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A «Maria Stuart» de Schiller


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A «Maria Stuart» de Schiller

Continuação.

Mortitner surge, declarando que ouviu tudo.

Mortimer surge como que alucinado pela paixão: «Venceste! Pisaste-la no pó. Foste a rainha e ela a criminosa. A tua coragem arre­batou-me e rezo-te: é como uma deusa,-grande e magestosa, que neste momento me apareces... Como essa nobre, essa régia cólera te iluminava, exalçando-te a beleza a meus olhos. És a mais bela das mulheres!»

Na sua atitude resoluta, na flama dos olha­res com que envolve o ídolo, no acento apaixo­nado das palavras, revelando profundas ener­gias em sobreexcitação, pressente-se que a acção do moço vai ser decisiva e enorme.

Entre as personagens masculinas do drama, esta avulta como o verdadeiro herói. As limi­tações impostas pela fidelidade histórica não podem embaraçar aqui a imaginação do poeta, que criou inteiramente esta curiosa figura e dela fez o agente principal da intriga. Se a entrevista das duas rainhas pode considerar-se o nódulo

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da acção, a catástrofe todavia só agora vai pro­duzir-se. Vem cedo de mais, se tivermos em mente os cânones da tragédia clássica:—mas as regras aristotèlicas da poesia dramática esta­vam abolidas desde Lessing, sobretudo desde os Sturmer, precursores do Romantismo. E vamos ver que ela surge no momento próprio, desde que tenhamos em vista a unidade de com­posição do drama.

Não se enregela o entusiasmo de Mortimer, quando Maria, ainda confiante na intervenção de Leicester, lhe pede notícias do conselheiro da rainha. Muito ao contrário, o moço paladino encontra na referência o motivo suficiente para a explosão do seu orgulho ferido e para a con­fissão aberta desse amor há tanto recalcado.— «Salvar-vos, ele? Possuir-vos? Que se,atreval A luta será de morte í»

Não. Ela não deve iludir-se. Leicester ê um pussilânime. A scena que acaba de passar-se não pode deixar-lhe dúvidas sobre o procedi­mento de Isabel. Está tudo perdido, já não é possível tentar o caminho do perdão. Agora, só a poderá salvar a acção imediata. A audácia é que deve decidir. Há que arriscar tudo por tudo, e a prisioneira estará livre ainda antes do nas­cer do dia. (l)

Num extremo alvoroço, em que há espanto

(i) Der Tat bedarf s jetzt, Kúhheit musa entscheiden, Fúr alies werde alies frisch gewagt, : ' Frei mtisst Ihr sein, noch eh der Mòrgen tagk

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•*

e pavor, ela ouve da boca do ousado Mortimer a nova da conjuração preparada. Êlè e os seus companheiros na empresa foram ouvidos em confissão por um padre, em capela secreta; e, absolvidos já dos pecados que cometeram e dos que possam vir a cometer na realização do feito, receberam a extrema-unção, encontrando-se pre­parados para a viagem suprema. Tudo está pre­venido para a execução do rapto audacioso. Matam-se os guardas. O próprio Paulet, «se­gundo pai» dê Mortimer, morrerá às mãos deste, se tanto for preciso. «Todas as violências estão previamente perdoadas. Posso pôr em prática as mais vis—e quero-o!... Mesmo que seja preciso assassinar a rainha... Jurei-o sobre a hóstia.»



Maria, apavorada, não é já a mesma leoa ferida que se alçou, vingadora, em face da ati­tude insultuosa de Isabel. È menos rainha e mais mulher. Obtempera: «Não, Mortimer, antes que por mim se derrame tanto sangue ..»

O herói, porém, não quere ouvi-la: «Que é para mim uma vida, de quem quere que ela seja, quando se trata de ti e do meu amor? Que a cadeia que sustenta o mundo se desprenda, que um segundo dilúvio possa tragar tudo o que respira — a nada atendo já. Se tenho de renun­ciar, que venha o fim de tudo í»

E Maria, estremecendo: «DeusT Que lingua­
gem, senhor, e... que olhar! Assustais-me! Ater­
rais-me í. ..» .

