassada pelos credores, e empregados desonestos haviam fugido carre­gando copioso fruto de saque: baixelas, cristais, roupas, telas, jóias e até o piano. Apenas Olímpia, antiga companheira, vinha até ali duas vezes por dia, para prestar ligeira assistência ao enfermo, que, em­bora lúcido, não conseguia articular palavra. (Cap. XIII, pp. 330 a 332)
6. Nemésio passa a morar com Marina - Condoído, André ali aguar­dou a noite e viu quando Gilberto e Marina atravessaram o vestíbulo, seguidos de Percília, Cláudio e Moreira, tomados de surpresa dolorosa. Gilberto e a esposa não conseguiram dominar as exclamações de assombro e prosternaram-se em lágrimas à frente do leito. Nemésio reconheceu-os e debalde intentou soerguer a carcaça dorida, sem conseguir articular qualquer palavra, embora o tentasse. André e seus amigos registraram-lhe, porém, os pensamentos e viram que Torres-pai implorava aos filhos benevolência, compaixão... Contemplando a nora pelo véu de pranto, lastimou na linguagem inarticulada do cérebro: "Marina!... Marina!... sou um infeliz... Perdão pelo amor de Deus!... Perdão pelas cartas afrontosas, perdão pelo meu crime!... Eu estava louco, no momento em que arrojei o automóvel no corpo de seu pai!... Diga, diga se ele mor­reu... Perdão, perdão!..." Cláudio, somente naquele momento ficou sa­bendo quem fora o autor do atentado que lhe impusera a morte... Recor­dando, porém, outra noite, em que ultrajou a própria filha, caiu tam­bém genuflexo, abraçando-se a Marina ajoelhada, e, como se ocupasse o íntimo da jovem senhora, fê-la buscar a destra de Nemésio para beijá-la com a reverência que os filhos devem aos pais. Tocado no coração por semelhante gesto de ternura, Nemésio articulava sons ininteligí­veis, implorando mentalmente: "Perdão!... perdão!..." Cláudio ergueu-se, de súbito, e, erguendo os olhos para o alto, clamou em pranto: "Deus de Imensa Bondade, perdão para mim também!..." Naquela mesma noite, uma ambulância conduziu Nemésio ao hospital e, após alguns dias de tratamento, sempre custodiado pelos filhos, ele subiu em cadeira de rodas ao apartamento do Flamengo, onde passou a habitar, mudo e inerme, sob os desvelos da nora e amparado por Cláudio, no mesmo apo­sento que pertencera àquele que perseguira por rival e que se lhe eri­gia agora por denodado guardião. (Cap. XIII, pp. 332 e 333)
7. Beatriz insiste para ver Nemésio - Os êxitos morais de Cláu­dio, co­mentados com admiração por alguns amigos no "Almas Irmãs", criaram para o irmão Félix um problema grave. Beatriz (a esposa desen­carnada de Nemésio), ciente desse fato, quis rever o esposo e o filho. Peça viva na engrenagem doméstica, ela pensava que não podia alhear-se. Fé­lix, porém, negou-se a atender o pedido. Neves, que não se cu­rara de todo da impulsividade característica, achou que o pedido era razoável e colocou tantas relações e tantos empenhos no assunto, que Félix não teve outra alternativa senão aderir. Neves iria acompanhar a filha e André foi designado por Félix para cooperar na solução de qualquer emergência. Muito preocupado com a visita, o dirigente pres­sentia obs­táculos, receava riscos. Beatriz, entusiasmada na contempla­ção do Rio, suspirava, além de rever esposo e filho, reavistar também a antiga mo­radia. No Flamengo, o encontro com Nemésio constituiu para ela um cho­que. Ao vê-lo desfigurado, na postura dos paralíticos, empa­lideceu. Enleando-se a ele, passou a crivá-lo de perguntas lastimo­sas... Por que mudara tanto em dois anos apenas? que lhe acontecera para se rele­gar a semelhante ruína física? que fizera? por quê? por quê? Nemésio não assinalava as carícias e as perguntas da esposa, mas quedou-se to­cado de fundas reminiscências... Passou a pensar em Bea­triz e recons­tituía-lhe a imagem no imo do ser. Ah! -- refletia o en­fermo -- se os mortos pudessem amparar os vivos, segundo a crença de tantos, certa­mente Beatriz se compadeceria dele, estendendo-lhe as mãos!... Igno­rando que respondia às perguntas da es­posa, ali colada a ele, revisou então todos os acontecimentos poste­riores à morte dela, como que a lhe prestar severas contas, exibindo para a companheira e para os demais, qual num filme pujante, a verdade toda, até o instante em que se precipitara no crime. (Cap. XIII, pp. 333 a 335)