O olhar é de louco, è dum delírio calmo a

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expressão, segundo marca a rubrica do poeta, ao fazer avançar Mortimer, com esta tirada ver­dadeiramente romântica:—«A vida é um mo­mento apenas, como o é a morte. Arrastem-me até Tyburn (*), dilacerem-me os membros com as tenazes em brasa, mas que eu possa abra­çar-te, ó muito amada!>

E quando as palavras vão traduzir-se em facto, a altivez da rainha reaparece em Maria: «Insensato, para traz T»

A scena ainda se prolonga na mesma tona­lidade genuinamente romântica.

«Quero salvar-te a troco de milhares de vidas. Salvo-te, assim o quero; mas, tão ver­dade como existir Deus, juro-o, quero também possuír-te.»

«Essas belas madeixas, esses cabelos sedo­sos caem já para as sombrias potências da morte. Que eles te sirvam para algemar para sempre o teu escravo.»

«Só te resta o divino poder dessa grande beleza. È ela que me leva a tudo ousar, a tudo empreender, é ela que me impele para sob o cutelo do carrasco.»

As apostrofes incendidas, as frases à Schil-ler, como se lhes chamou depois, encadeiam-se, numa exuberância que lembra os diálogos infla­mados, excessivos de grandiloquência, dos Ban­didos (Die Rauber), o primeiro drama, escrito com os arrebatamentos da juventude, sob a in-

(i) O local da» execuções.

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fluência pressiva da literatura de «tempestade e assalto» (Sturm und Drang) e da imitação sha-kespereana, quando o poeta frequentava ainda a Escola Militar de Stuttgart.

A contra-reacção clássica; que fora alimen­tada por Winckelmann e Wieland, e tinha agora em Goethe o seu mais ilustre representante, afei­çoara decerto a maneira artística do Schiller da maturidade; a ela se deve, sem dúvida, o equi­líbrio de construção e forma da Maria Stuart, que nem por isso deixa de ser uma jóia da dra­maturgia romântica. Até por isso mesmo, direi melhor, porquanto, em virtude desse equilíbrio, o drama, seguindo a corrente nova, se expur­gara já, no entanto, dos exageros intempestivos e tempestuosos das primeiras tentativas.

Outra observação a fazer, antes de passar­mos mais além : o tratamento de tu, empregado por Mortimer no diálogo com a Stuart, é, indu­bitavelmente, uma sobrevivência de técnica clás­sica. Schiller emprega-o aqui, em contraposição ao tratamento por vós (de que Maria continua a usar com o seu interlocutor), como o empregara já em outros passos, quando as circunstâncias obrigam o diálogo a assumir um tom de sole­nidade, nomeadamente na scena do conselho (acto II), em que Shrewsbury, Burleigh e Lei-cester se dirigem do mesmo modo a Isabel, não deixando contudo esta de usar do vós.'O trata­mento na segunda pessoa do singular era mais solene; dignificava-o a tradição clássica; a Re­nascença aplicára-o na poesia laudatória e ele-

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gíaca, se o cantor se dirigia aos reis e aos cipes, quando o vós se tornara extremamente vulgar. O processo era aliás corrente em litera­tura. Goethe usa dele no Torcato Tasso; è na segunda pessoa do singular que o Tasso e António se dirigem ao príncipe Afonso de Fer­rara e à princesa Leonora de Este, sua irmã.

Mas reatemos o fio da urdidura.

Mortimer, preso do delírio, tem tomado nos braços a rainha da Escócia, que baldadamente se esforça por libertar-se, quando a Kennedy acorre, anunciando que uma multidão armada invadiu o jardim. As duas penetram no castelo. Tudo se precipita. È a catástrofe. Paulet manda fechar as portas e erguer a ponte levadica; encontrando o sobrinho só, pregunta-lhe pela «assassina» e afirma que a rainha acaba de ser morta nas ruas de Londres.

O moço não sabe se ainda está sendo vítima do delírio, quando tudo lhe é esclarecido pela entrada de Okelly, seu companheiro de conjura, personagem inventada pelo dramaturgo, como a de Mortimer. O acto termina com o diálogo dos dois, precipitado, talhado em frases curtas. O atentado é um facto. Sauvage, um dos conju­rados, vibrou o golpe. É necessário fugir. Mor­timer não compreende, pois, se Isabel está morta, Maria subirá ao trono.

—Morta? Quem vo-lo disse?... Vive. Eu e vós é que somos homens mortos—replica Okelly.

Trata-se da façanha de mais uma vítima da propaganda jesuítica, que errou o golpe.

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— Foi o barnabita de Tóulon—explica Okelly —que na capela tão absorvido nos pareceu em seus pensamentos, quando o monge nos leu o anátema do papa contra a rainha. Quis tomar o caminho mais rápido e mais curto. Por um rasgo audacioso, pretendeu libertar a Igreja e ganhar a palma do martírio. Só ao padre con­fiou o seu projecto e pô-lo em execução na es­trada de Londres.

Okelly diz o seu propósito de se ocultar nas florestas do norte, enquanto Mortimer resolve ficar e tentar um último esforço para a salvação de Maria Stuart.

IV

No quarto acto, o logar da scena volta a ser o palácio de Westminster (uma antecâmara), e Isabel, a segunda heroína i do drama, ocupa novamente o centro da acção.i



È este o momento —parece-me—de fazer notar o equilíbrio com que se mantém a cons­trução da Maria Stnárt, a que já de passagem aludi, e que acusa exuberantemente a mes­tria do poeta em matéria de carpintaria teatral, como hoje se usa dizer. Na verdade, a divisão do drama nas suas partes componentes é de um equilíbrio que os críticos e comentadores não

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lêem cessado de elogiar. No primeiro, como no quinto acto, é a figura de Maria que domina a scena: no primeiro, sentindo-se ainda rainha, animada pela esperança de reconquistar a liber­dade e o trono, de reassumir o;papel político a que, pela sua jerarquia e posição anteriormente ocupada, se julgava com direito; no último, perdidas todas as ilusões, mas sentindo-se sem­pre rainha, iluminada pela auréola do martírio, aceitando com resignação duma grandeza ver­dadeiramente trágica, o destino que lhe estava reservado. No segundo e no quarto actos, ê Isabel que ocupa o primeiro plano na intriga amorosa e na intriga política. Maria, no entanto, embora ausente, perdura no espírito do especta­dor, e através da urdidura, como a verdadeira heroína. No terceiro acto, ponto médio e nodal da intriga^ as duas inimigas encontram-se no centro da acção. Se Isabel ainda aparece no curto quadro final, é subsidiariamente, episodi­camente, para pôr fecho a uma das; sub-acções do drama—a intriga com Leicester, é para com­pleto desenvolvimento dos dois caracteres: o da rainha e o do favorito. A. justificação desse qua-dro-epílogo, aliás, virá a seu tempo.

Afigura-se-me que a acção total do drama pode ficar assim esquematizada:



Acção principal: rivalidade das duas

nhãs e suas consequências: cativeiro, julgamento e morte de Maria. Factos

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históricos, mais ou menos desvirtuados pelas exigências da ficção poética e da técnica teatral.



Sub-acçâo (A): episódio da intervenção de Mortimer, personagem não histórica; intriga amorosa e política, de mera in­venção do poeta, tendo como base his­tórica um facto análogo—a conjuração de Bothwell.

Sub-acçâo (B): episódio da intervenção de Leicester no julgamento e sua aventura amorosa com Maria Stuart, igualmente de mera invenção do poeta, e natural­mente sugerido por um facto real, mas remoto — o projecto de casamento dos dois, anteriormente à união com Darnley.

Concatenarão das sub-acções (A) e (B): riva­lidade dos1 dois amorosos da Stuart, Leicester e Mortimer.

Divisão do assunto:

ACTO I. Figura central: Maria. Lugar:-a prisão.—Exposição do assunto. Começo da sub-acção A.

ACTO II. Figura central: Isabel. Lu­gar: o palácio rial de Westminster.— Prossegue a acção principal: intriga po­lítica. Concatenação das sub-acções.