8. Beatriz sofre ao ver o estado do marido - Se Beatriz estivesse no mundo -- concluía Nemésio, em suas reflexões -- estaria isento de aflições e tentações. Junto dela, teria recolhido defesa, orientação. Profundas saudades lhe acicatavam a alma e recompunha na imaginação os sonhos da juventude, o casamento, os projetos de ventura concentrados em Gilberto pequenino... Movimentou, então, com dificuldade a mão es­querda para enxugar o pranto que lhe encharcava o rosto, sem saber que a esposa o auxiliava, soluçando. Apreensivo, Neves tentou soerguer a filha que se estirara no chão, à maneira de mãe torturada incapaz de alijar do peito um filho semimorto. Tudo em vão. Beatriz respondeu-lhe dizendo que amava Nemésio e preferia ser amarrada num catre, ao lado dele, a separar-se de novo. Agradecia o devotamento que recebera no "Almas Irmãs", mas pedia vênia para considerar que o esposo sofria. Como descansar, lembrando-lhe os suplícios? A doutrina cristã lhe en­sinara que Deus é um pai compassivo, e um pai compassivo não aprovaria ingratidão e abandono. Neves julgava que Nemésio nada fizera para me­recer semelhante abnegação e inclinava-se ao estouro, mas André suge­riu-lhe calma. Censuras de nada adiantariam; só agravariam a situação. A seguir, André mostrou para Beatriz que Gilberto se preparava para dar-lhe uma neta e que a conformidade da parte dela, no tocante às provações do marido, ser-lhes-ia uma bênção. Acatando a solicitação, a mulher ergueu-se, contrafeita, e se aproximou de Marina, cuja história real passara a conhecer pelas lembranças do marido. Generosa e vendo Cláudio, que perdoara a Nemésio tantas injúrias, beijou Marina, com enternecimento de mãe. Depois, compartilhou a oração e o socorro mag­nético prestado ao marido e pareceu reconfortar-se, sobretudo quando Gilberto chegou para o jantar, encantando-se ao notar que o filho bus­cara o doente para a refeição, após afagar-lhe a testa com carinho. O retorno foi, porém, muito difícil, porque Beatriz agarrou-se ao marido e, desligada dele quase à força, revelava sinais de alienação come­çante, descendo do prédio, abatida, muda. Neves a convidou, então, para visitar sua antiga moradia, que se reduzira a um casarão às escu­ras e, condenado a leilão, transformara-se em valhacouto de malfeito­res desencarnados, não havendo ali senão poeira e sombra do oásis fa­miliar que Beatriz um dia construíra. (Cap. XIII, pp. 335 a 337)
9. Beatriz enlouquece - Beatriz, em desespero, correu de peça em peça, de susto em susto, de grito em grito, até que se rojou de borco, nos tacos da espaçosa câmara que lhe merecia a preferência, pronun­ciando frases desconexas... A pobre irmã enlouquecera. André postou-se de vigia, asserenando-a, enquanto Neves, desolado, recorria aos servi­ços de amparo urgente, ligados ao "Almas Irmãs", em local não dis­tante. O auxílio não tardou. No dia seguinte, enfermeiras especializa­das colaboraram com o grupo, por determinação de Félix, mas somente depois de quatro dias após o incidente pôde Beatriz, dementada, reen­trar no instituto. Duas semanas de trabalho vigoroso e atenção cons­tante se esvaíram, infrutiferamente, no lar de Félix, até que um dos médicos que a assistiam recomendou sua internação em hospital ade­quado, a fim de que lhe fosse aplicada a sonoterapia, com algum exer­cício de narcoanálise, para que se lhe exumassem as recordações pos­síveis da existência anterior, com a cautela devida, de modo a que não se precipitasse em mergulhos de memória alusivos a períodos preceden­tes. O parecer foi acatado. No momento indicado, ao pé de Beatriz, que dormia num leito, cujo travesseiro se achava munido de recursos ele­tromagnéticos especiais, estavam Félix, André, Régis, Neves, o psi­quiatra que sugerira a medida, dois assistentes do médico e o chefe de arquivo do "Almas