ACTO III. Encontro de Isabel e Maria. Lugar: o parque do castelo de Fotheringhay.—Ponto nodal da intriga: entrevista das duas rainhas, preparada por Leicester (l.a parte). Desenvolvi-

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mente da sub-acção A: conjuração de Mortimer (2.a parte).

ACTO I V.* Figura central: Isabel. Lugar: o palácio rial.—Prossegue a ac­ção principal: intriga política; o episó­dio da assinatura da sentença. Fecho da sub-acção A: fim trágico de Mor­timer.

ACTO V. Figura central: Maria. Lugar: a prisão. — Fecho da acção prin­cipal.

Quadro-epílogo: Isabel. Palácio rial. Fecho da sub-acção B: fuga de Leices-íer; despeito de Isabel.

No quarto acto, de que passamos a ocupar--nos agora, continua o desenvolvimento da acção principal, com o episódio histórico da assinatura da sentença de pena capital; e a sub-acção (A) encontra o seu fecho — o suicídio de Mortimer.

Após o atentado contra Isabel, o conde de Aubespine, enviado da França, acorre ao palá­cio de Westminster, para se informar da saúde de Sua Magestade. A fingida solicitude do diplo­mata não ilude os conselheiros. Leicester acen­tua rudemente que o acto se não deve a um inglês, mas sim a um vassalo do rei de França. Burleigh, naturalmente, mais rude se mostra ainda. Quando o enviado solicita o favor de, em nome do seu rei, apresentar pessoalmente as felicitações à rainha, o ministro (que tem orde-

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nado, em sua presença, que «a ordem de exe­cução capital seja imediatamente redigida e chan­celada) significa-lhe ser inútil dar-se a esse tra­balho. Áubespine insiste: diz saber quais os seus deveres, ao que Burleigh replica : «O vosso dever é deixar a ilha o mais depressa possível.»

Áubespine pretende reagir. Qual o seu crime? Espera que as prerrogativas dos embaixadores o protejam. Protegem,.confirma Burleigh, mas não os que traíram ò Estado. E menciona os artigos de acusação: no bolso do assassino en­controu-se um passaporte assinado pelo enviado francês; foi no próprio palácio deste que o mesmo assassino se confessou antes da execução do atentado; esse palácio está aberto a todos os inimigos da Inglaterra. Áubespine ainda tenta a ameaça: o seu monarca rasgará o tratado há pouco concluído.

— A rainha rasgou-o já — afirma o conse­lheiro de Isabel. — A Inglaterra não pactuará uni casamento com a França.

E, voltando-se para Lord Kent, encarrega-o de conduzir o conde francês, responsabilizan­do-o pela vida deste, ao navio em que deve em­barcar: o povo assaltou-lhe o palácio, onde en­controu um arsenal completo, e ameaça dar-lhe a morte, se o houver às mãos.

Na scena seguinte, estala abertamente o con­flito entre Burleigh e Leicester. Burleigh triunfa: os factos vieram dar-lhe razão. O despeito leva Leiscester a encetar a pugna com a ironia ace­rada duma frase: «Assim, sois vós mesmo a

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quebrar ã aliança que de iniciativa própria e tão afanosamente forjastes!»

Cecil Burleigh afirma a pureza das suas in­tenções. «Mas Deus não o quis assim. Feliz aquele que não tem coisa pior a pesar-lhe na consciência I»

A frase é intencional. Leicester pressente o
ataque e pretende parar o bote com um golpe
de audácia: «Conhecem-se bem os ares de mis­
tério que Cecil assume, dando caça aos crimes
contra a segurança do Estado. Os tempos que
correm são de prosperidade para vós, Lord.
Produziu-se um atentado horrível e os seus
autores permanecem na sombra. Vai abrir-se
um tribunal de inquisição. As palavras e os
olhares vão ser pesados; os próprios pensa­
mentos serão citados perante o tribunal. E como
sois o homem de maior .ponderação, o Atlas do
Estado, a Inglaterra vai repousar nos vossos
ombros.» '

Ironia por ironia. Burleigh também sabe manejar a arma: «Em vós, Milord; reconheço o meu mestre. Uma vitória semelhante à que a vossa eloqitência soube alcançar nunca poderá a minha obter... Fostes vós que soubestes atrair a rainha ao castelo de Fotheringhay,.. E o nobre papel que lhe fizestes representar ali T O magnifico triunfo que preparastes àquela que ingenuamente se vos confiou! Boa princesa, insultaram-te sem rebuço, insolentemente;! entre­garam-te... Era um plano hábil, de extraodiná-

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ria agudeza! Pena é que tenha sido tão bem afiado e se lhe haja quebrado a ponta.»

Burleigh, a velha raposa de chancelaria, acaba de atingir o alvo ; o adversário sente-se tocado, e ao tom chocarreiro de há pouco sucede a explosão de cólera: «Mesquinha criatura! Segui-me de pronto! Diante do trono da rainha é que heis de dar-me inteira satisfação.»

E Cecil Burleigh, com firmeza: «Lá me en­contrareis. Mas atentai, Milord, que vos não faleça a eloqítência!»

Segue-se um curto solilóquio de Leicester, que se surpreende adivinhado, sem salvação possível, nada esperando da misericórdia da soberana; o intrigante saberá insinuar que foi ele quem armou «a mão do assassino, que veio alçar-se, sangrenta, terrível, como um destino imprevisto e monstruoso.»

O caracter de Leicester continua a desen­volver-se em traços firmes, e, no diálogo subse­quente, vai recortar-se em toda a hediondez que lhe atribuiu o poeta. A figura do tablado excede muitíssimo, em abjecção, a personagem; his­tórica.

O pavor que o empolgara, e que transpa­rece no monólogo aludido, recrudesce violenta­mente quando se lhe antepõe a figura de Mor-timer, que se aproxima furtivamente, numa viva agitação: — «Conde Lester, sois vós? Esta­mos sós?»

O favoriio quere forçar o moço conjurado a partir imediatamente, recusando ouvi-lo, acen-

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tuando que o não conhece, que nada tem dê comum com assassinos. O outro persiste em avisa-lo: Burleigh foi a Fotheringhay, proce­deu a uma busca rigorosa e está de posse dum começo de carta, dirigida a Leicester pela Stuart, em que esta renova a promessa da sua mão e lhe recorda o retrato. E Mortimer, tentando um último esforço em prol da prisioneira; exorta o interlocutor a aproveitar o momento, a tomar a dianteira, a desculpar-se com juramentos, a afastar o perigo supremo, porquanto ele, Mor­timer, já nada pode fazer; os seus companhei­ros estão dispersos, «o feixe da conjuração quebrou-se»; parte no entanto para a Escócia, onde espera retinir novos amigos. «Agora, tpca--vos a vez. Tentai o que pode a vossa influên­cia, o que pode uma cabeça audaciosa I»

As palavras do moço aventureiro surtem um efeito inesperado. Leicester, que, vendo-se perdido, se movia arrebatadamente pela câmara, pára de súbito, «de súbito calmo e decidido»— marca a rubrica. «É o que vou fazer»—clama. E chama o oficial da guarda, a quem entrega aquele traidor do Estado, recomendando que o vigie bem. «Descobriu-se a mais vil das conju­rações; vou eu próprio anuncia-la à rainha».

E deixa o antigo cúmplice entre os soldados da guarda. «Quem me mandou confiar nesse miserável? — diz este. — Foge, caminhando-me sobre a nuca. A minha queda vai servir-lhe para construir a ponte que o ha de salvar!»

Quando o oficial se adianta para o deter,

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Mortimer profere as suas frases finais, frases á Schiller, dum acentuado sabor romântico, desse Romantismo de que o poeta estava sendo um dos mais geniais arquitectos: «Que queres tu, escravo venal da tirania? Rio-me de ti, sou li­vrei. .. Bem-amada, se não pude salvar-te, quero ao menos dar-te um exemplo másculo. Maria, minha santa, reza por mím e toma-me por com­panheiro na vida celeste!» E apunhala-se.

(Continua.)

angelo ribeiro.


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