Irmãs". Iniciada a experiência, Beatriz, com voz e maneiras diversas das habituais, revelou-se num ponto indeterminado de existência anterior, reclamando contra uma certa Brites Castanheira, mulher à qual imputava os infortúnios que lhe devastavam a alma. O analista esbarrara com expressivo foco de exacerbação, facultando-lhe fácil penetração nos domínios recônditos da mente. O médico indagou onde conhecera Brites. Beatriz, sempre em sono provocado, replicou que para isso precisaria lembrar a juventude e, devidamente estimulada, informou que nascera no Rio, em 1792, e se chamava Leonor da Fonseca Teles, nome que lhe adviera do homem com quem se casara em segundas núpcias. Em 1810, desposara um rapaz português, Domingos de Aguiar e Silva, que se demorava no Brasil, em serviço do Duque de Cadaval, na Corte de D. João VI. Dessa união tivera um filhinho, Álvaro, em 1812. O marido, no entanto, faleceu prematuramente no Caminho do Boqueirão da Glória, quando se responsabilizava pela condução de alguns potros bravos, adquiridos para as cocheiras reais. As personalidades influen­tes da época prometeram ajudá-la, especialmente com vistas à criação do menino, que ficara órfão. Em 1814, um rico ourives estabelecido na rua Direita, Justiniano da Fonseca Teles, três anos mais velho do que ela, propôs-lhe casamento e ela aceitou, alegrando-se muito por veri­ficar que entre enteado e o padrasto havia abençoada camaradagem. (Cap. XIII, pp. 337 a 339)
10. O caso Álvaro - O menino cresceu afetuoso e inteligente e, filho único, converteu-se para ela e o esposo em laço de luz e amor. Em 1827, com quinze anos, Álvaro embarcou para a Europa, sob o patro­cínio de fidalgos amigos do pai, tendo realizado estudos brilhantes em Lisboa e Paris. Seu regresso ocorreu em 1834, e para ela e Justi­niano o lar transformou-se, de novo, num mar de rosas, até que certa noite... (Diante da pausa, Félix, visivelmente comovido, pediu que a análise se detivesse nas possíveis recordações da noite mencionada e o orientador da pesquisa atendeu.) Beatriz franziu a testa, patenteando o sofrimento de quem esbarrava com uma ferida no próprio corpo, sem meios de extirpá-la, e respondeu, descontente: "Devo explicar que Bri­tes era casada com Teodoro Castanheira, rico negociante que morava na rua da Valinha. Ambos moços, com uma filha única, Virgínia, pequenota de onze anos... Embora eu tivesse ultrapassado os quarenta, junto de Brites que ainda não alcançara os trinta, queríamo-nos intensamente, enquanto que nossos maridos nos copiavam a atenção, com a mesma dife­rença de idade... Eles unidos pelos negócios e nós pelos sonhos casei­ros". Na noite referida, ela e o marido apresentaram Álvaro à socie­dade, num sarau do Comendador João Batista Moreira, na Pedreira da Glória. Quando Álvaro e Brites se cumprimentaram, pararam extáticos, de olhos um no noutro... A volta para casa ocorreu tarde. O rapaz, de­vaneando, supunha impossível que Brites fosse casada, pois parecera-lhe simples menina. A mãe fez o possível para evitar o desastre, mas em vão... Tocados de paixão recíproca, começaram os encontros e as brincadeiras, até que Teodoro os descobriu juntos num quarto do Hotel Pharoux. Escandalizado, o marido desinteressou-se da mulher, embora continuasse no lar por amor à filha. Nessa posição, passou ele a cor­tejar, então, a jovem Mariana de Castro, conhecida também por Naninha, que residia com os pais na rua do Cano. Brites, longe de magoar-se, facilitou quanto pôde a ligação entre o marido e Naninha, para ver-se livre. Naninha acabou cedendo ao assédio do comerciante, mas enjeitou dois filhos dele nas portas da Misericórdia, como ficou conhecido pu­blicamente... Beatriz entrou em crise de lágrimas e seguiu contando que o filho, depois de quatro anos, se enfadou de Brites e só então comunicou que deixara uma prometida em Lisboa. Queria voltar, mas re­ceava que a amante se despenhasse no suicídio. Depois de muitas nega­ças em vão para retirar-se, arquitetou então um plano maquiavélico, de que resultara para ela, mãe amorosa, a infelicidade irremediável. Per­cebendo a fraqueza de Brites por jóias, insinuou ao padrasto que ela ansiava possuir-lhe a dedicação, fantasiando recados e armando embus­tes. Justiniano, vencido pelas sugestões de Ôlvaro, pôs-se em ação, conseguindo impressionar Brites com presentes raros, até que no pri­meiro encontro, forjado por Ôlvaro, este interferiu na cena, assumindo o papel de companheiro ultrajado, o que lhe permitiu afastar-se para Portugal, deixando no Brasil várias tragédias em andamento. (Cap. XIII, pp. 340 a 342)
11. O ato de Ôlvaro gera muitas calamidades - O golpe infundira em Brites Castanheira uma nova personalidade. Convertendo-se em pavo­rosa mulher, calculista e cruel, nunca mais se lhe viu um gesto de piedade e transformou Justiniano num homem de sexualidade pervertida, extorquindo-lhe dinheiro e mais dinheiro, até ao ponto de entregar-lhe a própria filha, Virgínia, que atravessara os quinze anos, vendendo-a ao amante, homem já velho, para senhorear terras e haveres. Ainda as­sim, não contente com os próprios desvarios, desencaminhou moças de nobre formação, atirando-as no prostíbulo, estimulando infidelidades, vícios, crimes, abortos... Virgínia, com quem Justiniano passou a vi­ver em definitivo, abandonando a esposa, transfigurou-se em pomo de discórdia entre Justiniano Fonseca Teles e Teodoro Castanheira, que se atormentaram mutuamente em onze anos de conflitos inúteis, até que Te­odoro, então vivendo maritalmente com Naninha de Castro, apareceu morto a punhaladas, na rua da Cadeia, homicídio esse atribuído a es­cravos foragidos. Naninha sabia, porém, que Justiniano fora o mandante do crime e tramou vingança. Uniu-se, assim, a outro homem, em cujo es­pírito insuflou despeito e ódio contra o ourives, e ambos planejaram assassiná-lo num suposto acidente. Justiniano, já idoso e enfermo, ad­quirira o hábito da visita domingueira à Bica da Rainha, no Cosme Velho. Quando regressava de uma dessas jornadas, à noite, guiando o carrocim em que se fazia conduzir, Naninha e o companheiro, ocultos na sombra, crivaram o cavalo de pedras revestidas de farpas, depois de escolherem o local que favorecesse o desastre. O animal arrojou-se la­deira abaixo, arremessando o velho do cimo de um barranco sobre um monte de lajes empilhadas, onde Justiniano encontrou morte quase ins­tantânea. E tudo, rematou Beatriz, por nada, porque Ôlvaro, ao chegar a Portugal, achou a prometida casada com outro, por imposição dos pais, regressando mais tarde ao Brasil, onde acabou na condição de professor solteirão... "Ah! meu filho, meu filho!... Por que te fi­zeste o autor de tantas calamidades?!...", clamou Beatriz. (Nesse mo­mento, Félix solicitou dos cientistas um intervalo para explicações, antes de retirar-se.) Beatriz foi restituída ao sono. O chefe do Ar­quivo mostrou então a certidão da saída de Beatriz, cinqüenta anos an­tes, para a reencarnação no Rio. Ela fora, de fato, Leonor da Fonseca Teles, que estivera por algum tempo em regiões inferiores, residira por 28 anos em colônia espiritual não distante e passara apenas dois meses no "Almas Irmãs", em 1906, por solicitação de irmão Félix, que lhe patrocinara o renascimento no lar de Pedro Neves. Félix rogou, contudo, as informações possíveis com relação às pessoas referidas por Beatriz, que estivessem vinculadas ao instituto. Aparelhos funcio­naram e o Arquivo respondeu com presteza. Justiniano, Teodoro, Virgí­nia e Naninha de Castro haviam reencarnado no Rio, todos com certidão de saída do "Almas Irmãs". Justiniano era Nemésio Torres, negociante, com débitos agravados; Teodoro era Cláudio Nogueira, com melhoras sen­síveis; Virgínia era Marina, com promissores índices de reforma ín­tima; Naninha fora Marita Nogueira, recentemente desencarnada e em processo de retorno à carne, enquanto Brites Castanheira envergava na Terra o nome de Márcia Nogueira, cuja ficha era desoladora e regis­trava longa série de abortos, deserções do dever e lares destruídos. (Cap. XIII, pp. 342 a 344)
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